Correio Braziliense
postado em 24/04/2020 04:04
Após interromper as operações em 23 de março devido à pandemia da Covid-19, a Fiat Chrysler Automóveis (FCA), maior empresa do setor automotivo brasileiro, está se preparando para voltar às atividades de forma gradual a partir de maio. No entanto, o presidente da companhia para a América Latina, Antonio Filosa, adianta que houve uma queda de 85% nas vendas em abril. Para o ano, a previsão é de uma queda de 40% nos negócios da montadora no país. “A indústria automobilística será afetada, em termos de volume. Na nossa visão, o Brasil vai ter queda de 40% em volume e a Argentina, 50%”, adiantou Filosa, em entrevista ao Correio.
O executivo italiano responde pelas operações da FCA no Brasil, na Argentina, na Venezuela e no México. Ao todo, a companhia emprega 26 mil funcionários, dos quais 22 mil no Brasil. Na Argentina, as atividades da companhia tiveram queda de 100% neste mês devido ao fechamento das fronteiras do país. Pelas previsões da Fiat, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial deverá encolher 3%, mesmo percentual previsto para o Brasil. Já a Argentina deverá encolher 4,5% e, os demais países vizinhos deverão sofrer uma retração entre 2,5% e 3%.
Filosa informou que, diante desse cenário recessivo e de paralisação das atividades e das vendas, os lançamentos previstos para este ano foram adiados. Os investimentos foram postergados em 12 meses para recompor o caixa da empresa. O grupo tinha um plano de investimento no país de R$ 14 bilhões até 2024 e estendeu programa para 2025. A FCA pretendia lançar três veículos no país em outubro, no Salão do Automóvel, que foi adiado para 2021. Os novos modelos de carros, sendo um elétrico e dois híbridos, deverão ser lançados apenas no ano que vem.
Dificuldades de caixa
Por sinal, uma das grandes dificuldades do setor que representa 18% do PIB industrial em meio a essa crise é obter crédito para financiar o fluxo de caixa, de acordo com o executivo italiano. “Esse é um problema que as mais de 7 mil empresas do setor estão passando. Como as fábricas estão paradas e as concessionárias fechadas, não há vendas e, portanto, não há receita. Mas as empresas precisam pagar os fornecedores, os salários e os serviços, como energia e água”, explicou.
“Está sendo muito difícil negociar crédito com bancos privados, porque eles enxergam uma situação de risco maior e possuem dificuldades técnicas para oferecer crédito para a operação”, destacou Filosa. Ele defendeu um suporte maior do governo em garantias para setor quem emprega 1,2 milhão de pessoas. “As empresas estão coletando dados, e as entidades estão em diálogo com as autoridades para buscar uma solução que permita oferta de crédito para financiamento do fluxo de caixa”, acrescentou.
Filosa contou que a montadora fez acordo com os sindicatos para reduzir a jornada em 20% e diminuir em 10% a 20% os salários para essa retomada das atividades. Segundo ele, o acerto com os empregados só foi possível graças à Medida Provisória 936, publicada no último dia 1º, e que permite a redução de salários e da jornada em até 70%. “Estamos conseguindo manter os empregos, e o acordo prevê estabilidade até outubro ou novembro”, garantiu.
Novos paradigmas
De acordo com o executivo, a crise global provocada pelo novo coronavírus está mudando paradigmas e a forma como a empresa lida com os funcionários e com os fornecedores. “Estamos trocando experiências e sugestões de procedimentos e práticas de prevenção ao coronavírus”, contou. A montadora vem tomando precauções adicionais para a segurança dos trabalhadores, desde o transporte até a fábrica, comprando máscaras e equipamentos de proteção para os funcionários. “Vamos adotar medidas de distanciamento e medir a temperatura de todos que entrarem nas unidades fabris e mandaremos para casa quem estiver com febre”, exemplificou.
A companhia ainda está fazendo um estudo de comportamento tanto dos funcionários quanto dos consumidores. “Ninguém vai mais agir como estava acostumado antes de haver normalização, seja no ambiente de trabalho, seja nos hábitos de consumo. E precisaremos entender melhor como é que vai ser isso, para traçar novas estratégias e desenvolver novos produtos para esse público”, explicou. “Haverá novos padrões de consumo e novas ferramentas na saída dessa crise”, apostou.
Filosa evitou fazer comparações sobre a evolução da pandemia de Covid-19, mas reconheceu que a crise é grave e os cuidados com o distanciamento social são importantes enquanto não há uma vacina para a doença. “Esse vírus é novo e precisa ser estudado a fundo e, por isso, é importante adotarmos medidas que outros países estão adotando na prevenção e nos processos de abertura gradual”, avaliou.
Apesar de estar com as fábricas paralisadas, a Fiat tem trabalhado no combate ao coronavírus, por meio da capacitação de funcionários e da adaptação de unidades para a manutenção de respiradores. Também tem ajudado na construção hospitais de campanha e no fornecimento de equipamentos nas cidades onde atua, como Betim (MG), Goiana (PE) e Córdoba (Argentina). Há pouco mais de uma semana, entregou um hospital de campanha com 200 leitos no Fiat Club de Betim, construído e parceria com a prefeitura, e que já está funcionando. Em Pernambuco, está sendo construído uma unidade com 100 leitos. “A Fiat é uma razão social e estamos fazendo um pacote de ações sociais onde estamos presentes”, encerrou Antonio Filosa.
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