Correio Braziliense
postado em 10/06/2020 04:15
Com o término, ontem, do leilão de biodiesel realizado para o bimestre de julho e agosto, com preços mais altos do que os praticados no último certame — em abril, para abastecimento em maio e em junho —, a expectativa é que aumento afetará o preço do combustível nas bombas. As distribuidoras estimam que o impacto será de R$ 0,15 por litro, a ser bancado pelo caminhoneiro, o que impactará o valor do frete. E tem ainda mais um problema: poderá faltar biodiesel para os últimos 15 dias de junho e, segundo a Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio), será necessário novo leilão para suprir nove dias de junho.Os certames de biodiesel são realizados para que o produto seja misturado ao diesel, na proporção de 12%, como determina a regra da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), para reduzir a poluição provocada pela queima de combustível fóssil –– em março do ano que vem, a proporção sobe para 13%. Os leilões são realizados para suprimento dos dois meses seguintes, com entrega marcada para o período.
Em abril, quando foi realizada a negociação para maio e junho, as distribuidoras temiam que a queda na demanda, devido à pandemia, fosse maior do que realmente acabou sendo –– está em 98% do normal. O combustível, usado em caminhões, não sofreu o mesmo impacto que a gasolina cuja procura despencou quase à metade.
Acordo
Quando houve a discussão sobre a demanda menor por diesel, a ANP reduziu a obrigação mínima de retirada de 95% pelas distribuidoras e de entrega mínima de 90% por produtores. Houve um acordo e foi estabelecido 80%. Como o uso do diesel não teve a retração estimada, pode faltar biodiesel para misturar nos últimos dias de junho.
As distribuidoras reclamaram do alto preço praticado pelos produtores, no certame que terminou ontem. Para o setor, as usinas retiveram o produto que não foi comprado, por conta da redução do índice de obrigatoriedade, e jogaram no leilão com valores que variaram de R$ 2,50 na primeira oferta até quase R$ 4 no terceiro lote. Isso, segundo as distribuidoras, impacta em até R$ 0,15 a mais o litro, considerado o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o combustível.
O diretor superintendente da Aprobio, Júlio Minelli, explicou que os produtores calcularam a redução na demanda de forma mais precisa que as distribuidoras. “Elas queriam que caísse para 50% a retirada. Os produtores refutaram. Era uma realidade para o etanol na gasolina, mas para o diesel, não. As distribuidoras estão verificando que compraram uma quantidade menor do que a que estão precisando para junho”, explicou.
Isso fez com que as indústrias de biocombustível não se preparassem para disponibilizar mais, ressaltou Minelli. “Além disso, tivemos, nesse período, variações do dólar e do custo de matéria-prima. Entregar mais produto aos preços que foram negociados há dois meses seria prejuízo. Se as distribuidoras tivessem seguido a nossa indicação, teriam comprado o certo”, assinalou.
A ANP deve realizar um leilão extra para suprir os últimos nove dias de junho. Para as distribuidoras pode faltar para os últimos 15 dias do mês. Como o que é comprado para julho e agosto só é entregue nesses meses, junho ficou descoberto. “Se a recuperação da economia ocorrer conforme espera a ANP, talvez seja preciso realizar um novo leilão também para agosto”, destacou Minelli.
O superintendente da Aprobio alertou, ainda, que os preços praticados no leilão que terminou ontem ficaram abaixo do preço de referência utilizado pela ANP, que calcula custos com matéria-prima e com logística. “Mas, praticamente, R$ 900 abaixo da referência. A participação do biodiesel é muito pequena do preço final do diesel. Há justificativa para subir, no máximo, R$ 0,02 a R$ 0,03 na bomba. As variações do dólar ou do barril de petróleo no mercado internacional têm força muito maior, porque impactam em 88%”, defendeu.
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