Correio Braziliense
postado em 01/06/2020 06:01
O bancário Jorge Thiago de Lima, 33 anos, mudou o comportamento de consumo. Ele percebeu que o isolamento social impôs novas condições à sua rotina financeira, ajudando-o a economizar mais. “Temos almoçado em casa, mantido o carro na garagem, lavado menos roupa e feito atividades de lazer ao ar livre”, descreve. Essa mudança de hábitos no contexto da pandemia revela condições que permitem a redução de gastos. Mais atentos ao orçamento doméstico, Jorge e a família perceberam aumento de preços nos mercados, principalmente nos ítens de higiene e limpeza. Neste novo normal provocado pela pandemia, o bancário vislumbra hábitos de consumo radicalmente diferentes. “Se não houver vacina, hábitos principalmente ligados ao lazer serão afetados: festas, cinema, restaurantes, aulas presenciais e encontros familiares serão raridade, com certeza”, afirma.
A crise financeira provocada pela pandemia levou os consumidores a serem mais assertivos na hora da compra. O momento é de ponderar a real necessidade dos gastos do dia a dia. O especialista em ciência do consumidor, Felipe Fernandes, explica que, em situações de crise, o consumidor possui mecanismos de defesa como a busca por produtos e serviços substitutivos. “Tudo aquilo que o indivíduo puder fazer em casa como, por exemplo: limpar, lavar, passar, pequenos consertos da casa e higienizar o próprio carro, assim ele fará”, esclarece o economista. Assim, a população estará mais ocupada com tarefas pessoais e doméstica.
Além de ponderar o que pode ser feito por conta própria, o consumidor tende a ser mais lento nas compras, pois pesquisará mais atentamente antes de fechar qualquer negócio. “Ainda que de forma inconsciente, o comportamento dele visa maximizar a satisfação das suas necessidades com a menor quantidade de dinheiro possível”, pontua Fernandes. Em uma crise, o comportamento inconsciente se torna “cada vez mais consciente”. “O consumidor não se permitirá tomar riscos que normalmente tomaria em situação de prosperidade ou maior certeza econômica”, enfatiza.
Como se sabe, em momentos de crise econômica, o consumidor deixa de adquirir produtos que considera supérfluos e procura marcas mais baratas quando se trata dos essenciais. Em tempos de confinamento, o economista Felipe Fernandes observa que as pessoas se tornam mais rigorosas com as finanças e até mais criativas antes de gastar. “O consumidor está se dando conta de que ficando em casa ele gasta menos e isso colabora com suas finanças pessoais”, diz.
Duda Ribeiro, 20 anos, é uma típica consumidora dos tempos atuais. Com uma renda entre um e dois salários mínimos, ela percebeu que é possível encontrar novas soluções na sua vida financeira. Gastos com alimentação fora de casa, transporte e festas foram cortados e, assim, ela conseguiu economizar muito mais. Duda descobriu, também, como transformar objetos e roupas em vez de comprar algo novo. “Na quarentena eu personalizei muita coisa que já tinha, fiz tutoriais que vi na internet. Antes, na correria do dia a dia, provavelmente eu teria comprado algo que quisesse ao invés de transformá-lo em casa. Então, acho que isso eu vou levar para depois da quarentena”, afirma.
As restrições econômicas e sanitárias impostas pela pandemia também provocaram outros efeitos sobre o comportamento do consumidor. “A inadimplência também subiu, e isso fará com que o consumidor visite supermercados, shoppings e restaurantes com menor frequência em comparação com o período antes da pandemia”, observa Felipe Fernandes. Além disso, a preocupação com a higiene também é um ponto que afastará a população de ambientes com grande circulação de pessoas. “Antes da pandemia o consumidor não tinha tanta preocupação como colocar as mãos em um carrinho de supermercado, mas agora será capaz de mudar de loja caso algum funcionário não demonstre atenção com a segurança da saúde dos clientes”, comenta o especialista.
Fernandes acredita, ainda, que preocupações éticas também vão influenciar o consumo. A responsabilidade social pesará mais na decisão de compra. “Toda empresa que comunicar que ‘está junto’ do consumidor, que ‘entende’ o que ele está passando e que ‘vai ajudar’ certamente conseguirá manter proximidade e evitar a perda para a concorrência”, aposta Fernandes. “Mas mensagens bonitas precisam ser seguidas por ações práticas, pois o consumidor não é ingênuo”, finaliza.
* Estagiária sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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