Economia

Uma recessão "sem precedentes"

Ata do Comitê do BC, divulgada ontem, fala em uma %u201Cforte contração%u201D da economia no segundo trimestre de 2020 e indica que a taxa básica de juros vai continuar a marcha de descida. Calcula ainda que a retomada será gradual e %u201Ccaracterizada por idas e vindas%u201D

Correio Braziliense
postado em 13/05/2020 04:03
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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) admitiu ontem que a pandemia do novo coronavírus aponta para uma “recessão global com poucos precedentes históricos”, especialmente dura para economias emergentes como a do Brasil. Por isso, já fala em uma “forte contração” da economia brasileira neste segundo trimestre de 2020, seguida por uma recuperação gradual “caracterizada por idas e vindas”. E confirmou que, diante disso, o ciclo de cortes da taxa básica de juros (Selic) vai continuar.

O entendimento do BC sobre os rumos da economia brasileira está na ata da última reunião do Copom, que foi divulgada ontem, e reforça que, mesmo tendo sido cortada de 3,75% para 3% ao ano na semana passada, a Selic ainda vai cair mais. “Para a próxima reunião, condicional ao cenário fiscal e à conjuntura econômica, o Comitê considera um último ajuste, não maior do que o atual, para complementar o grau de estímulo necessário como reação às consequências econômicas da pandemia da covid-19”, afirmou o Copom, que, desta forma, colocou, contudo, um limite para o próximo corte da taxa básica de juros: redução de 0,75%.

Um novo corte de 0,75 ponto percentual poderia levar a taxa básica de juros à mínima histórica de 2,25% ao ano e deixar o Brasil bem perto de um cenário de juros negativos. Afinal, como o próprio Copom admite, a inflação pode não cumprir a meta neste ano, ficando abaixo do piso de 2,5%, por conta da crise do novo coronavírus. Porém, é o corte esperado por boa parte do mercado financeiro para a próxima reunião do Comitê, marcada para os dias 16 e 17 de junho. Os analistas explicam que a redução dos juros pode estimular o consumo e os investimentos depois da pandemia, ajudando o Brasil na retomada do pós-coronavírus e, assim, empurrando a inflação para mais perto da meta.

Na ata da última reunião, o Copom também ressalta que “neste momento, a conjuntura econômica prescreve estímulo monetário extraordinariamente elevado”. E, por isso, chega até a classificar como moderado o corte de 0,75% da Selic, anunciado na semana passada. O Comitê lembrou, por sua vez, que o cenário econômico ainda é muito incerto e disse que, por isso, “optou por uma provisão de estímulo mais moderada” para poder “acumular mais informação até sua próxima reunião” e, assim, concluir o ajuste da Selic em junho.
Desaceleração

O Copom explica que “a pandemia da covid-19 está provocando uma desaceleração significativa do crescimento global, queda nos preços das commodities e aumento da volatilidade nos preços de ativos”. E ressalta que esse cenário é especialmente desafiador para economias emergentes como a brasileira, visto que a saída de capitais registrada nesses países é “significativamente superior à de episódios anteriores”, “apesar da provisão adicional de estímulos fiscal e monetário pelas principais economias, e de alguma moderação na volatilidade dos ativos financeiros”.

Para o Brasil, por exemplo, o Copom avalia que “há evidência suficiente de que a economia sofrerá forte contração no segundo trimestre deste ano”, contração maior até do que estava sendo previsto no início da pandemia. E ressalta que “é plausível um cenário em que a retomada, além de mais gradual do que a considerada, seja caracterizada por idas e vindas”.

O Comitê admitiu, portanto, que, apesar de as projeções oficiais do governo ainda apontarem um Produto Interno Bruto (PIB) próximo de 0% neste ano, o baque econômico será maior. O documento ainda lembra que “o impacto da pandemia sobre a economia brasileira será desinflacionário e associado a forte aumento do nível de ociosidade dos fatores de produção”, já que a “elevação abrupta da incerteza sobre a economia deve resultar em aumento da poupança precaucional e consequente redução significativa da demanda agregada”.

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