Correio Braziliense
postado em 24/04/2020 04:04
Antes do episódio com o ministro Sergio Moro, nada mexia mais com o mercado do que a possível redução da taxa básica de juros (Selic). Desde o início da semana, quando o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, indicou que o corte de juros entrou no radar da autoridade monetária, o assunto movimenta os investidores. Afinal, a redução é vista como importante para a retomada da atividade econômica no pós-coronavírus, mas pode levar o Brasil a um cenário de juros negativos, que não soa bem para o mercado.
Os juros negativos podem virar uma realidade, pois o mercado já aposta em um corte de 0,75 ponto percentual. Corte que levaria a Selic para 3% ao ano, ou seja, para perto da inflação oficial brasileira, que nos 12 últimos meses acumula 3,3%. “Juros negativos são os juros menores que a inflação, que traz benefícios, mas também traz riscos à economia”, lembrou o diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Oliveira.
Segundo Oliveira, o primeiro impacto dos juros negativos vem pelo dólar, que já está subindo por conta dos investidores que estão precificando o corte da Selic, e tirando dinheiro do Brasil para poder buscar mais rentabilidade em outros mercados. Outro risco é que os bancos não repassem a queda da Selic para os consumidores, aumentando o spread bancário alto do Brasil.
“Muitos bancos preferem não emprestar com juros baixos em um momento de incerteza como esse. Afinal, não sabem quantas empresas vão quebrar e quantas pessoas vão ficar sem emprego depois dessa crise. O risco de inadimplência tem um peso grande na composição da taxa de juros dos bancos”, explicou Oliveira, lembrando que há consumidores reclamando do custo do crédito na pandemia do novo coronavírus.
E ainda há um terceiro risco: deixar o BC sem nenhuma carta de política monetária na manga, caso seja preciso dar um novo estímulo à economia lá na frente. “A perenidade dos juros negativos é nociva para a economia”, confirmou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
Ele lembra, porém, que o Brasil não tem histórico de juros negativos, pois que nem a Selic nem a inflação costumam ser tão baixas por aqui. Por isso, diz que parece ser um risco temporário que vale a pena correr.
“Os juros são um mecanismo de estímulo, que podem colaborar com a retomada da economia no pós-coronavírus. É certo que não é suficiente e não será a salvação. Mas, neste momento, precisamos de diversas ações estimulativas. E esta é uma delas”, defendeu o economista, que prevê o corte de 0,75 ponto da Selic, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para o início de maio. (MB)
“Muitos bancos preferem não emprestar com juros baixos em um momento de incerteza como esse. Afinal, não sabem quantas empresas vão quebrar e quantas pessoas vão ficar sem emprego depois dessa crise”
Miguel Oliveira, diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade
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