Economia

Plano Pró-Brasil racha governo

Correio Braziliense
postado em 24/04/2020 04:04
Plano apresentado por Braga Neto segue na direção oposta daquilo que vinha sendo traçado pela equipe econômica


O governo rachou em relação ao Plano Pró-Brasil, lançado pela Casa Civil como salvação para a economia pós-pandemia. A proposta mal saiu do papel e recebeu críticas do mercado e da equipe econômica por ter um viés desenvolvimentista e de longo prazo, o contrário da cartilha seguida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

O chefe da equipe econômica nem apareceu no lançamento do plano idealizado pelo ministro-chefe da Casa Civil, o general Walter Braga Neto, na quarta-feira, evidenciando o atrito entre as duas pastas. A desconfiança do mercado com o comprometimento do governo em controlar os gastos, apesar da crise econômica, aumentou com essa guinada na política econômica com a proposta.

Se o Plano não tiver freios para o aumento de despesas, a saída de Guedes será inevitável, segundo fontes do mercado. As apostas voltaram com força para o balcão ontem, especialmente depois de notícias de desentendimentos entre o ministro e seu colega da pasta do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, que teria ajudando na formatação do Pró-Brasil.

Ao lançar o Plano, Braga Neto garantiu não ter qualquer semelhança com o Plano Marshall, apesar de os técnicos da equipe econômica classificarem as propostas para reativar a economia pós-pandemia como semelhantes ao programa pelo qual os Estados Unidos ajudaram a Europa a se reerguer, depois da II Guerra Mundial. Tais iniciativas estavam sendo desenhadas com o menor desembolso possível do Tesouro Nacional e, agora, o desafio será juntá-las com a proposta da Casa Civil.

O anúncio do general foi visto como um atropelo a essa agenda, ao propor um programa prevendo aumento de gastos do governo por um período de até 10 anos. A proposta foi comparada por amigos de Guedes aos antigos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs) dos governos militares. No mercado financeiro, foi até chamada de “Flerte com a Nova Matriz Econômica”.

Para o economista José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB), a proposta está mais parecida com o 3º PND do governo de Ernesto Geisel. “Por enquanto, é só uma carta de intenções. Mas os militares deram um aviso para a equipe econômica de que a cartilha de Guedes está fora”, avaliou.

Má-interpretação
Ontem, Braga Neto disse que houve “má interpretação e um desvirtuamento” do escopo do Pró-Brasil. Ao lançar a proposta, foi levantada a possibilidade da utilização de R$ 30 bilhões em investimentos públicos, e de R$ 250 bilhões em contratos de concessões à iniciativa privada. O chefe da Casa Civil negou conflitos com a equipe de Guedes e estouro do teto de gastos.

“Vamos alinhar os planos. Vamos ver o que o pessoal quer e comparar necessidade com possibilidade. Ninguém falou em estourar o planejamento já estipulado pelo Ministério da Economia”, disse. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, reforçou em teleconferência para investidores que o Pró-Brasil também terá investimentos privados. O grupo de trabalho deve realizar a primeira reunião hoje.

Interlocutores do ministro da Economia, no entanto, confirmam que a equipe econômica foi surpreendida com o anúncio. Mas afastam a saída de Guedes e a ideia de esvaziamento pasta, apesar dos rumores de divisão do ministério por causa da aproximação entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-deputado Roberto Jefferson –– que poderia levar à recriação do Ministério do Trabalho, em troca de apoio do PTB no Congresso.  “Essa divisão na pasta só ocorre se o ministro sair”, garantiu um interlocutor de Guedes. (Colaboraram Augusto Fernandes e Marina Barbosa)


“Por enquanto, é só uma carta de intenções. Mas os militares deram um aviso para a equipe econômica de que a cartilha de Guedes está fora”  

José Luiz Oreiro, economista e professor da UnB



Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags