Correio Braziliense
postado em 17/04/2020 18:10
A primeira retração da economia da China em 28 anos, de 6,8% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2020, confirmou os efeitos da pandemia do novo coronavírus, mas não assustou os mercados, que reagiram bem ontem ao dado divulgado na véspera. Como as estimativas chegavam a um tombo de até 8%, 6,8% não foi um recuo considerado tão ruim. As bolsas asiáticas, europeias e os índices norte-americanos subiram. O Ibovespa, principal índice de rentabilidade da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), teve alta de 1,51% aos 78.990 pontos.
Conforme Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset, havia duas linhas de estimativas, uma do Wall Street Journal, cuja projeção era de queda de 8% e outra da Bloomberg, com previsão de recuo de 6%. “De qualquer maneira, o mercado digeriu de maneira bem positiva. As bolsas asiáticas fecharam em alta”, disse. Segundo ele, o bom humor também refletiu a declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que programou três etapas para abrir o país e deixou para cada governador decidir como fazer a abertura.
Os principais índices asiáticos tiveram altas significativas. Os mais modestos foram os da própria China: Shangai subiu 0,66% e o A50, 1,31%. Mas, em Hong Kong, a alta do Hang Seng foi de 1,56%, o Nikkei, do Japão, subiu 3,15%, em Taiwan a valorização do principal índice foi de 2,14% e, na Tailândia, a alta do SET foi de 3,26%. O BSE da Índia subiu 3,22%, o IDX da Indonésia, 3,44%, e o Kospi, da Coreia do Sul, 3,09%,
“Os índices dos EUA subiram bem. Mas ainda há muita água para descer esse morro”, alertou o especialista. Spyer explicou que os mercados estão na segunda semana de ganhos moderados. “Esta semana também será de alta”, afirmou. “Se for olhar, o índice da Espanha, acelerou ganhos”, destacou. Os principais índices Europeus acumularam altas: o FTSE do Reino Unido, 2,82%; o CAC 40, da França, 3,42%; o Ibex, da Espanha, 1,66%; o FTSE Mib, Itália, 1,71%.
“Isso ocorreu porque a queda não foi tão forte. E tudo está pautado pela incerteza, então um erro de 6% para 6,8% não é um grave erro porque os cálculos são imprecisos. O coronavírus veio para arrasar com qualquer projeção que a gente tinha”, acrescentou Spyer. Para Marcos Ross, economista-sênior da XP, o dado é bom. “O mercado esperava uma contração de 8% e veio 6,8%. E isso é importante para o Brasil, porque a recuperação da economia brasileira passa pela recuperação da China”, afirmou.
O desempenho negativo da China deverá afetar as expectativas anuais de crescimento para a segunda maior economia mundial, que estavam na casa de 5,8%, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). A expectativa do mercado é de impacto de pelo menos 3% no PIB anual que, se confirmada, decretará o pior desempenho anual da China desde a abertura econômica em 1976.
De acordo com Fausto Godoy, coordenador do Núcleo de Estudos Asiáticos da ESPM e ex-diplomata na China, o dado não pode ser analisado de forma isolada, somente com base nas circunstâncias da pandemia. “A taxa média de crescimento da economia chinesa se acomodou em um patamar mais baixo desde 2013 por uma política de Estado. O foco do país não está mais em altas recordes do PIB, mas em se tornar a mais avançada economia mundial do ponto de vista tecnológico”, afirmou.
Segundo Godoy, os chineses perceberam um movimento do Ocidente, de voltar-se para si mesmo nos últimos anos. “Um exemplo disso foi a eleição de Donald Trump e suas posturas em política externa. A partir disso, os chineses agiram em linha com as circunstâncias colocadas no plano internacional”, avaliou.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.