Correio Braziliense
postado em 01/04/2020 04:34
Cinco entidades do varejo se uniram para reclamar junto ao Banco Central e ao Ministério da Economia dos aumentos de 50% a mais de 70% nos juros corados pelos bancos nas operações do varejo, como capital de giro, conta garantida, antecipação de recebíveis e outros empréstimos. Elas também se queixam da dificuldade de acesso ao crédito, antes mesmo da operacionalização dos pacotes anunciados pelo governo para dar liquidez ao mercado, como se os bancos estivessem aumentando mais o juro agora para reduzir pouco depois.
A queixa foi formalizada numa carta assinada pela Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), pelo Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), pela Associação Brasileira de Franchising (ABF), pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e pela Confederação das Associações Comercial e Empresariais do Brasil (CACB). Segundo os empresários, os bancos não querem aceitar correr riscos.
De acordo com o presidente da Abrasce, Glauco Humai, os empresários estão tendo dificuldade para obter empréstimos com juros mais baixos, como deveria ocorrer em consequência das medidas apresentadas pelo governo. “Não basta anunciar. É preciso fazer o crédito e a renda chegarem ao pequeno lojista e ao pequeno empreendedor. Nesse momento de crise, é importante o governo agir, fiscalizar e orientar”, destacou. Para ele, falta o governo dar garantias que os bancos exigem para que o custo dos empréstimos caia.
Na semana passada, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, anunciou um pacote de R$ 1,2 trilhão, com ações para ampliar a liquidez do mercado, reduzindo os custos de operações dos bancos. Empresários afirmam, ainda, que existe pouca informação sobre o pacote de R$ 40 bilhões para financiar a folha de pagamento de pequenas e médias empresas. Segundo eles, nem mesmo a linha de R$ 5 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para microempresas está acessível.
Vale lembrar que os grandes bancos não tiveram prejuízo na recessão e, em 2019, lucraram cerca de R$ 80 bilhões. “O maior problema é fazer os bancos emprestarem para os pequenos e os microempresários, que têm risco maior. Em certo momento, o BC vai ter que intervir no mercado se as instituições não começarem a facilitar o acesso aos empréstimos”, avaliou o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Uma das formas para fazer isso, é continuar reduzindo a taxa básica de juros (Selic) que está em 3,75% ao ano.
A exemplo dos trabalhadores autônomos que poderão receber a renda emergencial de R$ 600 aprovada pelo Congresso na última segunda-feira, Roque Pellizzaro Junior, presidente do Serviço de Proteção ao Crédito, o SPC Brasil, reforçou que o micro e o pequeno empresário precisam ter acesso urgente a uma linha de crédito barata para pagar salários.
A data para rodar a folha de pagamento é 6 de abril e, até lá, dificilmente conseguirão acesso ao dinheiro prometido. “Estamos muito preocupados, porque falta a informação sobre como acessar o crédito”, disse Pellizzaro. “Temos um setor muito concentrado e, por isso, os juros sobem em vez de cair quando o governo amplia a liquidez do mercado”, criticou.
Representantes de entidades varejistas se reuniram ontem com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para explicar os problemas. “Não queremos brigar com os bancos, que são nossos parceiros, mas o governo precisa tomar medidas para viabilizar o acesso ao crédito e fiscalizar os abusos nas taxas de juros”, destacou Humai, da Abrasce.
“Observa-se o aumento expressivo das taxas, com médias superiores a 50% e, alguns casos, 70%, em operações habituais do varejo”, informa o texto encaminhado aos ministros. Uma das demandas é uso das redes operadoras de cartão de crédito, viabilizando a concessão de crédito com taxas mais baixas do que as praticadas. As organizações também sugerem a criação de linhas específicas de capital de giro com juros reduzidos para o varejo e o setor de franquias, prazo de 60 meses e carência de 24 meses.
Procurado, o Banco Central informou que “está analisando todos os pleitos que tem recebido”. A Federação Brasileira de Bancos e o Ministério da Economia não comentaram o assunto.
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