Economia

Concessão de crédito vai perder força em 2020, diz Banco Central

BC acredita que, com a crise do coronavírus, os bancos vão preferir renegociar as dívidas das PMEs e das famílias brasileiras

Correio Braziliense
postado em 29/04/2020 16:17
BC acredita que, com a crise do coronavírus, os bancos vão preferir renegociar as dívidas das PMEs e das famílias brasileirasO Banco Central (BC) admitiu nesta quarta-feira (29) que a concessão de crédito para as micro e pequenas empresas e para as famílias brasileiras deve perder força neste ano. Em função da pandemia do novo coronavírus, a autoridade monetária acredita que os bancos vão preferir renegociar e reestruturar as dívidas da maior parte desses clientes, ao invés de conceder novos financiamentos. Afinal, há uma perspectiva de que a crise da Covid-19 aumente a inadimplência no Brasil.

Segundo o Banco Central, o estoque de crédito oferecido pelos bancos brasileiros às micro e pequenas empresas e às famílias brasileiras subiu quase 10% em 2019 e continuava nesse ritmo de crescimento no início deste ano por conta da melhora da atividade econômica. Essa curva de alta, porém, perdeu força pelo choque do novo coronavírus, mesmo depois de a autoridade monetária anunciar medidas monetárias que prometem injetar até R$ 1,2 trilhão de liquidez no sistema financeiro nacional. Afinal, apesar desse incentivo ao crédito, também aumentou a percepção de risco dos bancos e a busca de financiamento bancário por parte das grandes empresas.

O BC diz, então, que é possível que as grandes empresas ampliem a sua participação no mercado de crédito brasileiro neste ano. Isso porque essas empresas estavam procurando menos os bancos para se financiar, porque estavam preferindo captar crédito no mercado de capitais. Mas, como a pandemia da Covid-19 reduziu a rentabilidade do mercado de capitais, agora essas empresas devem voltar a procurar o crédito bancário. E os bancos, apesar da maior percepção de risco imposta pela crise atual, devem ser mais abertos a esses pedidos, já que as grandes empresas têm mais garantias a oferecer.

O mesmo, porém, não deve ocorrer com as pequenas e médias empresas e com as famílias brasileiras, que têm menos garantias para oferecer e, por isso, acabam tendo que arcar com um risco e com um custo maior para se financiar em momentos de crise como este. Por isso, o BC admite que, com esses clientes, o mercado de crédito deve focar nas renegociações de dívidas.

"Em relação às grandes empresas, o crédito bancário deve voltar a ser a principal fonte de financiamento, até que o mercado de capitais doméstico e internacional retornem à normalidade. Para as PMEs, o crescimento
do crédito bancário deverá perder força e, nos próximos meses, deveremos observar operações de reestruturação de dívidas para adequar a capacidade de pagamento das empresas à nova realidade", disse o Banco Central, no Relatório de Estabilidade Financeira do Sistema Financeiro Nacional, que foi divulgado nesta quarta-feira (29).

Para as famílias brasileiras, o discurso é semelhante: "A expectativa era de que a carteira de crédito para as pessoas físicas continuasse a crescer, especialmente para os recursos de origem livre, dada a tendência de continuidade do processo de recuperação gradual da economia brasileira; contudo, a expectativa atual é que, diante da Covid-19, o ritmo observado de crescimento sofra redução nos próximos semestres, aumentando as operações de reestruturação de dívidas para adequação da capacidade de pagamento das famílias", diz o relatório do BC.

O Banco Central argumenta que a desaceleração econômica causada pelo coronavírus deve aumentar o volume de Ativos Problemáticos (APs) das pequenas e médias empresas e também das famílias brasileiras. Ou seja, vai elevar a inadimplência desses clientes com o sistema financeiro nacional. E o BC acredita até que essa inadimplência pode voltar ao pico registrado após a crise de 2015.

"Em relação ao risco, o movimento de queda da carteira de APs (numerador do índice de APs) das PMEs parecia ter chegado ao fim,mas, emdecorrência da Covid-19, deve voltar a apresentar incremento nos próximos semestres, podendo superar o pico alcançado em 2017. [...] Em decorrência da Covid-19, a exemplo das PMEs, a expectativa é de aumento das reestruturações de dívidas e de elevação da inadimplência e dos APs nos próximos semestres. Este último indicador pode até mesmo superar o pico observado em 2016", afirma o BC no Relatório de Estabilidade Financeira.

A autoridade monetária garante, por sua vez, que, apesar de o avanço do crédito ter perdido força, o crédito está chegando na ponta para esses consumidores durante a pandemia do novo coronavírus, graças às medidas de liquidez que foram anunciadas pelo BC. Como os consumidores vêm reclamando, contudo, esse crédito parece estar mais caro e difícil, o que dificulta a obtenção de financiamentos por empresas e famílias que foram afetadas pela pandemia do novo coronavírus.

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O BC assegura, então, que está de olho na aplicação dessas medidas e que, se for necessário, pode vir a fazer ajustes no pacote de enfrentamento à Covid-19 para garantir que todos tenham acesso ao crédito e que essa liquidez não fique empoçada nos bancos.

O BC ainda diz que, apesar desse impasse em relação aos novos financiamentos, as medidas de renegociação e reestruturação da dívida têm sido bem sucedidas no caso das pequenas empresas e das famílias brasileiras. "Já repactuamos seis milhões de contratos, no valor de R$ 355 bilhões. [...] A prorrogação de parcelas atingiu R$ 355 bilhões até o momento. E o alívio das parcelas, nos próximos dois a seis meses, representa um alívio para as famílias e as empresas de R$ 35 bilhões", disse o diretor de Fiscalização do BC, Paulo Souza, durante a divulgação do Relatório de Estabilidade Financeira.

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