Economia

Crise no petróleo pressiona Petrobras

Segundo especialistas, a operação da estatal é rentável com o petróleo acima de US$ 30, mas companhia poderá enfrentar problemas financeiros se o barril ficar abaixo desse patamar. Analistas não descartam o risco de a cotação da commodity voltar a ficar negativa

Correio Braziliense
postado em 23/04/2020 04:04
Preço médio do litro de gasolina em Brasília era de R$ 4,55, em 1º de março. Hoje, é possível encontrar o combustível a R$ 3,29


Enquanto os preços do petróleo derretem com a queda da demanda e o estoque elevado devido à recessão global provocada pela Covid-19, a Petrobras não escapará da crise se o barril do óleo ficar abaixo de US$ 20 por um período prolongado. Analistas não descartam a possibilidade de a cotação da commodity voltar a ficar negativa no fim de junho, como aconteceu com o WTI (West Texas Intermediate), referência nos Estados Unidos, nessa segunda-feira.

Pelas estimativas de especialistas ouvidos pelo Correio, a operação da estatal é rentável com o petróleo acima de US$ 30. Eles destacam que a companhia poderá enfrentar problemas financeiros se o barril ficar abaixo desse patamar. E não descartam, inclusive, um socorro da União, que é o controlador da petrolífera. Logo, os tempos do barril acima de US$ 100 não devem voltar tão cedo. Tanto que, as expectativas mais otimistas apontam para a cotação chegando a US$ 40 no fim do ano.

Ontem, o barril do WTI para entrega em junho subiu 19%, fechando a US$ 13,78. Em Londres, o petróleo tipo Brent, usado como referência no mercado internacional, avançou 5,4%, para US$ 20,37, nos contratos para entrega em junho. Apesar dessa alta, ontem, especialistas demonstram cautela e avisam que o momento não é de otimismo em relação ao petróleo, porque as reservas do produto nos EUA subiram acima do esperado na semana passada, confirmando o colapso na demanda.

O plano de investimento da Petrobras deve continuar sendo revisto, porque as projeções consideravam o barril do Brent a US$ 63, segundo analistas. Eles avaliam que a redução da produção em 200 mil barris diários e o corte de 30% nos investimentos previstos para este ano, para US$ 8,5 bilhões, podem não ser suficientes para compensar as perdas que estão por vir. “No curto prazo, a Petrobras está reduzindo a produção, porém, em ritmo menor do que o necessário devido à forte queda na demanda global. Além disso, alguns campos de exploração são inviáveis ao preço de Brent atual, inviabilizando o plano estratégico até 2023”, destaca Marcel Zambello, economista da Necton Investimentos.

Para piorar, nem a diversificação e nem a venda de refinarias poderão ajudar a Petrobras nesse momento crítico. E, com isso, a operação de desinvestimento pode custar caro à União se a estatal precisar de socorro para manter as operações após ela ter ajudado a incrementar o caixa do Tesouro Nacional no ano passado. Procurados, o Ministério da Economia e a assessoria da Petrobras evitaram comentar o assunto.

Situação delicada
Com o petróleo em queda livre, a Petrobras não para de reduzir o preço da gasolina. Desde terça-feira, o novo valor do litro do combustível nas refinarias passou para R$ 0,91, acumulando uma redução média de 52,3%. A demanda, no entanto, não aumenta. Enquanto isso, os papéis da companhia estão bem abaixo dos R$ 30 de fevereiro. Apesar da alta de 4,57%, ontem, as ações preferenciais da estatal tiveram queda de 44,73% no ano, e fecharam o pregão de quarta cotadas a R$ 16,68.

Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, admite que a situação da Petrobras é “bastante delicada” no curto prazo. “Se o barril do Brent continuar abaixo de US$ 30 é muito difícil pensar em uma remuneração correta para a Petrobras e isso liga uma luz amarela. O governo deve estar atento a isso também”, avalia. O economista Álvaro Villa, da Messem Investimentos, reconhece que a cotação negativa para o barril do Brent no fim de junho não pode ser descartada, porque ainda não há uma previsão de quando a atividade nas cidades vai voltar ao normal. “O petróleo é uma commodity difícil de precificar, mas, hoje em dia, com a queda da demanda forte e com a maioria das pessoas em casa devido ao distanciamento social recomendado pelas autoridades médicas, não tem consumo”, afirma.





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