Economia

Banco Central considera novo corte da taxa básica de juros

Selic foi reduzida de 3,75% para 3% ao ano na semana passada. E, segundo o BC, deve cair mais em junho

Correio Braziliense
postado em 12/05/2020 09:19
Selic foi reduzida de 3,75% para 3% ao ano na semana passada. E, segundo o BC, deve cair mais em junhoA taxa básica de juros (Selic), que já foi reduzida de 3,75% para 3% ao ano na semana passada, deve ser cortada novamente nas próximas semanas por conta da pandemia do novo coronavírus. A percepção consta na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que foi divulgada nesta terça-feira (12/05).

"Para a próxima reunião, condicional ao cenário fiscal e à conjuntura econômica, o Comitê considera um último ajuste, não maior do que o atual, para complementar o grau de estímulo necessário como reação às consequências econômicas da pandemia da Covid-19", afirmou o Copom, indicando que a Selic pode ser cortada em até 0,75% na sua próxima reunião, que, por enquanto, está marcada para os dias 16 e 17 de junho.

Na ata, o Copom explica que "neste momento, a conjuntura econômica prescreve estímulo monetário extraordinariamente elevado". Mas classifica o corte de 0,75% da Selic anunciado na semana passada como um ajuste moderado. 

"Foi preponderante a avaliação de que, frente à conjuntura de elevada incerteza doméstica, o espaço remanescente para utilização da política monetária é incerto e pode ser pequeno. Assim, o Copom optou por uma provisão de estímulo mais moderada, com o benefício de acumular mais informação até sua próxima reunião", afirmou o Copom, acrescentando que o ajuste da taxa básica de juros à nova realidade econômica vai continuar.

O Copom reitera, por sua vez, que a magnitude desse ajuste vai depender de diversos aspectos da conjuntura econômica. O Comitê diz, por exemplo, que "a trajetória fiscal ao longo do próximo ano, assim como a percepção sobre sua sustentabilidade, serão decisivas para determinar o prolongamento do estímulo". Além disso, "reconhece que se elevou a variância do seu balanço de riscos e ressalta que novas informações sobre os efeitos da pandemia, assim como uma diminuição das incertezas no âmbito fiscal, serão essenciais para definir seus próximos passos".
 
 

Incertezas sobre a economia


No documento divulgado nesta terça-feira, o Copom lembra que "a pandemia da Covid-19 está provocando uma desaceleração significativa do crescimento global, queda nos preços das commodities e aumento da volatilidade nos preços de ativos". E diz que o cenário é especialmente desafiador para economias emergentes como a brasileira, visto que a saída de capitais registrada nesses países é "significativamente superior à de episódios anteriores", "apesar da provisão adicional de estímulos fiscal e monetário pelas principais economias, e de alguma moderação na volatilidade dos ativos financeiros".

"Indicadores de maior frequência e tempestividade, referentes ao mês de abril, mostram que a contração da atividade econômica será significativamente superior à prevista na última reunião do Copom", revela o Comitê, que acrescenta: "Projeções apontam para uma recessão global com poucos precedentes históricos".

Para o Brasil, por exemplo, o Copom avalia que "embora haja poucos dados disponíveis para o mês de abril, há evidência suficiente de que a economia sofrerá forte contração no segundo trimestre deste ano". E ressalta que "a menos de avanços médicos no combate à pandemia, é plausível um cenário em que a retomada, além de mais gradual do que a considerada, seja caraterizada por idas e vindas".

"O cenário básico considerado pelo Copom passou a ser de uma queda forte do PIB na primeira metade deste ano, seguida de uma recuperação gradual a partir do terceiro trimestre deste ano", diz.

O Copom ainda afirma que "o impacto da pandemia sobre a economia brasileira será desinflacionário e associado a forte aumento do nível de ociosidade dos fatores de produção". Isso porque a "elevação abrupta da incerteza sobre a economia deve resultar em aumento da poupança precaucional e consequente redução significativa da demanda agregada".

O Comitê também admite que, por conta disso, a inflação corre o risco de ficar fora da meta prevista para este ano, que é de 4%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. "As projeções de curto prazo experimentaram revisões relevantes e incorporam a perspectiva de deflação significativa nos próximos meses. Houve recuo adicional no preço do petróleo", explicou.

Saiba Mais

"No cenário híbrido, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio constante a R$5,55/US$, as projeções do Copom situam-se em torno de 2,4% para 2020 e 3,4% para 2021. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2020 em 2,75% a.a. e se eleva até 3,75% a.a. em 2021. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 0,7% para 2020 e 3,9% para 2021", estima o Copom.

"Para o Copom, a interação da deterioração do cenário externo com frustrações em relação à continuidade das reformas e possíveis alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas pode ameaçar o processo de queda dos juros estruturais. Por outro lado, o Copom reconhece que, neste momento, o choque desinflacionário de demanda, ainda que associado a maior fragilidade fiscal, iniciou um processo de revisão para baixo nas expectativas de inflação, para níveis não compatíveis com as metas, em particular para o horizonte relevante da política monetária", conclui.

O Copom justifica, então, o novo processo de redução da Selic, que pode estimular a demanda e, assim, pressionar a inflação, lembrando que "seu compromisso com a meta para a inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, que sempre foi e segue sendo o principal objetivo da política monetária".  

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