Economia

Pequenas mais afetadas

Correio Braziliense
postado em 05/04/2020 04:17
Um dos segmentos mais impactados pela crise da Covid-19 deve ser o das micro e pequenas empresas, responsável por 55% dos empregos do país. O presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Carlos Melles, admite que a situação não é fácil nos negócios de menor porte, apesar não estimar qual será o impacto no nível de empregos. “Não temos valores, mas sabemos que 100% das micro e pequenas empresas estão sendo afetadas pela pandemia, em maior ou menor escala. Além disso, pesquisa realizada pelo Sebrae mostra que 89% já observaram queda no faturamento em março”, revela Melles. A  redução nas receitas das empresas chegou a 69%, acrescenta.

Responsável por outra parcela importante dos empregos brasileiros, o setor de comércio e serviços também prevê perdas. “O comércio vem sofrendo bastante com essa pandemia, porque depende das pessoas que estão na rua para consumir. E vai ser difícil o setor se recuperar depois, porque até as pessoas que vinham motivadas a consumir, por conta dos juros baixos e do estímulo ao crédito, podem ficar mais receosas depois disso, sobretudo as autônomas, sem saber como vai ser o futuro”, afirma a economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Catarina Carneiro da Silva. Segundo ela, a perda de receita chegou a R$ 25,3 bilhões nas quatro unidades da federação, que correspondem a 52% do comércio nacional: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal.

Catarina diz que os comerciantes devem fazer uso da maior parte dos mecanismos disponíveis para tentar evitar um número grande de demissões. Recentemente, por sinal, o governo anunciou medidas que, segundo os cálculos do Ministério da Economia, poderiam evitar a demissão de 12 milhões de brasileiros. Entre elas, estão a possibilidade de as empresas suspenderem os contratos e reduzirem os salários dos seus funcionários nesses meses de pandemia e a criação de uma linha de crédito que vai financiar os salários pagos pelas pequenas e médias empresas por dois meses. Mas especialistas dizem que essas medidas não vão evitar a alta do desemprego, apenas amenizar o impacto.

Desgaste
“As medidas ajudam. Vão evitar que o desemprego chegue a 20%”, calcula Daniel Dique, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre). “O processo é forte. Há parada total de diversas atividades e redução significativa em outras. E esta não será uma crise curta. Então, naturalmente, haverá um fechamento de postos de trabalho”, lamenta o diretor da CBPI Produtividade Institucional, Emerson Casali.

É por isso que os analistas pedem que, quando a crise passar, o Brasil foque em medidas que contribuiam com o crescimento estrutural da economia e a retomada do emprego, em vez de perder tempo com desgastes políticos que só aumentam a incerteza dos investidores. “Será preciso retomar o caminho das reformas, porque isso pode elevar a confiança dos investidores, a produtividade da economia e a trajetória de crescimento do Brasil, gerando emprego. Se não, vamos ter só voos de galinha”, diz Felipe Sichel, da ModalMais.

Marcos Ross, da XP Investimentos, lembra, contudo, que o impacto dessas reformas pode até ser rápido na confiança dos investidores, mas deve demorar a bater no emprego. “O mercado de trabalho é um dos últimos a reagir. Prova disso é que a taxa de desemprego subiu de 7% para 13% entre 2015 e 2016, mas só caiu 2,5 pontos percentuais nos últimos três anos. Então, vai subir rápido, mas deve cair devagar. Devemos conviver com uma taxa de desemprego alta por um tempo.” 

Colaborou Sarah Teófilo

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