Economia

Ipea reduz projeção para a inflação de 2020 de 2,9% para 1,8%

Os alimentos, que dispararam de preço na quarentena, contudo, devem encerrar o ano com uma alta de 3%

Após registrar dois meses consecutivos de deflação devido à pandemia do novo coronavírus, o Brasil deve observar uma retomada gradual da pressão sobre os preços. Porém, ainda assim, deve acabar o ano com uma inflação abaixo da meta estipulada pelo Banco Central (BC). É o que estima o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que, por isso, reduziu de 2,9% para 1,8% a sua projeção para a inflação de 2020.

Em carta de conjuntura publicada nesta sexta-feira (18/06), o Ipea explica que "a crise provocada pela pandemia da Covid-19 está tendo um significativo impacto deflacionário, especialmente nos setores mais afetados pelo isolamento social – serviços e bens de consumo duráveis". Afinal, com o isolamento social, os estabelecimentos que oferecem esses serviços ficaram fechados e muitos brasileiros acabaram privilegiando apenas o consumo de 
bens essenciais. E a inflação, por isso, foi negativa em 0,31% em abril e 0,38% em maio.

Para os próximos meses, a expectativa é que essa taxa volte para o campo positivo, já que a reabertura gradual das atividades econômicas deve reativar parte da demanda e da pressão sobre os preços que ficou represada na quarentena. Porém, ainda assim, a taxa de inflação deve continuar baixa, segundo o Ipea. 

O Ipea explicou que, devido à crise econômica causada pelo novo coronavírus, a inflação de 2020 deve ser pensada dentro de "um cenário marcado
pelo forte recuo do nível de atividade e seus efeitos sobre a deterioração do mercado de trabalho, gerando uma descompressão nos preços de quase todos os segmentos da economia". "A expectativa de uma retomada gradual da demanda, aliada à capacidade ociosa presente na maioria dos setores produtivos e à redução dos custos de mão de obra e aluguéis, deve manter uma trajetória bem comportada para os preços dos serviços e bens livres", acrescentou.  

O Instituto projeta, então, uma baixa demanda e, portanto, uma baixa pressão sobre os preços dos bens e serviços livres, mesmo após a retomada das atividade econômica. E também projeta uma desaceleração dos preços dos alimentos, que dispararam na quarentena. Por outro lado, diz que os preços dos combustíveis e dos transportes devem recompor um pouco das perdas observadas na pandemia, devido à reacomodação dos preços internacionais do petróleo. E afirma que reajustes que foram suspensos por conta da covid-19, como o da energia e o dos remédios, podem pressionar a inflação nos próximos meses.

Ainda assim, ao considerar o peso de todos esses elementos no orçamento familiar, o Ipea reduziu de 2,9% para 1,8% a sua projeção de inflação para 2020. O índice está, portanto, abaixo do piso da meta de inflação do Banco Central, que é de 4%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. A projeção do Ipea fica, contudo, ainda é maior que a do mercado financeiro: segundo o último Boletim Focus, o mercado calcula uma inflação de 1,6% em 2020.

O Ipea alerta, por sua vez, que, mesmo no próximo ano, a inflação deve ficar fora da meta do BC, que será de 3,75%. O Instituto explicou que, como a inflação será muito baixa neste ano, deve haver uma pressão sobre os preços de todos os grupos de bens e serviços ao longo de 2021, sobretudo em combustíveis e energia elétrica. Porém, ainda assim projeta um IPCA de 3,1% para o próximo ano. 


Alimentos


O Ipea admitiu, por sua vez, que essa inflação baixa tem sido sentida de uma forma mais intensa pelos brasileiros, especialmente pelos brasileiros de baixa renda, durante a quarentena. É que, diferente dos combustíveis, dos bens duráveis e semi-duráveis e dos serviços, que ficaram mais baratos e puxaram a inflação para baixo nos últimos meses, os alimentos subiram muito de preço na quarentena. E, como nesse período de isolamento social, a maior parte das famílias tem gastado apenas com produtos essenciais como os alimentos, é essa taxa que pesa mais no bolso.

Segundo o Ipea, a inflação brasileira acumula uma taxa de 1,9% nos 12 meses encerrados em maio. A inflação dos alimentos, por sua vez, marca 8,1%, por conta dos reajustes observados nos últimos meses das carnes
(19%), aves e ovos (13%), frutas (8%) e tubérculos (6%). Só no acumulado deste ano, a inflação dos alimentos avançou 4,3%, enquanto os demais grupos de bens e serviços resultou numa deflação de 0,16%. "Essa aceleração dos preços dos alimentos pode estar impactando a inflação ao consumidor de forma ainda mais acentuada nos últimos meses, tendo em vista que as medidas de isolamento social geraram uma mudança no padrão de consumo da população não captada pela estrutura de pesos vigente", comentou o Ipea.

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Para o instituto, essa alta dos preços dos alimentos "reflete uma combinação de vários fatores, como: impacto da alta do dólar no custo dos insumos de produção, nos preços de derivados de trigo e também nas cotações
em reais dos produtos exportáveis; problemas de safra para alguns tubérculos, legumes e leguminosas; e aumento da demanda (interna e externa) por alimentos". Porém, deve perder força nos próximos meses. "A projeção de aumento de 1,5% da safra de grãos, aliada à expansão na produção de suínos, aves e leites, deve gerar as condições necessárias para o recuo no ritmo de alta dos preços dos alimentos – supondo que não haja novos movimentos fortes de depreciação cambial", explicou o Ipea.

A projeção do Ipea é, portanto, que a inflação dos alimentos que hoje está em 8,1% acabe o ano em 3%. A taxa, porém, ainda será superior à inflação geral do Brasil em 2020, estimada em 1,8% pelo instituto.