Economia

Febraban garante dinheiro, mas MPEs não veem

Federação dos Bancos assegura que foram liberados R$ 540,3 bilhões desde o início da pandemia. Balanço mostra que as grandes empresas ficaram com a maior parte dos recursos, no valor de R$ 216 bilhões. As micro e pequenas levaram apenas R$ 31 bilhões

Correio Braziliense
postado em 19/05/2020 04:04
Federação dos Bancos assegura que foram liberados R$ 540,3 bilhões desde o início da pandemia. Balanço mostra que as grandes empresas ficaram com a maior parte dos recursos, no valor de R$ 216 bilhões. As micro e pequenas levaram apenas R$ 31 bilhões



Os bancos brasileiros liberaram R$ 540,3 bilhões para famílias e empresas desde o início da pandemia, de acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Mas nem parece, pois são muitas as queixas sobre as dificuldades na obtenção de crédito, sobretudo das micro e pequenas empresas, devido à quantidade de barreiras que as instituições financeiras vêm impondo a quem as procura. Por isso, o governo segue estudando ajustes para que o dinheiro chegue, efetivamente, a quem o solicita.

As concessões de dinheiro novo para o segmento empresarial vêm atendendo, principalmente, as empresas de grande porte –– segundo o balanço da instituição, receberam R$ 216 bilhões. As médias levaram R$ 43 bilhões; e as micro e pequenas –– que respondem por 55% dos empregos formais ––, R$ 31 bilhões. O número confirma as queixas que os empresários deste grupo têm feito sobre a baixa disponibilidade e o alto custo dos recursos.

O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida reconheceu que ainda é preciso aperfeiçoar as políticas de crédito para as MPEs. “É a área em que precisamos melhorar”, disse, ao comentar as políticas de enfrentamento à covid-19 do governo federal em live com o mercado financeiro.

Ele garantiu que o governo vai colocar em prática, nesta semana, o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) –– que prevê liberar até R$ 15,9 bilhões em crédito, com juros baixos, para as MPEs que estavam em dia com a Receita Federal antes da pandemia. “Se o Pronampe não tiver o sucesso que estamos esperando, teremos que lançar outro programa, porque boa parte delas está sendo obrigada a passar dois, três meses fechada. Se não enviarmos crédito, no momento da retomada não tem empresa, nem emprego”, previu.

Dados do Sebrae indicam que a baixa participação das micro e pequenas empresas nas concessões de crédito significa que esses empresários não estão tendo o pedido de crédito aprovado pelos bancos. “Desde o começo da crise, 60% dos donos de pequenos negócios tiveram o pedido de crédito negado nos bancos. A principal barreira são as garantias solicitadas pelas instituições financeiras para concessão do empréstimo”, explicou o Sebrae.

Além disso, o Sebrae está tentando ampliar o número de bancos que oferecem crédito para as micro e pequenas empresas com a garantia do próprio Sebrae, através do Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe). “Já contamos com 12 organizações, entre bancos públicos e privados, cooperativas de crédito e agências de fomento. Queremos estender esse apoio a um número maior de empresários”, disse o presidente do Sebrae, Carlos Melles.

Somatório
O balanço divulgado ontem pela Febraban considera as operações de crédito realizadas entre 16 de março e 8 de maio deste ano — as oito primeiras semanas de isolamento social no Brasil. Nesse período, segundo a instituição, foram liberados R$ 378 bilhões em novas concessões de crédito; R$ 114,8 bilhões em renovações de financiamentos; e R$ 47,5 bilhões em renegociações. “A soma das novas concessões e das renovações com o saldo devedor de todas as repactuações chega a R$ 961 bilhões, distribuídos por segmentos e produtos”, afirmou a Febraban.

De acordo com a Federação, as renegociações consideradas nesse balanço envolvem, sobretudo, a suspensão temporária da cobrança das parcelas dos financiamentos. Mais de 8,5 milhões de contratos, que tinham pagamentos em dia antes do coronavírus, foram renegociados dessa forma nas últimas semanas. “A soma das parcelas suspensas dessas operações repactuadas totaliza R$ 47,5 bilhões. Esses valores trazem alívio financeiro imediato para empresas e consumidores, que passaram a ter uma carência entre 60 a 180 dias para pagar suas prestações”, informou a Febraban, contando ainda que a maior parte desse alívio financeiro (R$ 26,4 bilhões) foi negociado com pequenas empresas e pessoas físicas.

As pessoas físicas também levaram a maior parte dos prolongamentos de crédito na pandemia: R$ 49,4 bilhões dos R$ 114 bilhões renovados nesse período, segundo a Federação. O restante foi dividido entre os três segmentos empresariais: R$ 24 bilhões para grandes empresas, R$ 23 bilhões para as MPEs e R$ 17 bilhões para as médias empresas.

As novas contratações de crédito, contudo, têm atendido principalmente ao segmento empresarial, pois apenas R$ 86 bilhões, de R$ 378 bilhões, foram liberados para pessoas físicas. A Febraban explicou que “houve alta significativa nas concessões para Pessoa Jurídica no segmento livre (PJ) de 81,0%” nesse período. “Isso ocorreu em razão do expressivo aumento na demanda por crédito bancário em geral, por conta da forte incerteza do cenário econômico, da redução das operações no mercado de capitais e do cancelamento de linhas de financiamento externo para o Brasil”, explicou a instituição.





"Se o Pronampe não tiver o sucesso que estamos esperando, teremos que lançar outro programa para as MPEs, porque boa parte delas está sendo obrigada a passar dois, três meses fechada. Se não enviarmos crédito, na hora que chegar o momento da retomada, não tem empresa, nem emprego”

Adolfo Sachsida, secretário de Política Econômica do Ministério da Economia



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