Economia

Economia de MG perde mais sem isolamento social, diz estudo da UFMG

Fim prematuro do isolamento social causaria perda de R$ 50 bi para MG

Correio Braziliense
postado em 14/05/2020 08:26
Um paciente afetado pelo coronavírus COVID-19 fala com um membro da família por uma videochamada em um hospital de campo instalado em uma academia de esportes, em Santo André, estado de São Paulo, Brasil, em 11 de maio de 2020.Estudo assinado por dez economistas do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, assinala que sem as medidas de isolamento social para evitar a propagação do novo coronavírus a economia mineira pode perder quatro vezes mais.

“De acordo com nossos resultados, o cenário de ‘distanciamento estendido’ implicaria uma queda de -1% no PIB de Minas Gerais. O cenário “sem distanciamento” resultaria em uma queda total no PIB do estado da ordem de -4,0%”, descreve a análise disponível na internet.

Em valores monetários, os economistas calculam que “acabar com o isolamento eleva a perda na economia de Minas Gerais em cerca de R$ 50 bilhões de reais. O cenário de ‘distanciamento estendido’ equivaleria a uma perda de R$ 19 bilhões no PIB de Minas Gerais, enquanto que para o cenário ‘sem distanciamento’ essa perda seria de R$69 bilhões.”

Para os autores do estudo, “o cenário sem isolamento, dada a maior taxa de fatalidades e adoecimento, é o que promove a maior queda na produtividade”. Os setores mais impactados seriam de indústria e serviços.

A análise conclui que o maior isolamento social tem benefícios econômicos. “Poupar vidas e a capacidade de atendimento do sistema de saúde para a maioria da população é um ganho econômico relevante”. Os economistas, no entanto, consideram que “a sociedade parece ter dificuldade em avaliar os benefícios que as estratégias de isolamento trazem” para evitar a proliferação da covid-19.

“A preservação de vidas é, do ponto de vista econômico, essencial, tanto pela preservação de capacidade de trabalho e de consumo, como de conhecimentos e de redes de relacionamentos sociais”, aponta o estudo que pondera que “as mensagens distintas sobre o distanciamento vindas de diferentes esferas de governo (especialmente do governo federal) limitaram o entendimento e a adoção do distanciamento pela população.”

Faculdade de Medicina
 
O estudo dos economistas é a segunda publicação científica da UFMG que defende o distanciamento social por causa da pandemia causada pelo novo coronavírus. No final de semana, sete docentes e pesquisadores da Faculdade de Medicina divulgaram texto assinalando nove motivos para a manutenção da medida em Minas Gerais.

Na publicação, os professores lembram que a transmissão do vírus ainda não está controlada no país e que o sistema de saúde não conseguiu detectar todas as pessoas contaminadas com a covid-19 no estado, problema chamado de subnotificação.

O estudo lembra que ainda não há “planejamento para a realização de testes em amostra representativa da população”, e pede mais “sistematização e a transparência das informações” quanto à distribuição de profissionais, disponibilidade de leitos, insumos de proteção individual (EPI), e de respiradores.

Na avaliação dos professores de medicina da UFMG, “os protocolos com as medidas preventivas e de controle em ambientes de trabalho, espaços públicos e escolas ainda não foram amplamente divulgados e debatidos nos diversos setores da sociedade.”

Os especialistas consideram “insuficiente” o investimento em campanhas que promovam o engajamento da população e conscientização para adesão às medidas preventivas, e pedem mais esclarecimento ao público sobre a vigilância e o controle de possíveis novos casos importados de outras cidades e estados. A publicação sublinha a falta de alinhamento quanto à política de prevenção entre os governos federal e estadual.

O documento ainda pondera que pode ter um custo social e humano alto se as autoridades tiverem como estratégia sanitária aguardar o fim da transmissão da covid-19 por causa do efeito da auto imunização adquirida por parte da população, após entrarem em contato com o novo coronavírus - o que os infectologistas chamam de “imunidade de grupo ou efeito rebanho”.

Os professores da Faculdade de Medicina da UFMG alertam que esse efeito pode demorar. “Não há evidência, até o momento, de que a existência de anticorpos no sangue para a covid-19 seja uma garantia duradoura contra a infecção.”

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