Economia

Temor por segunda onda de covid-19 gera pânico e Ibovespa fecha em queda

Registro de novos casos em cidades dos EUA que flexibilizaram isolamento fez bolsas internacionais despencarem

Correio Braziliense
postado em 12/06/2020 19:59
Ilustração de gráficoApós o feriado de Corpus Christi, a Bolsa de Valores Brasileira voltou a funcionar nesta sexta-feira (12/6) e registrou mais uma queda. O índice Ibovespa, principal da B3, encerrou o pregão com recuo de 2%, aos 92.795 pontos e o dólar subiu 2,13%, vendido a R$ 5,04. O resultado foi um reflexo do movimento de amortecimento que ocorre desde a última terça-feira e se acentuou na quarta-feira. Outro fator, no entanto, fez com que os mercados entrassem em pânico: o temor por uma segunda onda de casos de covid-19 nos Estados Unidos.

Na noite de quarta-feira, a mídia norte-americana noticiou um aumento expressivo nos registros de infectados em estados que reabriram comércios. Isso fez com que as bolsas despencassem. O fundo brasileiro iShares (EWZ) – o Ibovespa dolarizado –, caiu 7,84% na quinta-feira. A B3, no entanto, estava fechada para negociações por causa do feriado. Isso, segundo Rodrigo Moliterno, economista e sócio da Veedha Investimentos, fez com que o impacto não fosse seriamente sentido aqui.

"A gente não sofreu tanto isso aqui, porque era feriado. De certa forma, foi sorte, por ter sido um susto. Depois, o mercado deu uma melhorada e isso foi digerido. Como estivemos fechados na quinta, apenas corrigimos com o EWZ e passamos a acompanhar o movimento das bolsas internacionais. De forma geral, é uma realização saudável para o mercado reprocessar todos os movimentos, mas acredito que a gente ainda deva gradativamente buscar patamares mais elevados daqui pra frente, caso não haja explosão no número de infectados", avalia.

Apesar do aumento dos casos nos EUA, o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, afirmou na quinta-feira que a economia deve permanecer aberta e que o governo estuda uma nova injeção de dinheiro no mercado — o que foi visto com alívio por investidores, que passaram a especular sobre um eventual fechamento das atividades comerciais.

Já nesta sexta-feira, o Reino Unido divulgou os números do Produto Interno Bruto relativos ao mês de abril, com queda recorde. Segundo dados divulgados pelo Gabinete Nacional de Estatísticas (ONS), o PIB britânico sofreu uma queda de 20,4% em abril deste ano e triplicou a porcentagem do mês anterior, quando a retração foi de 5,4%. O resultado também foi o dobro de todo o acumulado no primeiro trimestre (10,4%).

Este é o pior resultado da série histórica que começou em 1997 e, na prática, anula 18 anos de crescimento econômico. Espera-se que a redução de abril seja a pior, uma vez que ainda em maio, houve flexibilização de parte do setor produtivo. Para Rodrigo Moliterno, é um resultado assustador, porém esperado.

"Agora que fechou o trimestre, as economias divulgarão os PIBs e essa é a tendência. Obviamente, o Reino Unido, talvez até por causa da questão do Brexit, pode ter tido uma potencialização nesse recuo. Todo o mundo está atento, mas todo mundo sabe que quedas grandes virão. É de assustar? Sim. Mas estava precificado", afirma o economista.

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Moliterno diz, ainda, que no câmbio, o movimento de valorização do dólar frente ao real também foi causado pelo receio de um novo aumento de infectados por covid-19. "Isso reflete justamente o aumento da percepção por risco. Enquanto tivermos isso, o dólar tende a ficar volátil. Não vejo o dólar depreciando a R$ 4,20 ou R$ 4,30. Nosso câmbio deve continuar oscilando entre R$ 4,80 e R$ 5,20. O mercado está com maior volatilidade, maior aversão a risco. À medida que as coisas melhorem, aí o dólar deve recuar."

No cenário doméstico, o dia teve ainda a divulgação da rodada de junho da pesquisa XP Ipespe, da XP Investimentos. Ela apontou que 48% dos entrevistados consideram pouca ou muito pouca a chance de manter o emprego nos próximos seis meses. As visões sobre os rumos da economia também foram questionados: 53% acreditam que ela está no caminho errado e 29% creem no oposto. Outros 18% não souberam ou não responderam. 

*Estagiário sob a supervisão de Fernando Jordão

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