Economia

Ibovespa recua 0,51% e dólar dispara 2%, para R$ 5,70

Aumento da desconfiança na retomada da economia e no governo faz mercado ficar instável internamente e dólar bater novo recorde

Correio Braziliense
postado em 06/05/2020 17:39
Aumento da desconfiança na retomada da economia e no governo faz mercado ficar instável internamente e dólar bater novo recordeA Bolsa de Valores de São Paulo (B3) encerrou o pregão desta quarta-feira (06/05) com queda de 0,51%, a 79.063 pontos, no segundo dia da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e com as apostas convergindo para um corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), atualmente em 3,75% ao ano. Além disso, a expectativa é de que o ciclo de redução ainda não será interrompido.

Enquanto isso, diante do aumento da instabilidade interna, o dólar seguiu valorizado frente ao real, registrando alta de 2%, encerrando o dia cotado a R$ 5,704 para a venda, o maior valor de fechamento já registrado. 

A queda do Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, foi puxada pela piora nas expectativas em relação à atividade econômica e no aumento da desconfiança dos investidores tanto que a B3 continuou caindo mais de 1% no after market. 

O tombo de 9,1% na produção industrial de março deu sinais para o mercado de que o país já pode ter entrado em recessão já no primeiro trimestre do ano, ao contrário do que o ministro da Economia, Paulo Guedes, vinha dizendo que o país “estava decolando” no começo do ano.  E, para piorar, confiança dos investidores também desabou após a Fitch Ratings rebaixar a perspectiva da nota de risco dos títulos soberanos do Brasil, como fez a recentemente Standard & Poor’s.

A Fitch sinalizou preocupação com a deterioração econômica e fiscal do país e demonstrou preocupação com a renovação das incertezas políticas, apesar de manter a classificação do país em BB-, mudou a perspectiva de “estável” para “negativa”, o que pode implicar em um downgrade futuro, o que mexeu com a Bolsa nesta quarta-feira. No comunicado, a agência de classificação de risco norte-americana ainda informou que prevê retração de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e reforçou que a economia brasileira tem apresentado uma recuperação muito lenta da recessão de 2015 e 2016.

“A Bolsa caiu mais por problemas internos do que externos desta vez. A questão da Fitch piorando a perspectiva da nota brasileira foi um ingrediente adicional à  expectativa em torno da decisão do Copom. Lá fora, houve uma bateria de indicadores ruins na Europa, com revisão de crescimento e de inflação pela Comissão Europeia, e os dados de empregos privados nos Estados Unidos mostraram que o mercado de trabalho está sofrendo bastante, embora a bolsa lá tenha dado uma respirada”, comentou Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

De acordo com dados levantados por Cruz, a divisa brasileira foi a que teve a maior desvalorização entre as economias emergentes. “Enquanto boa parte do mundo compartilha do mesmo problema, enfrentar uma crise de saúde, o Brasil se destaca negativamente por também ter de enfrentar uma crise política. Isso vem refletindo em nossa moeda, dentre os nossos pares temos a maior desvalorização no ano, acima de 40%. O mais próximo de nós seriam o rand sul-africano desvalorizando 33%, peso mexicano que desvaloriza 28%, o rublo russo com 22% e a lira turca em torno de 20%”, explicou o economista.

Na avaliação do analista da RB Investimentos, antes mesmo da pandemia da Covid-19, os investidores já estavam começando a duvidar da capacidade do governo de se aprovar reformas. “Com os embates entre Congresso e o Palácio do Planalto, vemos que novos gastos recorrentes estão sendo colocados em discussão e votação, o que dificultará o controle do fiscal no médio prazo. O segundo ponto é a falta de medidas que destravem a economia brasileira, melhorando o ambiente de negócios e proporcionando mais crescimento”, destacou. “Com um fiscal mais arriscado e menos perspectivas de crescimento, o câmbio brasileiro perde mais força que seus pares ante o dólar”, acrescentou.

O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves, lembrou que os juros de títulos de curto prazo subiram nesta quarta-feira, recuperando parte da queda registrada ontem. Para ele, a desvalorização do real também refletiu a perspectiva de rebaixamento da perspectiva de  risco do país pela Fitch. “O IBovespa recuou somando a notícia do rebaixamento do rating com a forte queda no preço do petróleo tipo Brent, devolvendo os ganhos da véspera”, completou.

Saiba Mais

O barril do petróleo tipo Brent, referência no mercado internacional, encerrou cotado a US$ 29,88, com queda de 3,52% nos contratos para entrega em junho. O óleo tipo WTI registrava recuo de 1,63%, cotado a US$ 24,13 o barril para entrega no próximo mês.

Na avaliação do economista Sidnei Nehme, da NGO Corretora, o desempenho da Bolsa e do câmbio reflete o aumento do risco político no país, que fragiliza a perspectiva de recuperação de atratividade do país ao investidor estrangeiro. Esse cenário projeta, segundo ele, “maior dificuldade para retomada de fluxos positivos no câmbio e de até estagnação no programa de privatizações”.

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