Correio Braziliense
postado em 11/05/2020 04:41
O mundo está sofrendo o impacto da crise de saúde, mas, no Brasil, ainda há uma crise política que eleva a incerteza sobre a retomada. À medida que o governo federal caminha na contramão da maioria das economias no combate à pandemia, a instabilidade aumenta, justificando a debandada de investidores estrangeiros do país e a pressão no câmbio. Não à toa, o real se desvaloriza mais do que as moedas de países emergentes frente ao dólar e acumula perdas de mais de 40% desde janeiro.A piora nos cenários econômico e político é um dos motivos para a Fitch Ratings ter revisado de “estável” para “negativa” a perspectiva da classificação de risco dos títulos soberanos brasileiros, apontados como “lixo” pelas agências internacionais, com elevadas chances de calote. A agência destacou a “renovação da incerteza política, incluindo tensões entre o Executivo e o Congresso” como um dos fatores para a piora na capacidade do governo de se ajustar fiscalmente e de implementar reformas econômicas após a pandemia do coronavírus.
A Fitch prevê contração de 4% do PIB do Brasil em 2020. “O crescimento médio de 0,6% negativo nos últimos cinco anos reflete uma lenta recuperação após profunda recessão em 2015 e 2016”, destaca o relatório da agência, que prevê avanço de 3% na economia em 2021 e piora nas contas públicas, com deficit nominal chegando a 13% do PIB. A mesma estimativa fez o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, que admite rombo acima de R$ 600 bilhões nas contas públicas este ano.
Ineficácia
Sinalizando maior preocupação com a retomada da atividade do que com o controle da inflação, em queda livre, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu cortar a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual, para 3% ao ano, acima do consenso do mercado, que esperava 0,50 ponto de redução. “Não adianta baixar os juros agora, porque não tem demanda para estimular a atividade. É pouco eficaz em um ambiente recessivo”, destaca o economista Alexandre Espirito Santo, da Órama, que esperava corte de 0,25 ponto na Selic.
Espirito Santo lembra que o país também está preso em uma armadilha fiscal, porque o governo precisa gastar mais no combate aos efeitos econômicos da pandemia. As contas públicas estão no vermelho desde 2014 e a dívida pública bruta deverá explodir. Não por acaso, o investidor estrangeiro está batendo em retirada. A reação do câmbio reflete esse movimento. A saída líquida de recursos no acumulado do ano somou US$ 12,7 bilhões (R$ 73 bilhões, no valor do dólar comercial de sexta-feira, de R$ 5,74), de acordo com o BC. O dólar caminha rapidamente para os R$ 6.
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