Economia

Sobre a falta de oportunidades

 
O país sairá mais endividado da pandemia de coronavírus, o que deve acentuar a desigualdade social. “O Brasil vai sair mais desigual do que entrou”, alerta Daniel Duque, pesquisador da área de Economia Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV). “A parte mais afetada, aquela que não pode ficar em casa no home office, que trabalha com atividades manuais, cujas empresas pararam, será demitida. O mercado de trabalho se agravará muito”, prevê.
 
Com isso, o acesso à saúde vai piorar, porque quem tem plano de saúde e perde o emprego corre para o SUS. “As estatísticas de mortalidade parecem mais concentradas em locais mais vulneráveis. Talvez, isso obrigue o governo a repensar as políticas públicas e aumentar o gasto social. O auxílio emergencial, por exemplo, não deve durar só três meses”, afirma Duque.
 
Para Cristina Mello, economista da ESPM SP, essa crise tem uma característica diferente porque a condição de desigualdade ameaça o conjunto da sociedade. “Temos desigualdade interpessoal, salarial, regional e funcional. Todas emergem da mesma questão, a falta de oportunidade. Porque se todos tivessem acesso às mesmas habilidades, seria uma questão de escolha”, avalia. “Por isso, precisamos corrigir a inacessibilidade à educação, à terra e à formação”, diz.
 
A crise também descortinou efeitos negativos da desindustrialização. “A pandemia destruiu emprego e cadeias produtivas. Para ter alguns produtos, dependemos de outros países, e o transporte está limitado. Também falta acessibilidade à informação”, enumera.
 
Segundo ela, o governo presumiu que as pessoas tivessem smartphone e celular, sem promover o acesso ao letramento digital e midiático. “Quem não sabe usar a tecnologia fica excluído socialmente.”
 
No entender de Claudio Frischtak, presidente da Inter B Consultoria, a grande questão é como o país vai encontrar uma saída. “Como o país vai resolver o endividamento e empobrecimento? Não pode ser via inflação, pois penaliza a população, nem por aumento de impostos. O que vai ocorrer, na minha opinião, é uma pressão crescente para cortar os privilégios exorbitantes que continuam existindo. Ainda que haja uma insensibilidade muito grande por parte das elites, acho difícil esses privilégios sobreviverem à crise.”