A economia brasileira encolheu 1,5% no primeiro trimestre, com os primeiros impactos da pandemia do novo coronavírus. Com isso, o Produto Interno Bruto (PIB), divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), retornou aos níveis do segundo trimestre de 2012. O consumo das famílias, do lado da demanda, e o setor de serviços, do lado da oferta, puxaram a atividade econômica ladeira abaixo. Para especialistas, no entanto, o pior ainda está por vir e o segundo trimestre será devastador, com retração de mais de 10%, colocando o país em meio a uma forte recessão.
A queda interrompeu sequência de quatro trimestres seguidos de crescimento, e é o pior resultado para o período desde 2015, quando a atividade econômica do país encolheu 2,1%. Em relação ao primeiro trimestre de 2019, a retração não foi tão acentuada e o PIB recuou 0,3%. Em valores correntes, a soma dos bens e serviços produzidos no Brasil nos três primeiros meses do ano chegou a R$ 1,803 trilhão.
De acordo com a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, a retração da economia foi causada, principalmente, pelo recuo de 1,6% nos serviços, setor que representa 74% do PIB. A indústria caiu 1,4%, enquanto a agropecuária cresceu 0,6%. “Aconteceu no Brasil o mesmo que ocorreu em outros países afetados pela pandemia, que foi o recuo nos serviços direcionados às famílias devido ao fechamento dos estabelecimentos. Bens duráveis, veículos, vestuário, salões de beleza, academia, alojamento, alimentação sofreram bastante com o isolamento social”, explicou.
Nos serviços, a queda foi generalizada, com a única variação positiva nas atividades imobiliárias, com leve alta de 0,4%. O destaque para os resultados negativos foi em outros serviços (-4,6%) e transporte, armazenagem e correio (-2,4%). Na indústria, o recuo foi puxado pelo setor extrativo (-3,2%), mas também apresentaram taxas negativas elevadas a construção (-2,4%) e as indústrias de transformação (-1,4%).
O consumo das famílias, motor da economia brasileira, caiu 2%. “Foi o maior recuo desde a crise de energia elétrica em 2001”, explicou Rebeca Palis. Segundo ela, o consumo das famílias tem peso de 65% no PIB. O consumo do governo ficou praticamente estável (0,2%). E os investimentos surpreenderam com alta de 3,1%, puxada pela importação de máquinas e equipamentos pelo setor de petróleo e gás. “A produção nacional de máquinas e equipamentos e a construção caíram”, observou Rebeca.
Também contribuíram para o resultado ruim a queda de 0,9% nas exportações, enquanto as importações ficaram em 2,8%. As exportações foram bastante prejudicadas pela crise na Argentina e pelo fechamento das fronteiras na China, origem da pandemia, explicou Rebeca.
Pancada
Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação Austin Rating, observou que a queda de 1,5% do PIB no primeiro trimestre refletiu apenas 15 dias da crise no país, em março. O que significa que o pior está por vir, como ocorreu em países onde a pandemia chegou antes. Na China, a queda foi de 9,8%; na França de 5,8%; e na Itália e na Espanha, de 4,7% (veja na arte).
“A pancada virá no segundo trimestre”, projetou. “Estimamos queda de 10,1%, sobretudo porque tivemos dois meses, abril e maio, com atividades paralisadas. Depois, começa a melhorar.” A Austin calcula que o PIB vai fechar 2020 com retração de 6%. “O bom resultado veio da agropecuária, com alta 0,6%, mas o setor pesa só 5% no PIB e não tem força para salvar o restante do ano”, avaliou.
Na indústria, a queda era esperada. “A produção industrial em abril frente a março teve queda de 40%. A fabricação de veículos caiu 99%”, disse Agostini, prevendo tempos ainda mais sombrios pela frente.
Por conta do desemprego, a Austin prevê crescimento de 3,3% em 2021. “Alguns acham que pode crescer mais rápido. Nós não, porque é o consumo das famílias, por meio de emprego a renda, que carrega o PIB. E o emprego é a primeira variável a ser afetada e a última a ser retomada em uma crise”, destacou.
Ricardo Jacomassi, sócio da TCP Partners, projeta queda de 7% do PIB no ano. Para o segundo trimestre, a estimativa era de 4,8% e será revisada para 7%. Para o especialista, o governo precisa atentar-se para o desemprego. “A queda no consumo das famílias é um ponto central, porque tem a ver com a insegurança do desemprego. Depois da saúde, deve ser o primeiro ponto a ser atacado, senão vamos para 18 milhões a 20 milhões de desempregados no país”, alertou.
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