Economia

Presidente do BC diz que oferta de crédito está crescendo

Campos Neto rebateu as críticas dos empresários de que está mais caro e difícil conseguir empréstimos bancários, sobretudo nos bancos privados

Correio Braziliense
postado em 01/06/2020 15:11
Roberto Campos NetoO presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que a percepção das empresas brasileiras de que o crédito bancário está mais escasso e caro está errada. Segundo ele, a oferta de crédito deveria estar
desabando por conta da crise causada pelo novo coronavírus. Porém, cresceu e está com juros mais baixos neste ano, sobretudo nos bancos privados.

Campos Neto falou sobre a questão do crédito ao participar de uma audiência pública, na comissão mista que acompanha o enfrentamento ao coronavírus no Congresso Nacional, nesta segunda-feira (01/06). Munido de uma apresentação que mostra a evolução dos financiamentos realizados no Brasil nas últimas semanas, o presidente do Banco Central disse que queria aproveitar a oportunidade para acabar com três mitos que rondam a questão do crédito durante a pandemia da covid-19.

"Ao contrário do que temos lido, se pegarmos a data de começo das medidas do Banco Central, o crédito livre para a pessoa jurídica subiu em relação a 2019", começou Campos Neto. Ele disse que, em cenários de crise como o atual, é natural que o mercado de crédito acompanhe a queda da economia e retraia. Porém, garantiu que desta vez não foi o caso.  Isso porque, segundo o BC, a oferta de crédito para empresas cresceu 40% no Brasil desde o início da pandemia, em relação ao mesmo período do ano passado. 

O chefe da autoridade monetária também afirmou que as estatísticas não mostravam a elevação do custo desse crédito, ou seja, o aumento de juros. "O único que teve alta foi o desconto de duplicata, que é o que mais afeta as pequenas e médias empresas. E é por isso que acho que tem essa sensação de não estar sendo atendido. O capital de giro está caindo, a conta garantida está caindo, o crédito pessoa física também está caindo", declarou.

E rebateu a ideia de que os bancos privados estão reduzindo os financiamentos e que, por isso, os bancos públicos deveriam ocupar esse espaço no mercado de crédito. "Quase 80% das novas contratações foi feita pelos bancos privados", afirmou Campos Neto, mostrando que os grandes bancos privados emprestaram R$ 294 bilhões entre 16 de março e 22 de maio, enquanto os bancos públicos financiaram R$ 96 bilhões nesse período.

"Um mito que gostaria de desmistificar aqui é que o crédito está colapsando. Não é verdade. O crédito está crescendo bem, mais que a média dos mercados emergentes e mais para as pessoas jurídicas. [...] Não é verdade que o crédito está encolhendo e também não é verdade que os bancos privados estão encolhendo e que os bancos públicos deveriam fazer esse trabalho. Até agora isso não foi observado", encerrou o presidente do Banco Central.
 
 

Segmentação


Roberto Campos Neto admitiu, por sua vez, que há alguns problemas relativos à segmentação dessa oferta de crédito. É que, nesse período avaliado pelo Banco Central, as grandes empresas financiaram R$ 194,9 bilhões nos bancos privados e mais R$ 26 bilhões nos bancos públicos. Já as médias empresas conseguiram R$ 32,5 bilhões e R$ 8,5 bilhões de crédito, respectivamente. E as micro e pequenas empresas, só R$ 23,6 bilhões e 12,2 bilhões.

"Nós gostaríamos de ter atingido mais as pequenas e médias empresas. Gostaríamos de ter crescido mais o crédito", reconheceu o presidente do BC.
Ele garantiu, então, que o Banco Central está estudando formas de melhorar as medidas emergenciais que buscam destravar o mercado de crédito na pandemia do novo coronavírus e também vem incentivado a ampliação das cooperativas de crédito, que costumam ter mais relacionamento com as pequenas e médias empresas.

Campos Neto também prometeu que novas medidas de crédito seriam anunciadas em breve pelo governo. Porém, não informou quando o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) deve estar operando. E, ao falar sobre as ideias de reformulação do programa de financiamento da folha, citou medidas que beneficiam mais as grandes do que as pequenas empresas.
 
 

Famílias


Além disso, o crescimento de 40% do mercado de crédito empresarial citado por Campos Neto não reflete a oferta de crédito pessoa física, ou seja, os financiamentos que atendem as famílias brasileiras. Nesse segmento, a alta foi de apenas 8,1%.

Campos Neto alegou, por sua vez, que essa diferença diz respeito à redução do consumo das famílias e à diminuição do uso dos cartões de crédito durante a pandemia do novo coronavírus. E indicou que as famílias têm buscado mais, na verdade, pelo refinanciamento de dívidas já contraídas com o sistema financeiro nacional.

Segundo o BC, 550 bilhões de acordos de renegociação já foram feitos pelos bancos brasileiros desde que a autoridade monetária permitiu o adiamento das parcelas de financiamento bancário que venceria em meio à pandemia da covid-19. E a maior parte dessas operações (342 bilhões) foram feitos no segmento pessoa física, sobretudo através da Caixa, que permitiu o adiamento das parcelas da casa própria.
 
 

Potencial


A apresentação exibida por Roberto Campos Neto na comissão do Congresso também mostra, contudo, que ainda há um grande espaço para a liberação de crédito durante a pandemia do novo coronavírus. É que, logo no início dessa crise, o Banco Central anunciou medidas que prometiam injetar R$ 1,2 trilhão de liquidez no sistema financeiro. Até agora, contudo, só R$ 260 bilhões disso foram efetivamente implementados.

O presidente do BC lembrou, por sua vez, que a função da autoridade monetária é garantir a liquidez do sistema financeiro. Cabe aos bancos liberar o crédito. 

Saiba Mais

Falando com os congressistas, ele ressaltou ainda que os bancos podem elevar seus juros caso sejam "punidos" com medidas que afetem a remuneração do crédito. E lembrou que o Brasil precisa manter o foco no ajuste fiscal, apesar dos gastos extraordinários realizados neste ano em função da covid-19, para poder continuar com uma taxa de juros baixa depois da pandemia.

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