Correio Braziliense
postado em 19/06/2020 04:04
A economia brasileira despencou 9,73% em abril em relação a março, segundo o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central (BC). O tombo é inédito e, segundo analistas, comprova que a economia bateu no fundo do poço quando a pandemia do novo coronavírus exigiu o fechamento de todas as atividades não essenciais do país. Por isso, reforçou as projeções que apontam para queda de 10% a 15% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no segundo trimestre — dado que será divulgado em 1º de setembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O IBC-Br funciona como uma prévia do PIB e é calculado mensalmente pelo BC com base em indicadores setoriais da economia, que, como vinha mostrando o IBGE, também registraram os piores desempenhos da história em abril. Só a indústria teve contração de 18,8%; o comércio, de 16,8%; e os serviços, de 11,7%.
Em março, o IBC-Br já havia recuado 5,9%. O tombo de abril é o maior da série mensal do IBC-Br. E fica ainda mais grave quando se compara a atividade econômica de abril com a do mesmo mês do ano passado: -15,09%. A retração levou a economia brasileira ao nível em que estava quase 14 anos atrás, em outubro de 2016. “Não foi nenhuma surpresa. Já tínhamos dados setoriais bem fracos. Abril vai ser o pior mês do ano, porque as atividades econômicas ficaram fechadas praticamente o mês inteiro”, ponderou Patrícia Krause, economista da empresa francesa de seguros Coface.
O dado reforçou a avaliação dos economistas de que a queda do PIB, que foi de 1,5% no primeiro trimestre do ano, deve superar os 10% e, possivelmente, chegar até a 15% no segundo. “Esse número é um reflexo direto do período de paralisação e foi bastante disseminado entre os setores da economia. Por isso, tende a comprometer o trimestre como um todo, mesmo havendo uma melhora entre maio e junho”, sublinhou a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Luana Miranda.
“A atividade pode ter um ponto de inflexão a partir de maio, com o relaxamento da quarentena. Mas, isso não afasta a hipótese de que o segundo trimestre será o pior para a economia brasileira, nem as incertezas, porque há um receio muito grande de que haja um novo aumento das infecções por coronavírus, e que isso retarde a retomada para o fim do segundo ou até para o terceiro trimestre”, acrescentou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa.
A SulAmérica calcula que o PIB vai sofrer um baque de 13,9% entre abril e junho, fechando o ano com queda de 6,1%. Já o Ibre/FGV vê contrações de 11,5% e 6,4%, respectivamente. A projeção é parecida à da Coface, que enxerga uma retração mais próxima de 10% no segundo trimestre e de 6,5% no ano.
“Só vamos recuperar o que foi perdido na pandemia no segundo semestre de 2022. Vamos sair dessa crise com um contingente muito grande de pessoas desempregadas e de empresas falidas, com o endividamento alto e muitas incertezas sobre o buraco das contas fiscais. As famílias não terão um nível de consumo elevado e os investimentos também não virão tão rápido”, destaca a pesquisadora do Ibre/FGV.
Responsável pelo IBC-Br, o Banco Central reconhece o elevado nível de incertezas sobre a recuperação da economia, e deixou isso claro, na quarta-feira, ao reduzir a taxa básica de juros (Selic) para a nova mínima histórica de 2,25% ao ano. O Ministério da Economia segue carregando projeções otimistas. Para a pasta, será possível deixar a crise do coronavírus para trás ainda neste ano. Por isso, aposta que a queda anual do PIB deve ficar em 4,7%, e não acima dos 6,5% como apontam economistas do mercado.
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