Economia

Investimentos diretos no país têm pior abril em 25 anos

Segundo o BC, o IDP somou US$ 234 milhões em abril deste ano, no menor volume para o mês desde 1995

Correio Braziliense
postado em 26/05/2020 13:50
Banco CentralOs investimentos diretos no Brasil despencaram em abril, com os investidores externos cada vez menos dispostos a colocar dinheiro no país diante das incertezas econômicas causadas pela crise do novo coronavírus. Segundo o Banco Central (BC), esses investimentos somaram apenas US$ 234 milhões em abril, no pior resultado para o mês em 25 anos.

"O ingresso dos Investimentos Diretos no País (IDP) foi de US$ 234 milhões. É uma redução muito significativa, quer compare com abril de 2019 (US$ 5,1 bilhões) ou com o mês passado, março de 2020 (US$ 7,6 bilhões)", ressaltou o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, ao apresentar o resultado das contas externas brasileiras de abril nesta terça-feira (26/05).

Rocha lembrou que o resultado de US$ 234 milhões também foi decepcionante ante as estimativas do Banco Central, que projetava um ingresso líquido de US$ 1,5 bilhão dos investimentos diretos no país em abril, mesmo com a pandemia da covid-19. "A diferença está na estimativa do prejuízo ocorrido. A estimativa tinha um resultado menos negativo para o reinvestimento de lucros", afirmou.

O Banco Central, contudo, afirmou que dois fatores diferentes justificam esse resultado - que é o pior para o mês de abril desde 1995, quando o IDP foi de R$ 168 milhões. É que o fluxo de investimentos do país caiu abruptamente com o mercado mais cauteloso diante das diversas incertezas econômicas vivenciadas ultimamente. Os ingressos líquidos em participação no capital caíram, então, de US$ 5,6 bilhões em abril de 2019 para US$ 320 milhões em abril de 2020. 
 
Economista da XP Investimentos, Rachel de Sá diz, porém, que esse fluxo negativo de investimentos em carteira não deve ser resolvido no curto prazo. Afinal, as incertezas do mercado financeiro sobre o rumo econômico do país aumentaram em maio, quando os brasileiros passaram a conviver com a crise sanitária do coronavírus e também com a crise política que já levou à saída de três ministros do governo de Jair Bolsonaro.

"Esses investimentos provavelmente não virão no curto prazo. Os investidores ainda estão com uma visão muito negativa em relação ao Brasil, por conta das incertezas políticas e porque a mídia internacional tem chamado muito a atenção para a crise do coronavírus no país. O país tem proporções gigantescas, mas está vendo uma descoordenação política na estratégia de combate à pandemia e isso chama atenção", explicou a economista, lembrando que a flutuação excessiva do dólar também dificulta essa decisão de investimento.

Ela acredita, por outro lado, que os investimentos diretos podem começar a se recuperar nos próximos meses, quando as empresas multinacionais puderem retomar as operações no Brasil e, assim, voltar a gerar lucros. 

E essa redução ainda foi acompanhado por desinvestimentos de US$ 834 bilhões - desinvestimento que pode ser comparado com o reinvestimento de US$ 2,9 bilhões de lucro registrado no mesmo mês do ano passado no Brasil, mas que, segundo o BC, se explica pelos prejuízos que vêm sendo acumulados pelas empresas durante a pandemia da covid-19.

 "Houve menores ingressos líquidos em participação no capital e as empresas que estão no país, nós estimamos que elas passaram a apresentar prejuízo no mês de abril. E esse prejuízo reduz o estoque de investimentos, porque nesse mesmo período ocorreram remessas ao exterior em termos de lucro", afirmou Rocha.

O chefe do departamento de estatísticas do BC, contudo, não acredita que esse baque representa o cancelamento de investimentos no país. Para ele, boa parte desses investimentos pode ter sido apenas adiada. Afinal, o investimento direto no país costuma ser uma operação de longo prazo.

"Essas operações são feitas em um horizonte de pagamentos maior que a esfera mês a mês. [...] A percepção é, então, que se trata de um adiamento das operações em um mês que concentrou muitas incertezas. Qualquer uma das métricas utilizadas pelos economistas tem uma incerteza muito grande sobre o que está acontecendo na economia brasileira e mundial e sobre quando isso vai voltar à normalidade. Com isso, temos visto uma preferência das grandes empresas de se tornarem mais líquidas. Isso significa segurar um pouco os investimentos futuros até um cenário de menos incertezas. Não parece um cancelamento do projeto, mas um adiamento pela preferência de se manter mais líquido no momento", argumentou Rocha.

Ele ainda disse que, da mesma forma, esse cenário de incertezas econômicas também provocou uma redução dos investimentos realizados pelas empresas brasileiras em outros países. E o baque dos investimentos diretos no exterior foi ainda maior em abril: US$ 4,8 bilhões, segundo o BC. "No atual contexto econômico, as matrizes do Brasil pediram para as subsidiárias retornarem valores ao Brasil. Da mesma forma do IDP, houve um prejuízo estimado e esse retorno de recursos para o Brasil ocorrer tanto na participação de capital, quando na volta dos lucros", disse Rocha.
 
 

Fuga de capital


Além da redução dos investimentos diretos no país, o Brasil registrou mais uma rodada de fuga de capital em abril. Segundo o Banco Central, os investimentos em carteira negociados no mercado doméstico registraram um fluxo negativo de US$ 7,3 bilhões no mês passado. 

O fluxo negativo é bem maior que os US$ 547 milhões registrados no mesmo mês do ano passado e representa o terceiro mês consecutivo de saída de capitais do país. Afinal, a desconfiança dos investidores externos com o rumo econômico brasileiro começou antes mesmo da pandemia do coronavírus atingir o país, devido às crises políticas que rondam o governo de Jair Bolsonaro e já ameaçavam a lenta retomada da economia brasileira no início ano.

Saiba Mais

Segundo o BC, contudo, essa fuga de capital perdeu ritmo entre abril e março. "Ao longo do ano todo temos observado valores negativos. As saídas se concentram nos investimentos em carteira negociados no mercado doméstico, os títulos de dívida e as ações negociadas no país de propriedade dos estrangeiros. O fluxo foi negativo em US$ 7,3 bilhões em abril, mas esse desinvestimento se compara à saída de US$ 22,2 bilhões em março. Houve a permanência do sinal de saída líquida, mas houve também uma redução do valor. É mais ou menos 1/3 da saída de março", pontuou Fernando Rocha. 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags