Correio Braziliense
postado em 22/06/2020 12:00
Quando Alcides da Silva, de 52 anos, começou a sentir dores e uma febre alta, ficou desesperado. Três vizinhos em Guaianazes, periferia de São Paulo, haviam morrido após contrair o novo coronavÃrus e, de uma hora para outra, o peso do desemprego que ele carrega há mais de um ano se somou ao medo do coronavÃrus. "Imagine ver as contas chegando e não poder procurar trabalho. É como olhar para os lados e não ver saÃda."
O auxiliar de limpeza viu suas chances de voltar ao mercado de trabalho ficarem ainda mais distantes quando o primeiro teste de covid-19 que fez deu inconclusivo. Ele precisa ficar em isolamento e tomando remédios. "Minha rotina virou ir ao médico. E quando se chega a uma certa idade, fica cada vez mais difÃcil trabalhar. Recebi duas cestas básicas de um movimento que faz ocupações para quem não tem casa. Todo mundo se ajuda, mas o dia seguinte preocupa."
Silva faz parte de um contingente que cresceu muito com o avanço da covid-19: o de pessoas que se tornaram indisponÃveis para trabalhar, sobretudo por terem ficado doentes ou tiveram de cuidar de alguém doente. Segundo um levantamento de Marcel Balassiano, pesquisador do Ibre/FGV, com base nos dados da Pnad ContÃnua, o número de brasileiros que estavam desempregados, mas ficaram impedidos de buscar trabalho por problemas pessoais - sobretudo por estarem doentes - saltou de 3,3 milhões no trimestre até fevereiro para 4,7 milhões até abril. São cerca de 1,4 milhão de pessoas, um aumento de 45%.
Essa alta é bem maior que a do número de desalentados, aqueles que deixaram de procurar trabalho por acharem que não iriam encontrar uma nova colocação, que cresceu 7% no mesmo perÃodo. O número inclui pessoas que não estavam disponÃveis por conta de estudos ou mulheres que ficaram grávidas. Mas a alta expressiva aponta que a saúde foi o item que mais pesou no aumento.
E a avaliação de Balassiano é que esse quadro pode ficar ainda pior. "O PaÃs já estava em uma situação muito ruim, que o novo coronavÃrus só agravou. A dÃvida pública vai para 90% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto se tenta achar saÃdas para minimizar a crise de saúde. O mercado de trabalho tende a piorar", diz.
Em maio, o Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÃstica (IBGE) fez, em parceria com o Ministério da Saúde, uma pesquisa especÃfica, a Pnad Covid-19. Como as amostras e os perÃodos são diferentes, não é possÃvel comparar a Pnad Covid com a Pnad ContÃnua, mas os números de maio revelam detalhes dos efeitos da pandemia.
Eles apontam, por exemplo, que 25,7 milhões de pessoas estavam fora da força de trabalho, mas gostariam de trabalhar. Além disso, 17,7 milhões de trabalhadores não puderam procurar emprego por causa da pandemia ou não acharam uma vaga na região em que moram. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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