Correio Braziliense
postado em 28/03/2020 04:04
Em carta encaminhada, ontem, ao presidente da República, Jair Bolsonaro, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) propôs o isolamento vertical como forma de combater a propagação da Covid-19. Dentre as ações sugeridas, está a realização de exames rápidos a cada 15 dias, nos 9,4 milhões de trabalhadores industriais. A entidade se prontificou a ajudar na implementação desse formato de quarentena apenas para pessoas do grupo de risco e de contaminados pelo novo coronavírus.“A evolução de casos da Covid-19 na Coreia do Sul e na Alemanha demonstra que, se bem executada, essa é uma estratégia eficiente para promover o achatamento da curva de propagação do vírus, preservar vidas e reduzir a pressão sobre o sistema de saúde”, justificou o presidente da CNI, Robson Andrade. “Ao mesmo tempo, facilita a retomada, ainda que gradual, das atividades produtivas”, acrescentou.
O documento também foi encaminhado aos presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). No texto, a CNI argumenta que o isolamento vertical requer forte coordenação entre os setores público e privado. Para isso, propôs uma parceria com o governo, por meio da qual o Serviço Social da Indústria (Sesi) se compromete a capacitar e dar assistência para a realização de testes rápidos contra a Covid-19, custeados com recursos federais, para 100% dos cerca de 9,4 milhões de trabalhadores da indústria, a cada 15 dias, com isolamento social apenas de pessoas com exame positivo.
Além disso, seriam realizados exames moleculares (PCR, conhecidos como “contraprova”) para verificar falsos positivos da Covid-19. De acordo com o presidente da CNI, é importante que sejam feitos testes rápidos nos pacientes sem sintomas, “pois acredita-se que 80% da população infectada apresenta poucos ou nenhum sintoma da doença, sendo responsável pela maioria das contaminações locais”. “Trata-se de uma estratégia complexa, mas possível e, no caso do Brasil, necessária, pois as empresas e os cidadãos não terão fôlego financeiro para resistir por um período prolongado de isolamento social horizontal”, alertou.
Plataforma
Outras medidas são a criação de uma plataforma on-line para manejo clínico do novo coronavírus em uma rede de atenção primária e de parceiros privados, e de um fundo de aval, com recursos no valor de R$ 500 milhões, que seriam aportados pelo Sesi, para financiar capital de giro das indústrias de micro, pequeno e médio portes, com faturamento anual até R$ 10 milhões. “O objetivo é contribuir para a provisão de liquidez das empresas industriais, durante o período de retração das atividades empresariais, que não sabemos quanto tempo vai durar”, disse.
Ainda segundo o presidente da CNI, a prioridade máxima são as ações para preservar vidas, seguindo sempre as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) com relação à Covid-19. “Entretanto, é crucial que nos preocupemos também com a sobrevivência das empresas e a manutenção dos empregos”, ressaltou.
A carta está em consonância com a defesa da CNI de eliminar restrições à produção e ao transporte de cargas. A entidade considera imprescindível a garantia de operação das fábricas e condições para o transporte de produtos e insumos, a fim de enfrentar a crise do coronavírus. “Mesmo com dificuldades, as indústrias estão conseguindo se adaptar, mas as amarras precisam ser eliminadas rapidamente sob o risco de que o abastecimento seja comprometido.”
Entre os exemplos para sustentar sua posição, a CNI enumerou alguns pontos: o tratamento de água depende diretamente da disponibilidade de produtos químicos; a produção de alimentos requer insumos da mineração; e sem embalagens não é possível disponibilizar alimentos às pessoas. “As cadeias de produção são complexas e qualquer julgamento equivocado sobre a ‘essencialidade’ de um determinado insumo pode interromper cadeias inteiras de fornecimento”, explicou.
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