Economia

Em crise, Embraer deve receber socorro dos cofres públicos

A fabricante de aviões negociava um acordo de associação (joint venture) com a gigante Boeing, mas a norte-americana recuou na semana passada, com a justificativa de que a Embraer "não satisfez as condições necessárias"

Correio Braziliense
postado em 04/05/2020 21:02
A fabricante de aviões negociava um acordo de associação (joint venture) com a gigante Boeing, mas a norte-americana recuou na semana passada, com a justificativa de que a Embraer Depois de 26 anos de sua privatização, a Embraer, que teve acordo de fusão cancelado pela Boeing, deverá receber socorro dos cofres públicos. Mas não é a única que vai entrar no pacote que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está estudando para ajudar os setores mais impactados pela pandemia do novo coronavírus, como o aéreo e o automobilístico. O valor do empréstimo, cuja negociação deve ser realizada em junho, ainda não foi determinado, mas já foram aventados montantes entre US$1 bilhão e US$ 1,5 bilhão. 

A fabricante de aviões negociava um acordo de associação (joint venture) com a gigante Boeing, mas a norte-americana recuou na semana passada, com a justificativa de que a Embraer “não satisfez as condições necessárias”. O negócio previa o pagamento de US$ 4,2 bilhões da Boeing à brasileira. 

Procurada, a Embraer não confirmou a negociação com o BNDES, mas disse que “qualquer acesso a fontes adicionais e complementares de financiamento envolverá bancos internacionais e nacionais como sempre foi prática da Embraer”. “Desde o término indevido do MTA (acordo) pela Boeing, e dadas as condições atuais, estamos considerando e adotando medidas adicionais para preservar nossa liquidez e manter nossa sólida posição financeira, o que inclui ajustes de estoque e produção, extensão de ciclos de pagamento, redução de despesas e capex (investimento) e, potencialmente, acesso a fontes adicionais e complementares de financiamento. Não vamos comentar sobre nenhuma discussão específica de financiamento”, disse, em nota.

Uma fonte do governo explicou que o BNDES está oferecendo uma série de apoios para vários setores e percebeu, depois que a Boeing desfez o acordo, que Embraer podia entrar no modelo estudado. Segundo essa fonte, o empréstimo será em condições de mercado, com participação privada de um pool de bancos. “Não tem valor definido. Uma coisa é o que empresa pede e outra é o que vai ser definido lá na frente. Como a Embraer entrou na fila, isso deve ocorrer mais para junho”, disse. 

Assim como as outras companhias aéreas, a Embraer terá de fazer o dever de casa para receber o aporte, para que o esforço não seja apenas do governo. O empréstimo possivelmente será uma operação combinada, com financiamento com juros mais baixos em troca de uma participação caso as ações subam. “Isso ainda está na mesa”, disse a fonte do governo.

Saiba Mais

Para o consultor de aviação de civil Adalberto Febeliano, não foi nenhuma surpresa a Boeing cancelar a compra. “Já vinha numa situação delicada, com atrasos nas entregas. Depois de todo o problema do setor aéreo, com cancelamento nos pedidos de aeronaves, a Boeing terá de pedir dinheiro ao governo dos Estados Unidos. Seria muito difícil justificar pegar recurso público para comprar uma empresa estrangeira", considerou.

Da mesma forma como as gigantes Boeing e Airbus vão receber apoio dos seus governos, é bem provável que a Embraer tenha de contar com recursos públicos, na avaliação do consultor. “As empresas aéreas clientes da Embraer vão cancelar os pedidos. A companhia precisa sobreviver para garantir empregos e tecnologia, porém o Estado brasileiro fica discutindo como fazer. A falta de velocidade é muito ruim nesses casos”, alertou.

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