Economia

Guedes busca apoio dos militares para a agenda privatizações

Ideia é focar nos investimentos privados, deixando para trás o Plano Pró-Brasil, na retomada do pós-coronavírus

Correio Braziliense
postado em 06/05/2020 20:52
Ideia é focar nos investimentos privados, deixando para trás o Plano Pró-Brasil, na retomada do pós-coronavírusO Ministério da Economia ainda está tentando convencer a ala militar do governo federal a deixar para trás o Plano Pró-Brasil - plano que prega o aumento dos investimentos públicos na retomada do pós-coronavírus e colocou em xeque a continuidade da agenda liberal do ministro Paulo Guedes. A ideia é focar no programa de desestatizações que, segundo a equipe econômica, pode atrair cerca de R$ 150 bilhões em investimento privados para o país na retomada do pós-coronavírus. 

O plano de focar nos investimentos privados, sobretudo por meio da venda de ativos e de privatizações, é defendido pela equipe econômica desde que o Pró-Brasil foi apresentado pela Casa Civil. Guedes e sua equipe argumentam que o governo não tem caixa para realizar os gastos públicos previstos pelo plano. E dizem que, para isso, seria preciso aumentar o endividamento público e ainda quebrar o teto de gastos. A possibilidade criou até um ruído de que Guedes poderia deixar o governo no mercado financeiro, o que fez o presidente Jair Bolsonaro acenar aos investidores assegurando a permanência do “Posto Ipiranga” na condução da agenda econômica.

Nesta semana, quando o mercado já estava de olho em outros assuntos, contudo, a discussão sobre a retomada da economia brasileira no pós-coronavírus voltou à tona. O assunto foi debatido no Palácio do Planalto em uma reunião entre o presidente Bolsonaro; o ministro Paulo Guedes, que levou consigo o Secretário Especial de Desestatização e Desinvestimento do Ministério da Economia, Salim Mattar; e representantes da ala militar como os ministros da Casa Civil, Braga Netto; da Defesa, Fernando Azevedo; do GSI; Augusto Heleno; da Secretaria-Geral da Presidência da República, Jorge Oliveira; e da Secretaria de Governo da Presidência da República, Luiz Eduardo Ramos. 

Na reunião, Guedes e Salim Mattar, que coordena o programa de desestatizações, privatizações e vendas de ativos do governo, apresentaram o potencial de atração de investimentos privados desse plano. Segundo eles, o programa inclui R$ 900 bilhões em ativos para serem concedidos, além de mais R$ 1 trilhão em imóveis que podem ser vendidos para a iniciativa privada. E poderia atrair R$ 150 bilhões em investimentos ainda neste ano através da venda de ativos como ações da Petrobras e da privatização de estatais como Conab, Eletrobras e Codevasf. Afinal, como já disse Guedes, o setor privado tem mais de R$ 1 trilhão disponível para investimentos estruturantes mundo afora.

Auxiliares de Guedes e Mattar confirmaram que o “Ministério da Economia está dialogando sobre possíveis estratégias para a retomada” com os demais ministérios e frisaram que “o ministro tem sido muito enfático em relação à importância do realismo fiscal”. “A retomada precisa vir via investimento privado”, reiterou uma dessas fontes. 

Técnicos da Economia também admitem, contudo, que esse valor de R$ 150 bilhões poderia ser maior caso os ativos considerados nesse cálculo fossem leiloados em outro momento. Afinal, como já expressou o próprio Salim Mattar, a crise do coronavírus provocou ainda mais incertezas nos investidores privados e pode derrubar um pouco o preço dos ativos. A secretária especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Martha Seillier, também admitiu, em live realizada nesta semana, que os próximos leilões devem ser feitos "com menos apego aos elevados valores de outorga ou elevados deságios”. 

Saiba Mais

E ainda há mais um porém nesse plano: o fato de que as privatizações precisam ser aprovadas pelo Congresso. Por isso, parte da ala militar continua achando que o governo vai precisar fazer investimentos públicos relevantes depois da pandemia do novo coronavírus. Para os militares, apesar do impacto fiscal temido pela equipe econômica, as obras públicas podem estimular a retomada da economia e do emprego e ainda poderiam ajudar o governo a conquistar apoio político no Congresso, sobretudo no Centrão.

Por isso, o embate continua no governo, apesar da aparente tranquilidade que ronda a relação do Palácio do Planalto e do Ministério da Economia desde a semana passada. De um lado, a equipe econômica garante que está alinhada em prol da agenda de privatizações e diz que está conseguindo cada vez mais apoio para essa pauta. E, do outro, os auxiliares da ala militar ressaltam: “teremos outras reuniões a respeito ainda”.

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