Economia

Montadoras reclamam da falta de acesso a linhas de crédito

Setor cobra alternativas de empréstimo do governo. Febraban sustenta que os bancos ''estão totalmente sensibilizados'', mas aguarda garantias

Correio Braziliense
postado em 08/04/2020 06:00

Represamento preocupa fabricantes, que, além da demora, reclamam até de aumento nas taxas de jurosInseguras quanto à garantia de que terão retorno dos empréstimos feitos durante a pandemia do novo coronavírus, instituições financeiras têm segurado o dinheiro liberado nas últimas semanas pelo Banco Central (BC). Mesmo com a injeção de R$ 1,2 trilhão anunciada na semana passada para facilitar empréstimos, a autoridade monetária não tem como obrigar os bancos a seguirem a recomendação. O represamento preocupa diferentes setores da economia, que, além da demora, reclamam até de aumento nas taxas de juros cobradas nas operações.

Associações representativas de montadoras cobram do governo outros mecanismos para garantir recursos na ponta final. “Se o dinheiro continuar retido, consequências podem ser graves para a economia”, alerta o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes. “Inclusive, para a geração de empregos", avalia. O setor, segundo ele, está “com muita dificuldade de acesso a linhas e com custo aceitável”.

Na semana passada, cinco entidades ligadas ao varejo enviaram uma carta aberta ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, com preocupações parecidas. Elas afirmam que os bancos têm cobrado até 70% a mais em operações de crédito habituais, como para capital de giro, e avaliam que, em momento de crise, “as medidas adotadas pelo Banco Central devem caminhar juntas com as instituições financeiras”.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou, em nota, que os bancos “estão totalmente sensibilizados” com a necessidade de que os recursos cheguem rapidamente às empresas. “Entendemos a ansiedade de diversos setores, mas é preciso compreender que esse é um processo gradual e complexo, que demanda diversas providências e, em muitos casos, envolvem mudanças regulatórias”, explicou.

Para responder aos anseios das empresas, dirigentes de instituições financeiras cobram do governo garantias de que podem oferecer crédito a condições melhores, sem risco de calote no futuro. “É de se esperar essa reação dos bancos, uma vez que o quadro econômico está muito inseguro”, avalia o analista de risco Luis Miguel Santacreu, da Austin Rating.

Campos Neto reconheceu que os bancos estão “com medo” de conceder crédito por não ser possível, ainda, medir os impactos da crise. Em videoconferência promovida pela XP Investimentos, ele garantiu que o BC vai fiscalizar os recursos liberados às instituições financeiras. “Estatisticamente, temos que dar resposta sobre quanto entrou em cada setor”, disse.

Ex-diretor do BC, o economista Carlos Eduardo de Freitas defende que o governo crie uma espécie de fundo para dividir a responsabilidade com os bancos e garanta o pagamento posterior. “Desde o início, está muito claro que a medida não funcionaria sem um seguro. É essencial”. Na visão dele, a garantia não precisa ser de 100% do valor, mas deve ser “substancial”, de pelo menos 75% de retorno. “E os financiamentos não podem ser a curto prazo. Tem que ser de três a quatro anos, no mínimo”, avaliou.

 

Reação aos cortes no Sistema S

 

O corte de 50% nas contribuições do Sistema S durante três meses, determinado pela Medida Provisória 932, provocou uma reação de parlamentares e setores da sociedade civil. A MP, publicada no final de março pelo governo no âmbito do pacote financeiro para combater o coronavírus, recebeu 118 emendas de deputados e senadores. Muitos criticam os supostos benefícios econômicos da restrição e alertam para o prejuízo aos trabalhadores e à população em geral. Além de reduzir as contribuições, a MP 932 estabelece que as entidades do Sistema S recolham 7% do valor arrecadado à Receita Federal. Esse percentual é duas vezes superior ao praticado anteriormente.

“O ataque ao Sistema S sob a justificativa de desonerar as empresas não está criando nenhum benefício econômico que garante a sustentabilidade das mesmas, pois, temos conhecimento que a economia gerada com o corte trazido será em média de R$ 700,00 reais por mês, para as empresas contribuintes, mas os prejuízos causados ao elo mais fraco da relação, que são os trabalhadores, é incalculável”, criticou o senador Izalci Lucas (PSDB-DF).

A senadora Leila Barros (PSB-DF) também saiu em defesa do Sistema S. Ela sugeriu em emenda reduzir a alíquota tributária de 7% para 1,5%. “A inoportuna duplicação do percentual da alíquota tem fins meramente arrecadatórios, sem qualquer conformidade com o momento atual e vai na contramão de todas as medidas de diminuição de custos e despesas que vêm sendo adotadas pelo Brasil no combate às consequências econômicas advindas da pandemia, de ordem mundial", disse a parlamentar.

Entidades ligadas ao setor produtivo também se manifestaram. Francisco Maia, presidente do Sistema Fecomércio-DF (Sesc, Senac, Fecomércio e Instituto Fecomércio), alertou para os danos causados pela MP 932 no Sistema S. “A iniciativa do governo federal infelizmente vai na contramão do que está sendo feito em diversos países, que têm ampliado a proteção social da população. O Sesc e o Senac continuarão a trabalhar incansavelmente para prestar serviços essenciais no Distrito Federal”. O Sesc atua em mais de 2 mil municípios e atende 5,8 milhões de clientes. O Senac, por sua vez, tem uma rede que abrange 1.808 municípios, com cursos gratuitos e formação profissional. (Com informações da Agência Senado)

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