Economia

Aumento da desconfiança faz dólar voltar a ficar perto de R$ 5,50

Em meio ao avanço de casos de covid-19 pelo mundo e das incertezas sobre a retomada da economia brasileira, Bolsa cai mais de 2% e dólar fecha com valorização de 2,36%, cotado a R$ 5,464

Correio Braziliense
postado em 26/06/2020 17:34
Em meio ao avanço de casos de covid-19 pelo mundo e das incertezas sobre a retomada da economia brasileira, Bolsa cai mais de 2% e dólar fecha com valorização de 2,36%, cotado a R$ 5,464A ficha está caindo e não há mais como escapar da realidade de que a economia não vai se recuperar tão rápido da recessão provocada pela covid-19, mesmo com o afrouxamento da quarentena. Não à toa, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3), voltou a registrar perdas nesta sexta-feira (26/06), ficando abaixo de 94 mil pontos, acompanhando o aumento das incertezas no mercado externo em relação ao processo de retomada e ao aumento de casos nos Estados Unidos. 

Como reflexo desconfiança crescente em relação aos países emergentes, o Brasil, que vem dando sinais de que não vai conseguir frear o aumento de gastos públicos para conter os efeitos da pandemia, o real mingou frente ao dólar, acabou sendo negociado perto de R$ 5,50.

Nem a intervenção do Banco Central, que realizou dois leilões de contratos de swap cambial, totalizando US$ 1,5 bilhão, foi capaz de segurar a alta do dólar. A divisa norte-americana o pregão o dia com alta 2,36%, cotado a R$ 5,4634para a venda.

O otimismo do início do ano com a Bolsa parece não conseguir se sustentar, pois a economia já não dava sinais de que poderia crescer em um ritmo forte, mesmo antes da chegada do novo coronavírus ao país. Apesar das altas recentes, o Índice Bovespa, principal indicador da B3, encerrou o pregão com queda de 2,24%, a 93.834 pontos. No acumulado do ano, o tombo foi de 18,8%. 

Apesar de o Banco Central sinalizar a continuidade no corte da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 2,25% ao ano, o que obriga o investidor a se arriscar no cassino da Bolsa, os estrangeiros continuam batendo em retirada do país. 

Conforme dados da B3, até o último dia 24, o volume de saída de não-residentes da B3 totalizou R$ 85,4 bilhões. Esse volume é recorde no ano e é praticamente o dobro da volume de saída do ano passado, de R$ 44,6 bilhões. 

“Ocorreu um otimismo exagerado, sobre a força e a velocidade da retomada da economia no fim de maio e em junho. Investidores assumiram que era apenas reabrir o comércio que todos os problemas ficavam para trás, o que não está se mostrando tão real. Nos Estados Unidos o número de contágios está batendo recordes e o Brasil acaba afetado, pois a maior economia do mundo indo mal afeta o restante”, destacou Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. Para ele, o câmbio e a Bolsa devem continuar com bastante volatilidade nos próximos meses. “Está muito incerto como será a retomada da economia brasileira, e isso pode fazer o dólar passar de R$ 5,5”, apostou.

Para Cruz, como o Brasil vem atravessando várias crises políticas, agora, “a instabilidade é o normal”. “Alguns investidores estrangeiros foram questionados sobre investir no Brasil, agora que aprovaram o Marco do Saneamento, mas eles citaram essa incerteza constante como algo que segurava os investimentos”, complementou.

Segundo o economista Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora de Câmbio, a desvalorização do real é sinal da volta da aversão ao risco aos países emergentes nos mercados. “Após deixar a crise da pandemia do coronavírus em um plano secundário, o mundo, a partir dos Estados Unidos e, naturalmente, o Brasil, retomam a realidade da relevância da crise”, destacou. Ele lembrou que o quadro ainda pode piorar, porque as novas estimativas do MTI, que previu o país chegando a 50 mil mortes em junho, são de 100 mil óbitos em julho. “A crise deve avançar firme pelo segundo semestre no Brasil e o governo terá dificuldade para manter os so planos emergenciais”, reforçou.

Pedágio caro

Nesta sexta-feira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) fez um alerta sobre o avanço da pandemia na América Latina e no Caribe, que está se tornando o epicentro de contágio global, e, portanto, deverá pagar um pedágio caro por conta disso. De acordo com as novas estimativas do organismo multilateral, que apresentou dados atualizados para a região, a retração do PIB da AL e do Caribe será de 9,4% neste ano, a maior recessão da história. 

Pelas novas projeções do Fundo, o Produto Interno Bruto (PIB) o PIB do Brasil vai encolher 9,1%, neste ano, bem acima da previsão de abril, que estimava recuo de 5,2%. Ontem, o Banco Central revisou as expectativa para o PIB deste ano, passando de estabilidade para um tombo de 6,4%, em linha com as previsões do mercado.

Na avaliação de Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, os números do FMI “talvez estejam exagerados”. Ele prevê queda de 6,5% no PIB deste ano. “Entretanto, a despeito das evidências de que podemos ter surpresas positivas quanto ao nível de crescimento, temos que admitir que não há como descartar um cenário como traçado pelo FMI. Até agora temos bem mapeado o tamanho do estrago, mas temos muitas dúvidas quanto ao ritmo da recuperação. O Banco Central parece estar no mesmo barco. Usando a palavra “incerteza” como uma medida da certeza dele com relação aos seus cenários”, afirmou ele que prevê apenas mais um corte na taxa básica de juros, de 0,25 ponto percentual, para 2% ao ano, como um sinal de cautela do BC.

Conforme as novas estimativas do FMI, diante da perspectiva de piora no quadro fiscal devido às medidas emergenciais contra os efeitos da pandemia, o Brasil não vai conseguir conter a explosão da dívida pública bruta, que deverá ultrapassar 100% do PIB ainda neste ano e devendo manter nesse patamar em 2021. O economista para América Latina da Capital Economics, Quinn Markwith, não vê sinais de uma recuperação rápida da economia na região, principalmente, do Brasil e ele levanta dúvidas sobre a capacidade dos governos conseguirem conter o aumento desenfreado de gastos para conter a crise e sinalizou duvidar que a austeridade fiscal conseguirá ser politicamente sustentável.

As novas previsões da Capital apontam para queda de 8% no PIB do Brasil, neste ano, tombo semelhante ao do México. A consultoria britânica prevê retração de 7,9% no PIB da América Latina. Para Markwith, os dados recentes de atividade econômica do Brasil mostram que “a recuperação é fraca e desigual” entre os setores e há uma tendência de piora nas projeções devido aos riscos “ligeiramente altos”. “No geral, enquanto os gastos e construção do varejo parecem estar fazendo uma recuperação relativamente rápida, a maioria dos setores manufatureiros ainda está atrasada”, destacou.

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