Economia

Empresários recorrem a Maia para conseguir crédito na pandemia

O presidente da Câmara concordou que o governo precisa oferecer mais garantias para as empresas afetadas pela covid-19, mas não falou sobre nenhum projeto desse tipo

Correio Braziliense
postado em 20/05/2020 13:56
Rodrigo MaiaCansado de tentar obter crédito sem sucesso durante a pandemia do novo coronavírus, o empresariado brasileiro quer que o governo assuma um papel mais arrojado na proteção do setor produtivo que ficou praticamente sem receitas diante da crise da covid-19. O pedido, contudo, não foi apresentado ao Executivo, mas ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pois o sentimento é de que será preciso pressionar a União para que o crédito de fato chegue nas mãos dos empresários.

O apelo foi apresentado a Rodrigo Maia em live promovida pela União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs), com apoio da Frente Parlamentar de Comércio, Serviços e Empreendedorismo, nesta quarta-feira (20/05). Na ocasião, o presidente da Unecs, George Pinheiro, explicou que muitas empresas brasileiras estão precisando de recursos para se manterem vivas, já que estão fechadas há mais de dois meses por conta das medidas de isolamento social necessárias ao combate do novo coronavírus. E lembrou que, no entanto, a maior parte dessas empresas não está conseguindo acessar as linhas de crédito que foram anunciadas pelo governo durante a pandemia.

"Ou o Parlamento brasileiro toma a frente para que nós consigamos sair dessa guerra com menos empresas mortas ou... Milhões de empresas estão falindo no Brasil porque não conseguiram os recursos que o Parlamento e o governo federal colocaram à disposição. Entendemos que as medidas têm que ser diferentes. Precisamos de recursos para que o Brasil não vá falir e confiamos na sua liderança", pediu o presidente da Unecs, George Marques, ao presidente da Câmara.

Marques ainda disse que o governo deve colocar recursos nas empresas, para que elas tenham condições de "esperar o tempo necessário desta pandemia para saírem vivas do outro lado". E sugeriu que, para isso, o Tesouro amplie as garantias que vêm sendo oferecidas ao setor produtivo nos financiamentos bancários de 85% para 100% do crédito. Ou seja, que o governo assuma todo o risco de uma eventual inadimplência para que, dessa forma, os bancos sintam-se encorajados a emprestar dinheiro para as empresas nesse momento de crise.

"É preciso que de alguma forma o governo ajude as empresas a superarem a burocracia dos bancos para evitar o iminente colapso da economia brasileira. E a forma é assumir os riscos e as garantias necessárias para a concessão do crédito. Caso não ache que vale assumir o risco do crédito, outra solução é dar um auxílio semelhante ao que foi dado à população de baixa renda, pois as empresas precisam de recurso para conseguir sobreviver e retomar as atividades quando autorizadas a isso", propôs Marques, apoiado por entidades representativas de setores como os de shoppings centers, bares e restaurantes e também pelo presidente da Frente Parlamentar de Comércio, Serviços e Empreendedorismo, o deputado Efraim Filho (DEM-PB), que também é líder do DEM na Câmara.

O empresário, que já havia feito uma live desse tipo com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para pedir o apoio do governo ao setor produtivo, contudo, agora pediu apoio do Legislativo para avançar com esse entendimento. Ele indicou que o governo precisa melhorar as linhas de crédito já anunciadas para as micro, pequenas e médias empresas e não apenas tentar encontrar formas de salvar as grandes companhias. Nessa terça-feira (19/05), por sinal, Guedes sugeriu que o governo poderia assumir o risco de socorrer as companhias aéreas.

"É necessário que tenhamos recurso para a sobrevivência das empresas, se não teremos uma falência generalizada das empresas brasileiras de todos os níveis. Por exemplo, o governo discute medidas para salvar as companhias aéreas. Mas não adianta salvar as aéreas e as empresas automotivas, que é necessário, sem salvar as outras empresas brasileiras. Por isso, contamos com o apoio da Câmara e do Senado, que é onde se discute e muda as leis do país", concluiu o presidente da Unecs.
 
 

Maia


O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ouviu o apelo do empresariado junto com vários outros deputados. E revelou-se favorável ao pleito de elevar para 100% as garantias oferecidas pelo Tesouro nos financiamentos das empresas.

"Eu disse logo no início a alguns bancos, à equipe econômica, ao Roberto Campos [Neto, presidente do Banco Central] que tinha que ser 100% de garantia. A dúvida deles é se alguns empresários não teriam interesse em pagar nessas condições. Eu disse que ao contrário, porque ninguém vai querer ficar sempre com o nome sujo. Quem sobreviver a isso vai ter interesse de pagar. [...] Sempre defendi que o governo deveria ser garantidor de 100%, porque sabemos que os bancos, querendo ou não, sendo responsáveis por parte do crédito, ia acabar tendo que usar as travas que qualquer banco tem", afirmou Rodrigo Maia, acrescentando que países como os Estados Unidos já assumiram essa posição de garantir todos os riscos do crédito requerido pelo setor produtivo nesse momento de pandemia.

Maia, contudo, não assumiu o compromissos de pautar um projeto nesse sentido. E indicou que talvez agora fosse o momento de avaliar as políticas do governo, já que o Executivo sancionou nesta semana o programa que libera crédito para as micro e pequenas empresas e tem dito que outras medidas nesse sentido estão por vir.

O presidente da Câmara garantiu, por sua vez, que o Legislativo está disposto a ouvir as críticas e as propostas da sociedade civil para poder construir "melhores textos que possam atender a sociedade brasileira". E que garantiu que o Congresso também está ciente do "papel importante de construir o equilíbrio entre as necessidades urgentes da sociedade com a capacidade do estado brasileiro de emitir dívida e se financiar para o enfrentamento da crise". 

Saiba Mais

Maia lembrou, por sua vez, que o Brasil não tem a mesma condição fiscal de países como os Estados Unidos, mas aproveitou para fazer mais uma crítica à posição assumida pela equipe econômica durante a pandemia, mesmo depois que o Congresso aprovou o Orçamento de Guerra com o intuito de liberar o governo a fazer todos os gastos necessários ao combate à covid-19.

"A equipe econômica é sempre muito conservadora, muito defensiva. Mas, como a sociedade mesmo colocou o apelido da PEC da Guerra, nós não vivemos um momento simples. Então, é importante que o governo use esse instrumento para que os recursos cheguem na ponta", alfinetou Maia.

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