Economia

Petróleo derrete e bolsas sentem o baque

Queda na demanda por causa da recessão global causada pela pandemia do novo coronavírus e o aumento dos custos de estocagem fizeram as cotações do barril desabarem pelo segundo dia consecutivo, refletindo nas ações brasileiras negociadas em Nova York

Correio Braziliense
postado em 22/04/2020 04:04



As principais bolsas internacionais encerraram o pregão de ontem no vermelho abaladas pelo derretimento dos preços do barril do petróleo. A queda na demanda devido à recessão global que está se formando provocada pela pandemia da Covid-19,  aumentou os custos de estocagem. Com isso, as cotações da commodity desabaram como jamais visto antes.

Um dia após ficarem abaixo de zero pela primeira vez, os contratos futuros para o óleo tipo WTI (West Texas Intermediate), referência no mercado dos Estados Unidos, foi negociado em Nova York a US$ 11,57, com desvalorização 43,4% para entrega em junho, valor sem precedentes desde criação desses contratos futuros, em 1983. Já o contrato para maio, que venceu ontem para entrega até sexta-feira, registrou alta de 126,8% sobre o fechamento negativo da véspera, cotado a US$ 10,01 o barril, valendo menos do que uma pizza.

As bolsas norte-americanas encerraram o dia no vermelho. Apesar de a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) estar fechada, ontem, devido ao feriado de Tiradentes, os papéis das empresas brasileiras negociados em Nova York registraram queda. O índice Dow Jones, recuou 2,67%, e o Nasdaq encolheu 3,48%. O fundo EWZ, que representa as ações das empresas brasileiras na bolsa norte-americana, teve retração de 3,3% e continuou caindo 0,8% após o fechamento. Os ADRs (American Depositary Receipts) da Petrobras e da Vale chegaram a desabar mais de 4% durante a tarde, mas encerraram com quedas de 3,5% e 2,5%, respectivamente.

Na Europa, onde o petróleo tipo Brent é negociado e serve como base para os mercados internacionais, as bolsas fecharam a terça-feira no vermelho, a exemplo dos mercados asiáticos. Londres cedeu 2,96%. Paris encolheu 3,7% e Frankfurt, 3,99%. Madri recuou 2,88% e Milão, 3,59% e Tóquio, 1,97%.

Novo alerta

O barril do petróleo tipo Brent chegou a ser negociado abaixo de US$ 20, disparando novo alerta no mercado. A queda para os contratos com vencimento em junho foi de 24,4%, a US$ 19,33 o barril, menor valor desde 2002. Para operadores, os governos agora deverão começar a se preocupar também com a indústria petrolífera e desenhar pacotes de socorro para evitar a quebradeira de empresas, que passaram a operar no prejuízo. A preocupação é com o fim de junho, quando os novos contratos vencerem, com preços voltando ao negativo.

Na tarde de ontem, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, escreveu nas redes sociais que pediu ao seu gabinete um plano para socorrer a indústria petrolífera norte-americana. A sinalização de Trump foi um alento para os operadores.

“Petróleo abaixo de US$ 20 não beneficia ninguém. O preço e o consumo estão caindo juntos, e esse movimento é diferente do que ocorria no passado, quando a cotação caia e a demanda, subia. Agora, os dois caem. O mercado está irregular e não consegue se corrigir. A saída vai ser uma intervenção dos governos”, explicou o especialista em energia Adriano Pires, diretor do Centro de Estudos de Infraestrutura (CBIE).

O analista  lembrou que a queda nos ADRs da Petrobras refletem um pouco esse cenário, uma vez que o custo de equilíbrio do petróleo na região do pré-sal atualmente está entre US$ 30 e US$ 35. “A estatal vem diminuindo a produção, reduzindo jornada, cortando investimentos e adiando o programa de venda de subsidiárias para tentar sobreviver a essa crise, mas o governo brasileiro terá que intervir também”, alertou.

Com as incertezas de quando a crise do coronavírus será resolvida, a tendência é  de que os preços do petróleo continuem caindo, na avaliação de Pires. Ele lembrou que a cotação negativa do WTI, decorre do fato de o custo da estocagem  e do transporte estarem maiores do que o preço da commodity.

Pires observa que o momento atual é totalmente atípico e os governos terão que pensar em soluções keynesianas para socorrer a economia e a indústria de petróleo, apesar da resistência da atual equipe econômica. “Não haverá saída e o custo vai ser muito mais alto do que o governo brasileiro está prevendo. É só olhar para a Alemanha, que gastará 50% do PIB. Sempre digo que não tem ateu em trincheira e nem ideologia na crise. O momento é crítico, os gastos precisam ser feitos, mas com cautela. Depois que a crise passar, se voltará a pensar em fazer ajuste fiscal”, explicou.

Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset, acredita que a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) deve abrir hoje em queda, ajustando o tombo das bolsas americanas e dos ADRs brasileiros. Ele também acredita que haverá uma intervenção no mercado. “Se os Estados Unidos não intervierem e as economias não reabrirem, a tendência é de que o petróleo fique pressionado para baixo, porque está caríssima a estocagem, já que os reservatórios estão cheios”, afirmou.

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