Economia

Redução da Selic tira a atratividade de aplicações de renda fixa

Queda da taxa básica de juros para o patamar mais baixo da história tira atratividade de aplicações de renda fixa e motiva entrada cada vez maior de pessoas físicas na Bolsa de Valores. Analistas recomendam cautela

Correio Braziliense
postado em 18/06/2020 06:00

O professor de educação financeira Ricardo Rocha diz que o investidor terá de aprender a lidar com os riscos das aplicaçõesDesde que começou o atual ciclo de queda da taxa básica de juros (Selic), em julho do ano passado, investidores passaram a ver menos atratividade nos investimentos de renda fixa, pois os rendimentos se tornaram cada vez menores. Consideradas de baixo risco, em geral esses investimentos eram procurados por quem não queria colocar recursos na caderneta de poupança (pelo rendimento abaixo da inflação), e, ao mesmo tempo, não desejava assumir muito risco. No mercado financeiro, esse perfil é chamado de conservador.


O cenário, porém, mudou radicalmente. A diminuição dos juros aumentou significativamente a busca por aplicações de renda variável, e a decisão do Banco Central de cortar a Selic para 2,25% ao ano deve acelerar essa tendência, apesar da situação difícil da economia e das empresas. Mesmo antes da pandemia do novo coronavírus, já se via um grande movimento de entrada de pessoas físicas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3). De 2018 para 2019, o número dobrou, passando de 813 mil para 1,6 milhão. Em maio passado, o total havia saltado para 2,4 milhões.


Para o professor de finanças do Ibmec, Cristiano Correa, os investimentos em renda fixa desaparecerão. “Naturalmente, os investidores procuram alternativas para o rendimento. Só que é preciso avaliar o quanto se está disposto a ariscar em prol de um retorno maior. Isso é uma mudança de como o investidor pensa”, explicou.


Ricardo Rocha, professor de finanças e educação financeira do Insper, acrescenta que o investidor terá de aprender a lidar com os riscos das aplicações. “Investimentos atrelados à Selic só vão fazer sentido para aquela parcela dos recursos em que a pessoa precisa ter liquidez. Se ele for pensar a longo prazo, vai ter que procurar CDB, fundos multimercado, e, se o perfil permitir, ações”, disse.


 Rocha explicou, também, que, nos países de economia madura, investimentos de maior risco são mais comuns. Nos Estados Unidos, por exemplo, os juros estão próximos de zero. Mas nem sempre foi assim. “Em 1980, a taxa básica dos EUA chegou a 20%. Depois disso, foram caindo. Eu não acho que a Selic vai ficar em 2,25% porque o Brasil não é os EUA. Mas mesmo que estabilize entre 4 e 6% ao ano, renda fixa não vai pagar as contas, é preciso variar”, disse ele.


O movimento de entrada de pessoas na Bolsa, segundo Rocha, é positivo. Isso significa mais investimentos em empresas, o que pode gerar um círculo virtuoso de geração de empregos, novos projetos empresariais e melhorias na economia. Porém, ele alerta que, antes de arriscar, as pessoas precisam buscar informações.


“É preciso buscar conhecimento sobre os assuntos. Hoje, inclusive, temos essas empresas que aparecem para orientar investimentos, que é algo muito comum nos EUA. E eu sempre falo que as pessoas têm que ter uma fonte extra de renda, com espírito empreendedor. Toda ação empreendedora gera um excedente de caixa que você guarda. Não adianta querer fazer isso quando a crise chega, tem que ser antes”, completou.
       
*Estagiários sob a supervisão de Odail Figueiredo

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