Economia

Membros do Copom têm apetites diferentes para testar limite dos juros

Copom se reúne nos próximos dias 16 e 17 para avaliar a taxa básica de juros, que já está na mínima histórica de 3% ao ano

Correio Braziliense
postado em 05/06/2020 13:45

Fabio KanczukO Comitê de Política Monetária (Copom) volta a se reunir daqui a dez dias para definir a taxa básica de juros (Selic) da economia brasileira. Porém, ainda está dividido sobre qual deve ser o limite dos juros. Afinal, a Selic já está na mínima histórica de 3% ao ano, mas, para o mercado, ainda deve cair mais para tentar minimizar os impactos recessivos da crise do novo coronavírus.

 

O entendimento divergente dos membros do Copom sobre o piso da Selic foi admitido nesta sexta-feira (5/6) pelo diretor de política econômica do Banco Central (BC), Fabio Kanczuk. Questionado sobre o assunto em live com o mercado financeiro, Kanczuk explicou que os membros do Copom têm apetites diferentes ao risco e, por isso, fazem contas diferentes sobre qual deve ser a fronteira da Selic. "Cada agente econômico faz uma conta diferente, tem um apetite ao risco diferente e isso se reflete no Copom. Os diferentes membros fazem contas diferentes, conforme o mercado vai andando", disse o diretor do BC.

 

Ele disse ainda que, por conta disso, "vai ter pontos para um lado e outros para o outro" na próxima reunião do Copom. Kanczuk ressaltou, contudo, que o cenário desta reunião será diferente das demais, já que as condições da economia e das contas públicas brasileiras se complicaram nas últimas semanas em função da crise da covid-19.

 

Kanczuk lembrou que, de um lado, a pandemia reduziu bruscamente a demanda e a renda da população e das empresas brasileiras, puxando a inflação para baixo, o que justificaria uma redução dos juros. Tanto que, como lembrou o diretor do BC, o mercado já projeta uma queda de pelo menos 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no segundo trimestre deste ano. Ele ressaltou, contudo, que, por outro lado, a dívida bruta brasileira subiu bastante, o que eleva a curva futura de juros por si só.  "Vai ter que chegar a uma conclusão a partir disso daí", concluiu.

 

O diretor disse, por sua vez, que, na sua opinião, o Brasil tem que continuar fazendo política monetária sobre a taxa básica de juros neste momento, antes de pensar em alguma outra forma de atuação. "O Brasil não está no zero lower band (juros em torno de zero). Então, deve continuar fazendo política monetária através do juro de curto prazo, da Selic, porque é mais eficaz, mais eficiente e não tem risco de distorcer a curva longa", afirmou Kanczuk

 

Queda dos juros

No início da pandemia do novo coronavírus, a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) estava em 4,25% - taxa que, para o Banco Central, deveria encerrar o ciclo de cortes de Selic. Porém, voltou a cair depois que a autoridade monetária percebeu os impactos econômicos da covid-19.

 

A Selic foi reduzida para 3,75% ainda em março, quando a autoridade monetária entendia que o coronavírus representaria um choque externo, que afetaria a cadeia global de comércio e o câmbio, mas não deveria impactar a economia doméstica brasileira. E caiu ainda mais, para 3% ao ano, em maio, quando o Copom entendeu que a pandemia também reduziria bruscamente a atividade econômica nacional.

 

Como ninguém sabe ainda o tamanho dessa queda, contudo, o Copom também indicou naquela época que um novo corte de 0,75 pontos poderia ser feito na sua próxima reunião, que está marcada para os próximos dias 16 e 17. "A conclusão do Copom era que no máximo se fazia 150 pontos ou menos do que isso. Nunca foi dito exatamente o valor. A ideia era fazer 75 pontos e 75 pontos ou menos do que isso na próxima reunião", lembrou Kanczuk nesta sexta-feira.

 

O mercado financeiro já precifica, contudo, que o corte da Selic será de 0,75 pontos percentuais. último Boletim Focus, por exemplo, mostra que a expectativa dos analistas é de que a Selic acabe o ano em 2,25%. Afinal, as projeções para a queda da inflação e da atividade econômica continuam crescendo e os juros baixos poderiam ajudar a reverter essa situação no pós-pandemia, estimulando o consumo das famílias e a retomada das empresas brasileiras. 


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