Economia

BC diz que concessão de crédito subiu 40,5% no Brasil em 2020

Autoridade monetária acredita que grande parte dessa alta está ligada às medidas de enfrentamento à crise da Covid-19

Correio Braziliense
postado em 20/04/2020 18:41
Autoridade monetária acredita que grande parte dessa alta está ligada às medidas de enfrentamento à crise da Covid-19Apesar de muitos brasileiros estarem reclamando da dificuldade em obter empréstimos durante a pandemia do novo coronavírus, o Banco Central (BC) calcula que a concessão de crédito livre cresceu 40,5% no Brasil em março. A autoridade monetária acredita que grande parte dessa alta está ligada às medidas de enfrentamento à crise da Covid-19. Porém, admite que esse crédito está mais caro. Ou seja, com juros mais altos.

Dados divulgados ontem pelo BC apontam que só na última semana de março os bancos emprestaram R$ 54,8 bilhões para as empresas e mais R$ 18,9 bilhões para as famílias brasileiras. Considerando todo o mês passado, o volume de concessões sobe para R$ 154,1 bilhões no segmento das pessoas jurídicas e para R$ 71,4 bilhões no segmento das pessoas físicas. Por isso, o BC calcula um crescimento médio de 40,5% na concessão de crédito livre, sendo 58,4% de alta nas empresas e 14,7% nas famílias.

Para o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, esses dados mostram que as medidas de capital e liquidez apresentadas pela autoridade monetária durante a pandemia do novo coronavírus têm ajudado com que o crédito chegue ao consumidor brasileiros. "Se olharmos os dados, vemos que as concessões de crédito voltaram a subir", disse Campos Neto, em live promovida pelo jornal O Estado de São Paulo nesta segunda-feira (20). 

Questionado sobre as críticas dos consumidores e empresários que ainda não perceberam essa alta dos financiamentos, Campos Neto admitiu, porém, que o Banco Central ainda pode tomar novas medidas de direcionamento do crédito durante a pandemia do novo coronavírus se julgar necessário. "Estamos monitorando, conversando com os bancos para entender quais medidas precisamos fazer. E, se for preciso, vamos fazer mais medidas de direcionamento", disse.

Ele destacou, porém, que o BC tem uma capacidade de direcionamento limitada, já que a maior parte do sistema financeiro é privada e o Congresso nacional ainda não aprovou a proposta de emenda à Constituição (PEC) que amplia o poder de fogo do BC no mercado de crédito. "Podemos fazer novos direcionamentos. Mas o sistema é privado. Você coloca o capital e os bancos direcionam. Os bancos públicos podem fazer isso melhor. E, se for aprovada a PEC [do Orçamento de Guerra] também poderemos direcionar mais e fazer um sistema melhor, se ainda houver bancos com medos de emprestarem", ponderou. 

Saiba Mais

Campos Neto também ressaltou que a ampliação do volume das concessões não significa que esse crédito está mais barato. Ao contrário, ele admitiu que os juros subiram nas últimas semanas, por conta das incertezas econômicas lançadas pelo novo coronavírus. "A concessão de crédito subiu bastante. Temos dados para mostrar isso. Mas significa que todo mundo recebeu o crédito no mesmo preço? Não. Porque estamos em uma crise e aí o custo subiu um pouco", frisou, sem, no entanto, apresentar dados sobre essa alta dos juros.

O presidente do BC ressaltou, por sua vez, que fazer o mercado de crédito funcionar de forma adequada diante da crise do novo coronavírus não é um problema exclusivamente brasileiro. Ele disse que até a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, já reclamou dessa questão. "Quando converso com meus pares dos Bancos Centrais, vejo que eles também têm dificuldade. O medo da extensão do lockdown e do impacto disso na economia não é um problema só brasileiro, é um fenômeno mundial. Mas o Brasil agiu mais cedo e fez mais direcionamento. Então, deve fluir melhor. Mas não significa que o preço do crédito vai ser igual a antes, porque agora temos um prêmio de risco maior", concluiu Campos Neto.

Selic

Roberto Campos Neto também foi questionado se, diante de todos os impactos econômicos do coronavírus, o Comitê de Política Monetária (Copom) pode voltar a cortar a taxa básica de juros (Selic), como espera o mercado financeiro. Ele tentou desconversar, dizendo que é preciso esperar a próxima reunião do Copom. Porém, admitiu que o cenário macroeconômico é bem diferente daquele que foi avaliado na última reunião do Copom e garantiu que decisões de política monetária, como um corte de juros, ainda podem ser efetivas no Brasil.

"Em nenhum momento dissemos que a política monetária não era efetiva ou que não estávamos olhando para isso. Tínhamos naquele momento uma nuvem grande. Entendemos que agora podemos enxergar com um pouco mais de clareza. Cada semana vale um ano de informação hoje em dia. E em nenhum momento achamos que a política monetária não tinha efeito", afirmou o presidente do Banco Central, logo depois de dizer que "muita coisa mudou desde a última reunião do Copom" porque "o mercado tem sido muito volátil, as mudanças de expectativa têm sido muito grandes".

Na última reunião do Copom, o BC cortou a Selic em 0,5 ponto percentual, para os atuais 3,75% ao ano. Mas, segundo Campos Neto, também decidiu que deveria agir com mais profundidade em medidas de liquidez e capital - justamente as medidas que, segundo o BC, têm favorecido o aumento do crédito no Brasil. Foi por conta disso que, desde então, o BC tem sido cauteloso ao falar de um novo corte de juros. O mercado, contudo, segue acreditando que a Selic vai cair, para servir como estímulo à recuperação econômica brasileira no pós-pandemia. E acabou esta segunda-feira com ainda mais expectativa sobre esse corte dos juros, por conta das declarações de Campos Neto, que, antes da live de O Estadão, participou de uma conversa privada com o mercado promovida pelo JP Morgan.

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