Economia

Depois de Moro, Guedes é o próximo ministro na lista de demissão

Ainda considerado por analistas como garantidor da política fiscal do governo, ministro da Economia andou na berlinda nos últimos dias devido às divergências com Bolsonaro e com a ala militar do Planalto sobre a condução da política econômica

Correio Braziliense
postado em 25/04/2020 06:00

Guedes chamou a atenção por ser o único na entrevista de máscara protetora, não estar de terno e a gravata, e calçar par de tênis parecido com meiasO pedido de demissão de Sergio Moro do comando do Ministério da Justiça fez rodar a roleta das apostas sobre quem será o próximo integrante do primeiro escalão a desembarcar do governo Bolsonaro. As fichas estão sendo direcionadas para o ministro da Economia, Paulo Guedes, que esteve na berlinda nos últimos dias devido às divergências com o presidente e com a ala militar sobre a condução da política econômica, em meio à recessão que se forma pela pandemia da Covid-19.


A grande dúvida, no entanto, é se Guedes conseguirá continuar no cargo após a saída de um dos ministros com popularidade maior do que a do presidente. Foi ele quem convidou Moro para integrar o governo e o apresentou a Bolsonaro, lembram amigos do responsável pela política econômica. Fontes próximas a Guedes acreditam que não abandonará o barco tão facilmente, apesar de ter um temperamento explosivo parecido com o do presidente.


Assim como Moro era o pilar da confiança da sociedade de que o governo combateria a corrupção, Guedes é a sustentação junto aos investidores e aos empresários de que Bolsonaro não vai fazer as estripulias fiscais que levaram as contas públicas a registrarem deficit primário pelo oitavo ano consecutivo. Sua atuação tem limitado o espaço para novos gastos no combate à atual crise. Analistas evitam comparar Guedes com Moro.


Na avaliação de Murilo Aragão, advogado e sócio-fundador da consultoria Arko Advice, com o tamanho da crise, Bolsonaro e Guedes devem “se conciliar”. Contudo, uma das dúvidas no mercado é se o ministro botará um freio nas aspirações desenvolvimentistas do ministro-chefe da Casa Civil, general Walter Braga Netto, que apresentou o plano Pró-Brasil de retomada da economia.


O anúncio do programa deixou a equipe econômica desconcertada. Para uma fonte próxima do ministro, o maior desafio de Guedes nos próximos dias será justamente o embate entre a visão econômica liberal, defendendo o livre mercado, versus a keynesiana (linha de John Maynard Keynes, 1883-1946), mais intervencionista. “Esse embate vai se acirrado entre duas visões distintas. O ministro sabe que recuperar pelo mercado é uma tarefa que demanda vários anos, e a outra linha que está se contrapondo no governo e está ganhando força é a keynesiana, que é o modelo que os outros países estão usando. Mas o Brasil precisa tomar cuidado com os gastos, porque não tem espaço fiscal para aumentar as despesas”, destacou um economista, que pediu anonimato.

Decepção

Guedes ficou decepcionado com o Ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, que ajudou na concepção do plano de Braga Netto. Técnicos da equipe econômica contam que o programa está “mal estruturado” porque foi feito às pressas e atropelou o trabalho que vinha sendo feito pela pasta para a pós-pandemia, focando na aceleração de concessões e privatizações e na simplificação tributária. Internamente, o plano da Casa Civil é chamado de “PAC do Marinho”, em referência ao Programa de Aceleração do Crescimento dos governos petistas.


A economista e advogada Elena Landau acredita que Guedes continuará no cargo porque tem total alinhamento político com Bolsonaro. “Ele não pode ser comparado ao (ex-ministro da Saúde Luiz Henrique) Mandetta ou Moro. Se sair, é porque sabe que não entregará o que prometeu. E já não ia entregar antes da pandemia. Sair agora seria uma oportunidade para ele, pois poderia se justificar com o fato de ter sido enfraquecido com o Plano Pró-Brasil. E as promessas que fez cairiam no esquecimento”, destacou.
Analistas do mercado admitem que os resultados de ontem (leia abaixo) não refletiram só a saída de Moro, mas também a queda na confiança na condução da política econômica. André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, acredita que Guedes continua, mas estará sob muito mais pressão. “A saída de Moro dá conta de uma estratégia de aproximação de Bolsonaro com o Centrão. Mas se isso implicar em gastos fiscais extras, que o ministro Guedes não corrobora”, afirmou. “A questão da confiança agora é o que mais pesa, porque o próximo alvo teoricamente seria um ponto muito importante da política econômica”, completou o analista da Clear Corretora, Rafael Ribeiro.


Segundo um líder do Centrão que pediu anonimato, seria muito ruim a saída de Guedes neste momento. “O governo tinha deixado o ministro contrariado, mas deve procurar administrar essa agora. Já perdeu uma ponte com a sociedade (Moro) e deve tentar manter uma ponte com o mercado, pelo menos”, reconheceu.

 

 

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