Os cinco maiores bancos do país concentram mais de 80% do mercado de crédito brasileiro. A informação é do Banco Central (BC), que, mesmo diante desse alto grau de concentração bancária e das queixas dos empresários de que está difícil obter empréstimos durante a pandemia do novo coronavírus, elevou a sua perspectiva para o mercado de crédito neste ano. A projeção é que o estoque de crédito agora cresça 7,6% em 2020 e não mais 4,8%, como previsto anteriormente.
A nova perspectiva para o mercado de crédito brasileiro consta no Relatório de Economia Bancária (REB) de 2019, que foi divulgado nesta quinta-feira (05/06) pelo Banco Central. "O aumento na estimativa reflete a ampliação do volume de empréstimos desde meados de março, repercutindo os impactos da pandemia. Em especial, a aceleração de concessões repercute, principalmente, a busca por recursos por parte de empresas em face à redução dos fluxos de caixa. Ressalte-se, adicionalmente, que o movimento também está influenciado pelos efeitos das medidas que abrangeram o mercado de crédito, buscando mitigar danos econômicos causados pelo surto de Covid-19", argumentou o Banco Central.
No Relatório de Economia Bancária, a autoridade monetária admite que "ao longo de 2020, o comportamento da economia brasileira e do mercado de crédito bancário será severamente influenciado pelos efeitos econômicos resultantes da pandemia de Covid-19, bem como pelas medidas adotadas para minimizá-los". E diz que esse impacto deve se acentuar nos próximos meses "em virtude da elevação de incertezas nos ambientes externo e doméstico, que se traduzem em menor perspectiva de crescimento econômico e elevação de prêmios de risco".
Ainda assim, a autoridade monetária e os principais bancos brasileiros acreditam que o estoque de crédito vai crescer mais do que o previsto no início da pandemia. As instituições financeiras ouvidas pelo Banco Central projetam um crescimento de 2,8% no saldo do crédito para as grandes empresas, que vinha caindo nos últimos anos já que essas companhias estavam se financiando diretamente no mercado de capitais, mas voltou a crescer na crise do coronavírus por conta "da busca por liquidez por essas empresas e da escassez dos recursos externos". Já para as micro e pequenas empresas, que têm reclamado da dificuldade de obter crédito durante a pandemia, os bancos projetam uma alta de 5% dos empréstimos.
No crédito para a pessoa física, contudo, houve uma redução brusca das expectativas. Segundo o Banco Central, as instituições financeiras reduziram de 12% para 6,2% a perspectiva de crescimento dos empréstimos que são oferecidos às famílias brasileiras. E a queda foi motivada, sobretudo, pelas projeções do crédito habitacional, que deve cair 0,3% neste ano, de acordo com os bancos.
Parte dessa queda se explica, contudo, pela perspectiva de alta da inadimplência das famílias brasileiras na crise do novo coronavírus. Enquanto projetam uma inadimplência de 2,8% nas grandes empresas e de 4,9% nas micro, pequenas e médias empresas; os bancos acreditam que a taxa de maus pagadores pode chegar a 5,9% nos empréstimos que financiam o consumo das famílias e a 2,3% no financiamento da casa própria. São taxas que devem elevar, portanto, a média da inadimplência associada ao crédito bancário, que foi de 2,9% no fim de 2019, segundo o Banco Central.
"Excetuando-se o crédito habitacional para PF, em todos os segmentos analisados, a mediana das expectativas e variação do saldo para 2020 é positiva, contudo, decorrente principalmente da necessidade de crédito por parte das empresas e famílias para complementar a renda que apresentou uma redução nesse período. A necessidade de renegociações, com a concessão de períodos de carência, bem como o aumento da inadimplência (que, além de não reduzir o valor do saldo devido à falta de pagamentos, gera um aumento do saldo devido à inclusão de juros) e a concessão de créditos emergenciais, também contribuem para a elevação do saldo", pontuou o BC.
Concentração
Segundo o Relatório de Economia Bancária, os cinco maiores bancos do país responderam por 83,7% dos empréstimos e 83,4% dos depósitos realizados no Brasil em 2019. Os índices, porém, são levemente inferiores aos observados em 2018: 84,8% e 83,8%, respectivamente. Por isso, o Banco Central atesta que a concentração bancária continua diminuindo no Brasil.
O Banco Central também identificou uma pequena redução no custo do crédito no ano passado. Segundo a autoridade monetária, o Indicador de Custo do Crédito (ICC) passou de 20,4% no fim de 2018 para 20,3% no fim de 2019. O spread bancário, contudo, subiu, porque não acompanhou o movimento de queda do custo de captação das instituições financeiras e porque os bancos apostaram, sobretudo, em operações que têm juros mais altos, como o cheque especial, o cartão de crédito e o empréstimo não consignado.
Por isso, os bancos elevaram a sua rentabilidade pelo terceiro ano consecutivo em 2019. O Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) do sistema bancário brasileiro subiu de 14,8% em dezembro de 2018 para 16,5% em dezembro de 2019, segundo o REB.
Pandemia
Diretores do Banco Central alertam, porém, que essa situação pode mudar devido ao impacto econômico do novo coronavírus. Eles explicam que a crise deve elevar a procura por crédito, já que afetou o rendimento da maior parte das empresas e das famílias brasileiras. Porém, ao mesmo tempo, pode reduzir a rentabilidade dos bancos e aumentar os juros que são cobrados aos consumidores, já que também deve provocar um aumento de inadimplência.
O diretor de organização do sistema financeiro e resolução do BC, João Manoel de Pinho Mello, disse, por exemplo, que é de se esperar "algum efeito das consequências econômico-financeiras da pandemia sobre a rentabilidade do sistema financeiro". E o diretor de política econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, afirma que essa crise ainda reverter a tendência de queda das taxas de inadimplência e de juros. "Com a pandemia vai ter uma mudança na tendência que estava acontecendo desde 2017. Estávamos em recuperação de uma recessão e agora entramos em outra recessão", argumentou.
Kanczuk explicou que o primeiro efeito dessa nova recessão, que provocou uma interrupção brusca da atividade econômica, é uma crise de liquidez decorrente da elevação da busca do crédito. Ele acredita, então, que o percentual do crédito em relação ao PIB do Brasil deve crescer e não por conta de um "crédito bom" que busca financiar o consumo e a ampliação da atividade econômicas, mas por um "crédito ruim" que visa mesmo minimizar os estragos causados pela pandemia no orçamento das famílias e das empresas.
O diretor de política econômica do BC ainda admitiu que neste primeiro momento é natural "as empresas grandes correrem na frente das outras para terem linhas aprovadas". Um problema que, segundo os relatos dos empresários, tem dificultado o acesso ao crédito das micro, pequenas e médias empresas, mas que o Banco Central garantiu estar trabalhando para resolver.
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