Economia

União para tentar salvar empregos

Movimento Não Demita, articulado por 40 empresas de diversos segmentos, defende a manutenção dos postos de trabalho como forma de superar a crise provocada pela Covid-19

Correio Braziliense
postado em 19/04/2020 04:07
Grupo emprega cerca de 1,5 milhão de trabalhadores em todo o Brasil

 

Um grupo de 40 empresas se organizou em um movimento intitulado Não Demita para incentivar companhias a manterem os funcionários durante a pandemia de coronavírus. O manifesto foi iniciado por Daniel Castanho, presidente do conselho e um dos fundadores do grupo Ânima Educação. Ele entrou em contato com CEOs de várias companhias, que toparam integrar a iniciativa. Entre as empresas idealizadoras estão Renner, BTG Pactual, XP Investimentos, Vivo, Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, Magazine Luiza, MRV Engenharia e o Grupo Boticário.

 

De acordo com Castanho, no início da pandemia, as pessoas estavam divididas entre salvar vidas ou salvar a economia. Ele acredita que falta bom senso aos que querem o fim do distanciamento social agora. “Qual o grande motivo de a gente estar em isolamento? A curva de pessoas tem de ser menor do que a infraestrutura aguenta. Um efeito colateral disso é a economia. Não tenho dúvidas de que a gente tem de ficar em isolamento, porque se a quantidade de gente que precisa de UTI for maior do que os leitos, teremos um problema. Então, o isolamento social aumentará para quatro meses e o impacto financeiro é muito maior. É uma visão muito míope de empresários que querem que a gente volte a trabalhar agora”, afirma.

 

Ele revela que mais de 3,5 mil empresas aderiram ao movimento Não Demita. Segundo o empresário, o segmento emprega cerca de 1,5 milhão de trabalhadores em todo o Brasil. “Quem está fazendo isso acontecer são as empresas. Liguei para os CEOs das grandes empresas e iniciou o movimento. Comecei a ligar, mandar mensagem e chegamos a um grupo de 40 empresas, que estão listadas no nosso site. 

 

Apesar de acreditar que seja importante as empresas manterem os funcionários, Castanho afirma que algumas não conseguem fazer isso e são obrigadas a demitir. Mas ele acredita que aquelas que podem mantê-los têm um compromisso moral de fazê-lo. “Algumas empresas terão de demitir para salvar os empregos de outros funcionários. Aquelas que podem segurar devem manter os empregos. Tomar conta das pessoas que ajudam a construir a empresa para que depois a gente evite um colapso maior.”

 

O empresário acredita que a manutenção dos empregos é essencial para que a sociedade seja beneficiada. “Se as pessoas que dependem do salário ficam sem pagamento, elas perdem perspectiva. Você não pode nem sair de casa para arrumar outro emprego por causa da quarentena. As pessoas das comunidades, se a gente não der um auxílio, não terão o que comer. O que vai acontecer? Vai aumentar a violência, o desespero, vem um colapso social. É muito importante que a gente consiga manter os empregos”, completa.

 

O advogado trabalhista Ronaldo Tolentino, sócio da Ferraz dos Passos Advocacia, explica que o governo tem tomado uma série de medidas para incentivar os empresários a evitarem as demissões. Segundo ele, em muitos casos, é mais barato manter os funcionários do que demiti-los. “Às vezes, é importante as empresas colocarem na ponta da caneta se vale a pena demitir, porque uma série de medidas está sendo tomada para incentivar os empresários a manterem os funcionários. Se ele demitir, vai ter de pagar todas as verbas rescisórias de uma vez. Pode sair mais barato manter do que demitir”, pontua.

 

Tolentino considera importante o movimento Não Demita, pois é comum que muitas empresas desrespeitem a legislação trabalhista. Segundo o advogado, mesmo com a crise, as condições continuam as mesmas e o trabalhador pode entrar na Justiça se se sentir lesado. Se o trabalhador for demitido sem receber todas as rescisórias, a alternativa é entrar na Justiça para cobrar. Infelizmente, a gente ainda tem um alto descumprimento da legislação trabalhista. Em alguns casos, por desconhecimento. Em outros, intencionalmente”, explica.

 

*Estagiário sob a supervisão de Fernando Brito 

 

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