Correio Braziliense
postado em 27/03/2020 04:04
Funcionários públicos estão reagindo à proposta do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de reduzir de 15% a 20% os salários de servidores no período de crise econômica provocada pela pandemia de coronavírus. Segundo Maia, o corte — que incluiria parlamentares — seria proporcional ao ganho de cada um. Porém, seriam preservados os que têm menores salários, bem como funcionários da saúde e da segurança pública.
Presidente da Associação Nacional dos Advogados Públicos Federais (Anafe), Marcelino Rodrigues afirmou que grande parte dos servidores públicos continua realizando suas atribuições, sem redução no tempo ou na carga do trabalho. “A fala do Maia é muito mais para inglês ver. Ele mesmo diz que é simbólico, pois, efetivamente, isso não vai solucionar nada. A ordem de investimento é de centena de bilhões de reais. Se você conseguir R$ 2 bi com servidores vai ser muita coisa”, argumentou.
Rodrigues disse que a medida contaria o que se vê em outros países, como o Reino Unido, que procura garantir salários, e nos Estados Unidos, que propõem uma renda básica. “Especialistas pedem fomento da economia. A gente continua pagando funcionários, escola dos filhos. E com corte, vai deixar de pagar serviços”, afirmou. Segundo ele, seria mais efetivo taxar a renda dos mais ricos.
Sérgio Ronaldo da Silva, presidente da Confederação dos Trabalhadores do Setor Público Federal (Condsef), refutou a ideia. “Não é conveniente falar em uma proposta como essa nesse momento crítico. O Supremo já disse que é inconstitucional a redução de salário do funcionalismo”, argumentou.
A Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB) soltou nota criticando a medida e afirmou que apresentará “melhores estratégias (jurídicas e políticas) para evitar cortes salariais da categoria”.
Rodrigo Maia voltou a tocar no tema, ontem. “O Brasil vai ficar mais pobre, todos vão precisar contribuir, e o setor público vai contribuir. Todos vão ter que organizar as contas em relação a uma nova realidade. No setor privado ou público”, afirmou.
Oposição
A líder do Psol na Câmara, Fernanda Melchionna (RS), não descarta a redução de salários de parlamentares e da alta cúpula dos poderes, mas afirma que a medida não deve servir para penalizar professores e outras categorias. “Não vamos aceitar pegar carona nisso para reduzir salário de servidores, de médicos, de enfermeiros, professores, que já ganham pouco”, disse. Ela também defendeu a taxação da parcela mais rica da sociedade como uma solução mais efetiva para gerar recursos.
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