Correio Braziliense
postado em 24/05/2020 04:12
As expectativas do varejo não deixam dúvidas de que a crise atual é muito mais intensa do que o previsto inicialmente. O Instituto Brasileiro de Executivos do Varejo (Ibevar), por exemplo, projetava um crescimento de 3,5% das vendas do varejo brasileiro antes da pandemia do novo coronavírus. No atual estágio da doença, estima uma queda de ao menos 10% — a maior da história —, além de, pelo menos, mais um ano de vendas baixas.
A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deu uma ideia do tamanho do problema. Segundo a pesquisa, as vendas do varejo ampliado, que incluem o setor de automóveis e de material de construção, desabaram 13,7% em março. E esse baque pode ser ainda maior em abril, já que o comércio passou todo o mês de abril fechado, enquanto que em março fechou por apenas 15 dias. “O resultado não capta ainda todo o efeito da crise sanitária. Então, lamentavelmente, vamos ter quedas muito mais significativas nas vendas do varejo”, prevê o presidente do Ibevar, Claudio Felisoni.
“O comércio foi diretamente impactado pelo protocolo de combate à covid. Nenhuma outra atividade econômica teve determinado o fechamento dos seus estabelecimentos. Mas, no comércio, segmentos inteiros foram fechados. E mesmo o consumo do varejo que está aberto depende muito da circulação e da confiança do consumidor”, explica o economista da CNC Fábio Bentes.
Até no Dia das Mães, a segunda principal data do comércio no ano, o setor viu um resultado desolador: uma queda de 59% das vendas em relação ao ano passado — a maior da história. “Nem na recessão de 2015 houve algo perto disso. O que o varejo vai faturar vai ser equivalente ao faturamento do Dia das Mães de 2008. É um retrocesso de 12 anos”, compara Bentes.
A CNC calcula, ainda, que as perdas sofridas pelo comércio desde o início do isolamento social achegam a R$ 124,7 bilhões. O número corresponde à atividade do setor entre 15 de março e 2 de maio e representa um encolhimento de 56% do faturamento do varejo em relação ao mesmo período do ano passado. “Em um mês normal, o comércio costuma faturarR$ 200 bilhões. É como se o comércio todo estivesse fechado por pouco mais de 15 dias, inclusive o essencial”, descreve Bentes.
E a maior parte desse prejuízo (quase R$ 111,6 bilhões) está em setores não essenciais, que estão tendo o consumo cada vez mais reduzido. Nesse período de isolamento social e incertezas econômicas, muitos brasileiros estão comprando apenas o fundamental, mesmo quando saem de casa para ir ao mercado ou resolvem fazer uma compra on-line.
Só o segmento de tecidos, vestuário e calçados, por exemplo, já sofreu uma contração de 42,2% nas vendas, segundo o IBGE, que também identificou quedas expressivas em todos os outros segmentos não essenciais avaliados na PMC de março: a redução foi de 36,1% nas vendas de livros, jornais, revistas e papelaria; -27,4% em outros artigos de uso pessoal e doméstico; -25,9% em móveis e eletrodomésticos; -14,2% em equipamentos e material para escritório, informática e comunicação; e -12,5% em combustíveis e lubrificantes.
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