Economia

Brasil fecha 860 mil empregos formais em abril

Em março, quando a pandemia do novo coronavírus teve início no Brasil, saldo também foi negativo em 240 mil, segundo o Caged

Correio Braziliense
postado em 27/05/2020 11:37
Carteira de trabalhoMais de 860 mil postos de trabalho formal foram fechados no Brasil em abril deste ano, quando a maior parte das atividades econômicas do país estava fechada por conta da pandemia do novo coronavírus. O resultado é o pior de toda a série histórica e foi divulgado nesta terça-feira (27/05) pelo Ministério da Economia através do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Segundo o Caged, 1,459 milhão de empregados formais foram demitidos no Brasil mês passado. Já as contratações somaram 598,8 mil. Por isso, o saldo do emprego formal foi negativo em 860,5 mil. "Tivemos 860 mil novos desempregados no Brasil. É um número duro, que reflete a realidade da pandemia que vivemos", comentou o secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco. 

O resultado ainda revela um tombo de 56% nas contratações e um aumento de 17,2% das demissões realizadas no mês, em comparação com o mesmo período do ano passado. Porém, não representa todo o impacto negativo da crise do novo coronavírus no mercado de trabalho formal brasileiro.

Ainda de acordo com o Caged, o saldo de empregos formais também foi negativo em março deste ano, quando a pandemia ainda estava começando a atingir a economia nacional. Naquele mês, foram registradas 1,386 milhão de contratações e 1,626 milhão de desligamentos. No balanço total, foram fechados, portanto, 240,7 mil postos de trabalho formais em março.

Somando o resultado negativo de abril e março, é possível dizer que o Brasil já perdeu mais de 1,1 milhão de empregos formais em meio às incertezas econômicas do novo coronavírus. O número é tão significativo que já provoca um saldo negativo de 763,2 mil no estoque dos empregos de carteira assinada do Brasil no ano de 2020, mesmo com os resultados de janeiro (113,1 mil) e fevereiro (224,8 mil) tendo sido positivos.

"Até março, as contratações desde ano eram superiores às contratações do ano passado. A partir de abril, houve um mergulho muito profundo nas admissões. Mas não é nenhuma surpresa, porque com o comércio e a indústria fechadas, com as atividades econômicas sofrendo bastante, é natural que não haja novas admissões", afirmou o secretário de Trabalho da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, Bruno Dalcolmo.
 
 

Setores


Ainda de acordo com o Caged, a grande parte dos empregos formais que foram fechados no Brasil neste ano são dos setores de comércio e serviços. Só o comércio fechou 342,7 mil postos de trabalho de carteira assinada e os serviços mais 280,7 mil. Ainda foram perdidos 127,8 mil empregos formais na indústria e 21,8 mil na construção civil. O setor agropecuário foi, portanto, o único a ter um saldo positivo na geração de empregos formais no primeiro quadrimestre de 2020, com a criação de 10 mil empregos formais.

Em termos regionais, o maior volume de contratações foi registrado nos estados mais representativos na economia brasileira e que, por isso, concentram o maior volume de produção e trabalho do país. Ou seja, São Paulo (-227,6 mil), Rio de Janeiro (-125,1 mil) e Minas Gerais (-76,9 mil). O Distrito Federal ocupa a 12ª posição desse ranking, com um saldo negativo de 18 mil empregos formais. 

Apesar disso, foi constatado um aumento do salário médio real de admissão do trabalhador brasileiros nos últimos meses. Segundo o Caged, esse valor subiu de R$ 1.673,48 para R$ 1.687,01 entre fevereiro e março. E, em abril, saltou para R$ 1.814,62. "É natural que em um período de crise sejam contratadas pessoas com maior eficiência, o que eleva o salário de admissão", explicou Bruno Dalcolmo.
 
 

"Como meio cheio"


A Secretaria Especial de Trabalho e Previdência do Ministério da Economia, contudo, não avalia esse desempenho do mercado de trabalho inteiramente de forma negativa. Na apresentação dos dados do Caged, o secretário Bruno Bianco alegou que esse número poderia ser muito maior, caso o governo não tivesse oferecido aos trabalhadores e às empresas alternativas de flexibilização do contrato de trabalho durante a pandemia do novo coronavírus. Ou seja, não tivesse liberado a suspensão do contrato ou a redução da jornada de trabalho, com a redução proporcional do salário, através da Medida Provisória (MP) 936.

"São números duros, que refletem a pandemia. Mas que, por outro lado, demonstram a efetividade da politica conduzida pelo governo federal. [...] Demonstram que o Brasil, diferente de outros países, está conseguindo preservar o emprego e a renda", afirmou Bruno Bianco, contando que mais de 8,2 milhões de acordos trabalhistas já foram registrados pela MP 936. "Nosso nível poderia ter chegado já a mais de 10 milhões de desempregados. Não obstante essa projeção, estamos com um um número não superior a 800 mil empregos. É algo para se ver como um como meio cheio e não um copo meio vazio", alegou. "Ao passo que as admissões tiveram uma queda forte, as admissões não tiveram uma explosão, como os especialistas previam e como aconteceu em outros países", reforçou Bruno Dalcolmo.

Os secretários ainda disseram que, como a MP 936 prevê a estabilidade no emprego pelo mesmo tempo em que o trabalhador teve o salário reduzido, o governo não espera uma explosão do desemprego até o fim do ano. E afirmaram que, como esses empregos estão preservados, o saldo negativo do Caged se reflete muito mais pela queda das contratações do que pelo aumento das demissões. Eles alegaram que, como a maior parte das empresas brasileiras fechou ou reduziu as atividades diante da pandemia da covid-19, era de se esperar que as contratações de novos empregados perdessem força nesse período, mas se disseram otimistas com a possibilidade de retomar o ritmo da geração de empregos nos próximos meses. "No momento que a questão de saúde for amainada, que as pessoas voltem para a rua para consumir, voltem a frequentar shoppings e restaurantes; a demanda volta a aquecer, a confiança do empresário também é retomada e as contratações retomarão", afirmou Dalcolmo.

Os dados do Caged, contudo, mostram que além de um baque de 9,6% nas admissões, também houve um avanço de 10,5% nas demissões realizadas nos quatro primeiros meses deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.
 
 

Caged e retomada


Os dados do Caged não eram divulgados pelo governo federal desde dezembro de 2019. O governo alegou que atrasou essa publicação por conta de problemas na coleta dos dados empresariais que poderiam gerar inconsistências no resultado do Caged e, depois, por conta da pandemia do novo coronavírus. Mas, ao retomar a publicação do Caged nesta terça-feira (27/05), a Secretaria de Trabalho garantiu que esses dados estão completos e prometeu a voltar a divulgar o Caged de forma mensal. 

O secretário Bruno Bianco ainda disse que esses dados vão servir de base para os planos da retomada econômica do pós-pandemia. "Com isso, podemos iniciar uma nova fase da política. Agora, já podemos pensar com o ministro Paulo Guedes nos próximos passos, com os quais consigamos estimular as contratações, em conjunto com a manutenção dos empregos", disse.

Saiba Mais

Bianco disse ainda que a retomada do mercado de trabalho deve passar pelo incentivo às contratações formais e à formalização dos trabalhadores informais, que hoje dependem do auxílio emergencial de R$ 600 para se sustentar. Ele não quis, contudo, dar detalhes dessas medidas. Segundo o secretário, os planos para o pós-pandemia serão anunciadas no momento oportuno pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. O ministro já disse a empresários, por sua vez, que gostaria que esse fomento às contratações passasse pela desoneração da folha.

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