Economia

Dólar rumo aos R$ 6,50

Cenário político turbulento e economia paralisada formam o terreno ideal para que a moeda americana continue a marcha de subida, testando os limites a cada pregão. De acordo com analistas do mercado, novo patamar caminha para ser atingido nos próximos dias

Correio Braziliense
postado em 14/05/2020 04:04
Fatores como o impacto da pandemia na economia e as turbulências políticas causadas por Bolsonaro vêm empurrando o dólar ladeira acima


Os atropelos políticos de Jair Bolsonaro, a queda de braço entre o presidente e o ex-ministro Sergio Moro e a economia empacada por causa da pandemia se tornaram o cenário perfeito para o dólar engrenar a marcha de força e manter a subida inclinada. Ontem, chegou a R$ 5,95 no intradia e fechou com alta de 0,58%, cotado a R$ 5,90. Porém, analistas dão como certo que a moeda americana possa chegar a R$ 6,50 em poucos dias.

André Perfeito, economista-chefe da Necton, é um dos que acreditam que o rumo da moeda seja para cima. Tanto que chama a atenção para o fato de que o ativo testa novos patamares a cada pregão. “Chegou a bater R$ 5,95 na máxima do dia e isso força mais uma revisão de cenário”, avaliou.

Para ele, o dólar tende a subir por três motivos no curto prazo: 1º) a queda dos juros em 2020 –– a taxa Selic pode chegar a 2,25% já na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central); 2º) o fluxo estrangeiro negativo para o mercado de capitais já chega a US$ 61 bilhões negativos; e 3º) as tensões políticas, que devem piorar nos próximos dias. “Tudo isso sugere pressões adicionais e sinalizamos que o dólar deve testar o patamar de R$ 6,30 –– R$ 6,27 para ser exato, dentro da análise gráfica de nossa equipe. Isto representa uma alta de aproximadamente 6% ao longo dos próximos dias”, assinalou.

Efeitos

Perfeito ressaltou que os cortes da Selic não terão o impacto desejado de incentivar a economia e ainda terão efeito deletério no câmbio. “O fluxo negativo para o Brasil é resultado de uma maior aversão ao risco. O ponto que me preocupa, agora, é a questão política que deve ganhar fôlego nos próximos dias, com uma eventual divulgação da filmagem da reunião ministerial na qual o presidente Bolsonaro supostamente pressiona o ex-ministro Sergio Moro a interferir na Polícia Federal”, apontou.

Já o gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo, também acredita numa disparada da moeda americana. “Pode chegar a R$ 6,50 por conta da queda de juros, somada ao vídeo e à quarentena sem fim. A economia está se acabando e o governo está cavando um buraco que vai ter que tapar lá na frente. Não me surpreenderá se aparecer algum imposto emergencial para a gente pagar essa conta”, lamentou. Galhardo lembrou que a economia perde R$ 20 bilhões a cada semana com as atividades paralisadas. “Quase 600 mil estabelecimentos literalmente fecharam. A economia está jogada à própria sorte porque politizaram a crise”, destacou.

Tensões
O mercado refletiu a tensão política do país e os efeitos externos –– com declarações negativas de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), sobre a possibilidade de um maior impacto da pandemia na economia –– no pregão de ontem.  O Ibovespa, principal índice de lucratividade da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), teve queda de 0,11%, quase estabilidade, aos 77.787 pontos. Pedro Galdi, analista da Mirae Asset Investimentos, salientou que, no cenário externo, as bolsas começaram bem o dia, mas foram caindo durante o pregão.

“Relativamente bem, pois tem muito ruído. O fato de países que estão saindo do isolamento registrarem aumento da doença deu certa preocupação”, destacou.
Segundo Galdi, o presidente Donald Trump voltou a fazer campanha política, ameaçando a China, enquanto Jerome Powell reforçou que a situação é dramática. “Ele fala que o banco terá de ajudar, mas não diz se vai reduzir juros, que é o que Trump quer. Isso tudo desanimou os mercados. E, aqui, a Bolsa olha lá para fora”, explicou.

Na opinião de Cristiane Fensterseifer, analista de ações da casa de análise Spiti, o Ibovespa começou em alta e virou acompanhando as bolsas americanas, após o discurso do presidente do Fed. “No Brasil, o quadro é agravado pelas questões fiscais e políticas, que andam complicadas, além do aumento diário no número de casos e mortos pela pandemia”, indicou.

Os ativos da Petrobras (-3,03%), junto com os preços do petróleo e papéis dos bancos, foram os destaques de queda. A alta do dólar, segundo ela, ajudou as ações de empresas exportadoras, que subiram quase 12%. “Ainda no exterior, na Europa, o PIB do Reino Unido caiu 5,8% em março e a produção industrial teve baixa de 11,4% na União Europeia frente ao ano anterior”, disse.



Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags