Correio Braziliense
postado em 09/06/2020 04:04
A pandemia do novo coronavírus levará a atividade econômica no Brasil a encolher 8% em 2020, prevê o Banco Mundial em relatório divulgado ontem. Uma queda dessa magnitude seria a maior em 120 anos, período para o qual o IBGE, tem dados sobre a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Na comparação com os outros países, a estimativa sobre o desempenho da economia brasileira é pior que a do Brics (além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Na América Latina, entre os emergentes, só o Peru deve ter um recuo pior do que o Brasil — de 12%.
O tombo da economia brasileira é apenas uma das inúmeras faces da “recessão severa” que o Banco Mundial antevê no cenário global por causa da covid-19. A necessidade de isolamento social obrigou diversos países a impor medidas de fechamento temporário de escolas, parques e estabelecimentos comerciais, com reflexos sobre a produção, a renda e o emprego.
Nas projeções do Banco Mundial, o “choque rápido e maciço” da pandemia e as medidas de bloqueio total para contê-la farão a economia global encolher 5,2% neste ano.
“Isso representaria a recessão mais profunda desde a Segunda Guerra Mundial, com a maior proporção de economias desde 1870 a experimentar declínio do produto per capita”, afirma a instituição na publicação Global Economic Prospects. Segundo o relatório, mais de 90% de 183 economias devem experimentar uma retração por causa da covid-19, uma proporção maior do que na grande depressão da década de 1930 (quando ficou em 85%).
A expectativa de queda para a renda per capita é de 3,6%, o que levará milhões de pessoas à situação de pobreza extrema neste ano, prevê o Banco Mundial.
No diagnóstico da instituição, o golpe afeta mais os países onde há forte dependência do comércio global, do turismo, da exportação de produtos primários e do financiamento externo. Embora a magnitude dos distúrbios varie de uma região para outra, as economias emergentes apresentam vulnerabilidades que são intensificadas por choques externos. Maior informalidade no mercado de trabalho é uma delas.
“Além disso, interrupções no sistema escolar e no acesso à atenção de saúde primária provavelmente terão impactos duradouros no desenvolvimento do capital humano”, diz o Banco Mundial.
Cicatrizes
“Trata-se de uma perspectiva profundamente desanimadora, com a probabilidade de a crise causar cicatrizes duradouras e impor grandes desafios globais", disse a vice-presidente de Crescimento Equitativo, Finanças e Instituições do Grupo Banco Mundial, Ceyla Pazarbasioglu. Para 2021, o banco fixou algumas projeções de referência, que pressupõem que a pandemia se atenue o suficiente para permitir a suspensão das medidas de mitigação do contágio pela doença até meados do ano nas economias avançadas — e um pouco mais tarde nos emergentes. Nesse cenário, o crescimento global deve ser de 4,2% em 2021, mas menos intenso no Brasil, com alta de 2,2%.
“No entanto, as perspectivas são extremamente incertas, com o predomínio de riscos no sentido descendente, incluindo a possibilidade de uma pandemia mais prolongada, instabilidade financeira e retração do comércio global e cadeias de suprimento”, reconhece a instituição.
Governo vai ampliar Bolsa Família
Em reunião, ontem, com ministros e líderes de partidos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que, após o fim da pandemia da covid-19, o governo pretende reformular o Bolsa Família, que passaria a se chamar Renda Brasil. Guedes não deu detalhes, mas afirmou que a ideia é desenhar um programa mais abrangente, incluindo trabalhadores informais beneficiados pelo auxílio emergencial de R$ 600 que vem sedo pago pelo governo para amenizar a perda de renda causada pela crise do coronavírus. De acordo com Guedes, os estudos estão sendo feitos pela área técnica do ministério. Do ponto de vista político, a intenção é desvincular o Bolsa Familia das gestões do PT.
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