Economia

Crise também pode derrubar PIB de 2021

Perspectivas para o Brasil são piores do que as médias mundial e de nações emergentes, segundo o FMI. Para especialistas, a atividade econômica continuará encolhendo no ano que vem e há estimativa de recuo de até 3%

Correio Braziliense
postado em 11/05/2020 04:41
Ao contrário do que o ministro da Economia, Paulo Guedes, costuma afirmar em suas apresentações, que a economia brasileira estava decolando antes de o novo coronavírus desembarcar no Brasil e que a retomada será surpreendente, os dados concretos mostram um processo de retomada muito lento desde a recessão de 2015 e 2016. E não há uma expectativa animadora para quando a crise sanitária for superada. Para os analistas, o país será um dos mais punidos pela pandemia da Covid-19 e há chances de o Produto Interno Bruto (PIB) ser negativo também no ano que vem.

As perspectivas do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o Brasil são piores do que as médias mundial e de mercados emergentes, como mostra levantamento do economista Marcel Balassiano, pesquisador da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). Enquanto o mundo deverá encolher 3% nesta ano, o PIB brasileiro terá retração de 5,3%, registrando retomada de 2,9% — metade da média de crescimento global, de 5,8% — em 2021.

Com base nas estimativas atuais do FMI e do Ibre, que prevê retração de 3,4% neste ano (com possibilidade de nova projeção apontar dados mais alinhados com os do Fundo), o Brasil encerrará a década atual com desempenho muito pior do que o registrado na chamada década perdida, de 1980, de acordo com Balassiano. Pelas projeções do Ibre, se o PIB encolher 5,3%, como espera o FMI, a média anual de crescimento econômico entre 2011 e 2020 será de apenas 0,1%, o menor patamar da história, inclusive, da década de 1980 e da 1930, durante a Grande Depressão, de 1,6% e de 4,4%, respectivamente.

Considerando a queda de 3,4%, a média passaria para 0,3%. “Mesmo se o PIB crescesse 2%, como era a previsão no início do ano, esta década já seria a pior desde a de 1980. Portanto, estamos vendo um agravamento do quadro econômico devido à pandemia”, destaca. Balassiano lembra que, com a projeção de crescimento de 2% na pré-crise de coronavírus, a média da década seria de 0,8%, metade do resultado da década de 1980. Enquanto isso, o PIB per capita deve encolher 0,6% no cenário base atual do Ibre.

Balassiano admite que, dada à incerteza do momento em que vivemos, há chance de o PIB brasileiro ficar negativo também em 2021, embora não seja o cenário principal das estimativas do mercado e do FMI. “Isso tem relação com o efeito base de quanto cairá neste ano. O principal foco para 2021, ou quando acabar a crise de saúde, será voltar a temas como equilíbrio fiscal e reformas. Mas as dificuldades serão enormes, pois, além da econômica, estamos vivendo uma crise política. E as reformas dependem do Congresso”, destaca. “Se as incertezas para 2020 são muito grandes, para a retomada, são maiores ainda”, afirma. Ele admite crescimento próximo de 2% para 2021, o mesmo esperado para 2020 antes da crise, “salvo algum outro choque negativo”.

O economista Lauro Mattei, coordenador do Núcleo de Estudo de Economia Catarinense (Necat), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), vê a situação da economia brasileira com elevado grau de preocupação e também não descarta recuo do PIB no ano que vem. “O Brasil está percorrendo um caminho totalmente adverso em relação aos demais países. Infelizmente, o preço a ser pago por tal opção será expressivo”, lamenta. “Acredito que o Brasil precisará de um horizonte de dois a três anos para retornar ao nível de 2013”, avalia.

Tombo
Para José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, o PIB cairá 3% em 2021, após um tombo de 7,4% neste ano. Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, espera retomada de 2% em 2021, após queda de 4,7% neste ano, porém, admite que o dado pode ser revisado para baixo, uma vez que a crise dá sinais de que durará mais tempo do que o esperado. “O ineditismo e a intensidade da crise trazem questões adicionais sobre o impacto e a duração da recessão, principalmente no emprego”, afirma.

Vale não descarta piora nas projeções por conta do aumento do desemprego. “Se houver a possibilidade de novas paradas na atividade econômica, será razoável revisão nas projeções do PIB para baixo. Além disso, a recuperação no quarto trimestre está essencialmente atrelada a uma mudança de atitude política por parte do Executivo que leve a uma maior capacidade de articulação com o Congresso. Algo difícil de acontecer e que poderá trazer dificuldades adicionais para a economia no final do ano”, explica. “Não vejo saída fácil. A retomada será muito difícil”, completa.


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