Cansados de tentar apelar ao governo na tentativa de obter crédito durante a pandemia do novo coronavírus, empresários buscaram a ajuda do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para que os recursos cheguem ao setor produtivo. O apelo foi feito a Maia, ontem, em live promovida pela União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs), com apoio da Frente Parlamentar de Comércio, Serviços e Empreendedorismo.
O presidente da Unecs, George Pinheiro Marques, pediu ao parlamentar que intervenha junto ao Tesouro a ampliar a garantia governamental nos financiamentos bancários, de 85% para 100% do crédito — ou seja, que o governo assuma todo o risco de uma eventual inadimplência para que, dessa forma, os bancos sintam-se encorajados a emprestar dinheiro para as empresas nesse momento de crise. Ainda ontem, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, admitiu que, apesar das medidas do governo, os recursos não estão chegando ao setor produtivo na medida necessária.
Rodrigo Maia, que ouviu o apelo do empresariado junto com vários outros deputados, mostrou-se favorável ao pleito. “Eu disse, logo no início, a alguns bancos, à equipe econômica, ao Roberto Campos (Neto, presidente do Banco Central) que tinha que ser 100% de garantia. A dúvida deles é se alguns empresários teriam interesse em pagar nessas condições. Eu disse que ao contrário, porque ninguém vai querer ficar sempre com o nome sujo. Sempre defendi que o governo deveria ser garantidor de 100%, porque sabemos que os bancos, querendo ou não, sendo responsáveis por parte do crédito, iam acabar usando as travas que qualquer banco tem”, afirmou.
O presidente da Câmara, porém, não assumiu o compromisso de pautar um projeto nesse sentido. E indicou que talvez agora fosse o momento de avaliar as políticas do governo, já que o Executivo sancionou nesta semana o programa que libera crédito para micro e pequenas empresas e tem dito que outras medidas estão por vir.
Pinheiro Marques afirmou que muitas empresas estão precisando de recursos para se manterem vivas, já que estão fechadas há mais de dois meses por conta das medidas de isolamento social necessárias ao combate à covid-19. Lembrou, no entanto, que a maior parte delas não está conseguindo acessar as linhas de crédito que foram anunciadas pelo governo durante a pandemia.
“Ou o parlamento toma a frente para que consigamos sair dessa guerra com menos empresas mortas ou... Milhões de empresas estão falindo no Brasil porque não conseguiram os recursos que o Legislativo e o governo federal colocaram à disposição. Confiamos na sua liderança”, disse a Maia.
Também num encontro com empresários, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconheceu que o dinheiro prometido pelo governo ao setor produtivo não está chegando na ponta e que é preciso adotar medidas para redirecionar o capital. “Empresas menores é onde temos que trabalhar”, afirmou, durante reunião virtual com dirigentes da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Andib).
Campos Neto lembrou as diversas medidas adotadas pelo BC nos últimos meses, que representaram uma injeção de recursos equivalente a 16% do Produto Interno Bruto (PIB) no sistema financeiro. Segundo ele, o potencial de crédito, se tudo for aproveitado, é de R$ 1,1 trilhão. “Os bancos estão aumentando a concessão de crédito, mas a demanda também aumentou, por isso a sensação de não estar sendo atendido”, justificou.
O presidente do BC ressaltou que os bancos privados são responsáveis por 80% da concessão de crédito, ante 20% dos bancos públicos. Embora afirmando que a concessão de crédito esteja aumentando, Campos Neto admitiu que é preciso fazer melhor direcionamento. “Devemos anunciar mais medidas. O sistema está com liquidez, mas é preciso fazer com o que o dinheiro chegue aonde a gente quer”, reiterou.
Comportamento
Campos Neto admitiu que a concessão de crédito cresce mais para as grandes empresas, menos para as médias e muito pouco para as pequenas. “Houve uma mudança na parte de modelagem de crédito. Os bancos estão olhando o comportamento da empresa e fazendo menos análise de balanço”, afirmou “Isso significa que o banco sabe que a pequena empresa paga luz, aluguel e fornecedores, e, de repente, parou de pagar. Então, isso afeta o modelo de risco das empresas que estão elegendo não pagar”, explicou.
"Milhões de empresas estão falindo no Brasil porque não conseguiram os recursos que o Legislativo e o governo federal colocaram
à disposição”
George Pinheiro Marques, presidente da Unecs
» Para BC,há risco de alta de juros
O Banco Central poderá ter que subir os juros se mercado “punir” o Brasil e exigir aumento dos prêmios de risco para financiar o país devido à elevação do déficit público em decorrência das medidas de combate à pandemia da covid-19. “Não temos o luxo de espaço fiscal e teríamos que voltar para o equilíbrio antigo, que são juros altos. Agora, será pior (do que o ciclo de alta anterior) porque vamos começar já com uma dívida muito elevada”, ressaltou, durante reunião com empresários . Ele comentou que há uma discussão entre economistas sobre até onde pode ir a política de juros baixos. “É um debate que, inclusive, dominou a cena na última reunião do Copom”, revelou.
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