Economia

Produção industrial desaba 9,1% em março devido ao coronavírus

Resultado reflete o fechamento de fábricas de todo o país é pior para o mês de março desde 2002

Correio Braziliense
postado em 05/05/2020 09:45
Resultado reflete o fechamento de fábricas de todo o país é pior para o mês de março desde 2002A pandemia do novo coronavírus fez a produção industrial brasileira despencar 9,1% em março. O baque foi divulgado nesta terça-feira (05/05) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e reflete o fechamento de fábricas de todo o país por conta das medidas de isolamento social exigidas pela Covid-19.

De acordo com a  Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE, o baque de 9,1% se refere à variação da produção industrial entre fevereiro e março deste ano e é o pior para o mês de março desde 2002. Olhando para toda a séria histórica, o resultado também é o pior desde maio de 2018, quando a economia brasileira parou devido à greve dos caminhoneiros. Por isso, com essa contração, a produção industrial nacional voltou para o nível de agosto de 2003, ficando 24% abaixo do recorde registrado em maio de 2011.

"O movimento de quarentena fez com que muitas empresas interrompessem o seu processo de produção, seja concedendo férias coletivas ou paralisando as atividades por determinados períodos”, lembrou o gerente da PIM do IBGE, André Macedo. Ele disse ainda que o resultado de março impressiona pela amplitude da queda, mas também pela extensão desse movimento negativo. É que a produção industrial registrou contração em todas as quatro categorias econômicas pesquisadas pelo IBGE e em 23 das 26 atividades analisadas pela PIM.

Segundo o IBGE, a produção de bens duráveis foi a mais atingida, com uma queda de 23,5%. O resultado reflete, sobretudo, a redução da produção de automóveis, que caiu 28% em março pressionada pelas paralisações e interrupções da produção de várias unidades produtivas. "A atividade que teve o impacto negativo mais importante foi a de veículos automotores, reboques e carrocerias. O principal produto afetado, em termos de comportamento negativo, foi o de automóveis, mas o segmento de caminhões também apresenta perdas, assim como o de autopeças", contou Macedo.

Mas também houve quedas na produção dos bens de capital (-15,2%), dos bens de consumo (-14,5%), dos bens semiduráveis e não duráveis (-12%) e dos bens intermediários (-3,8%). Isso porque também houve contrações relevantes em atividades industriais como a confecção de artigos de vestuário e acessórios (-37,8%); couro, artigos para viagem e calçados (-31,5%); móveis (-27,2%); produtos têxteis (-20,0%); bebidas (-19,4%); produtos de borracha e de material plástico (-12,5%); produtos de minerais não-metálicos (-11,9%); máquinas e equipamentos (-9,1%) e até de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-10,9%) e outros produtos químicos (-4,7%).

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O IBGE lembra, porém, que a contração da produção industrial atingiu os diversos setores de maneira diferente. A queda foi mais intensa nos bens considerados supérfluos nesse momento de pandemia, mas foi menor em bens essenciais. A produção de produtos alimentícios, por exemplo, variou negativamente apenas 0,5%. E a produção de sabões e produtos de limpeza cresceu 0,7% em março.

Além disso, lembra o IBGE, deve-se levar em conta ainda que o período de confinamento não atingiu todo o mês de março e variou de acordo com cada unidade da federação naquele mês. Por isso, é provável que esse baque de 9,1% persista e fique até maior na próxima pesquisa, referente à produção industrial de abril, quando o isolamento social durou todo o mês na maior parte do Brasil, interrompendo a produção de ainda mais fábricas e por um tempo maior que o registrado em março.


Gerente executivo de pesquisa e competitividade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca admite que a produção industrial deve seguir no vermelho em abril. "O número de março não representa toda a história, porque esse processo de isolamento social começou em meados de março. A primeira quinzena do mês ainda teve uma produção até positiva, já que a economia vinha recuperando", afirmou, lembrando que, já em abril, algumas fábricas pararam a sua produção durante praticamente todo o mês.

"O mês de abril vai registrar mais uma queda. Talvez não seja um tombo tão grande, porque já descemos um degrau em março. Mas, somando as duas quedas, certamente vai ser maior que os 11% da greve dos caminhoneiros", afirmou, dizendo que essa queda deve seguir afetando mais os setores não essenciais. "Tudo aquilo que você não precisa comprar com urgência, como um vestido, um carro, um sapato, você vai adiar. Já comida, remédio e material de limpeza você tem que continuar comprando. Então, esses setores vão sentir menos", afirmou Fonseca.

O gerente da CNI garantiu, por sua vez, que, apesar dessa forte retração, o setor industrial tem conseguido preservar boa parte dos seus empregos. Segundo Fonseca, o que a maior parte das fábricas que pararam sua produção tem feito é usar as medidas de flexibilização da legislação trabalhista que foram anunciadas pelo governo federal durante a pandemia do novo coronavírus, como a possibilidade de antecipar férias coletivas, ajustar o banco de horas, reduzir salários ou suspender contratos de trabalho.

Segundo Fonseca, manter um vínculo com seus funcionários é importante para as fábricas no momento de retomada econômica. Afinal, esses funcionários já são treinados para a produção industrial e poderão voltar ao trabalho de forma rápida. O gerente da CNI lembra, por sua vez, que a reativação do setor vai depender da duração das medidas de isolamento social do país.

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