Economia

Para Campos Neto, novas previsões do Banco Central ''têm viés otimista''

Ao apresentar relatório prevendo queda de 6,4% no PIB deste ano, presidente do Banco Central nega abandono de meta de inflação, admite que política monetária está e continuará expansionista e reforça a necessidade de reformas e de ajuste fiscal para os juros continuarem baixos

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, admitiu que a política monetária está expansionista e destacou que as novas previsões tentam ter um “viés otimista” do ponto de vista de retomada da economia em meio à recessão provocada pela pandemia de covid-19 no país.. Ele reforçou que o Comitê de Política Monetária (Copom) não está abandonando a meta de inflação de 2020 e ainda admitiu que o BC continuará reduzindo os juros, porque a conjuntura pede a continuidade dos estímulos monetários.

 

“Não vamos abandonar a inflação. Temos instrumentos que olhamos com ordem de prioridade. E acreditamos que a política monetária ainda tem espaço (para redução de juros)”, afirmou Campos Neto, nesta quinta-feira (26/6) durante a apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que passou a prever queda de 6,4% no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, com inflação na casa de 2% em 2020, bem abaixo do centro da meta, de 4% no acumulado em 12 meses. 

 

Na semana passada, o Copom reduziu a taxa básica de juros (Selic) para 2,25% ao ano, novo piso histórico. “Vamos olhar todos os instrumentos para atingir os objetivos”, complementou o ministro. 

 

Para o presidente do BC, a mensagem do Relatório de Inflação é que “a política monetária está estimulativa”. “A projeção atualizada tem um viés mais otimista e temos mencionado em um movimento em duas direções”, ressaltou ele, reforçando a existência de assimetria de riscos, e comparando com a previsão de retração de 9,1% do PIB brasileiro neste ano divulgada na terça-feira (23) pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). A previsão anterior do organismo, divulgada em abril, era de queda de 5,3%.

 

Na avaliação do ministro, o mês de abril o pior momento da crise econômica provocada pelo novo coronavírus, apesar de o afrouxamento da quarentena pelo país ser considerado antecipado por analistas da área da saúde, o que poderá haver uma retomada de bloqueios mais à frente. Nesse sentido, admitiu que o BC manterá a continuidade dos cortes na Selic, como informou o comunicado do Copom. “Entendemos que estamos em um sinal de melhora nos indicadores e na confiança. E a economia pede uma taxa que seja altamente estimulativa”, afirmou.

 

Fator medo 

Apesar de traçar uma melhora dos indicadores econômicos para os próximos meses, o Banco Central (BC) admite que o fator medo, criado pela pandemia do novo coronavírus, deve pesar por um bom tempo na economia brasileira. E esse componente pode tanto segurar o consumo das famílias, quanto exigir novos investimentos e adaptações de segurança das empresas, segundo Roberto Campos Neto. “O fator medo vai estar com a gente por algum tempo, ou até ter uma vacina ou uma cura fácil e ampla ou pelo menos até parte do ano que vem", afirmou o presidente do BC.

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Campos Neto reforçou a mensagem da ata do Copom, divulgada ontem, em que destaca a necessidade da continuidade da agenda de reformas e de medidas de ajuste fiscal para que os juros continuem no patamar atual. “Se a convergência fiscal ficar desestabilizada, teremos juros diferentes do que atualmente temos hoje”, alertou.

 

Auxílio emergencial

Segundo Campos Neto, o auxílio emergencial é um dos fatores que pode permitir um tombo menor do PIB do Brasil em 2020. Ele explicou que o benefício aumentou a massa de rendimentos brasileira e disse que isso pode ajudar a estimular o consumo nos próximos meses. "Pode ter uma concentração de renda disponível, sendo um elemento incentivador de consumo", pontuou.