Economia

Ibovespa fecha semestre com queda de 17,8% e alta no dólar de 35,6%

Primeira metade do ano foi marcada pela grave crise financeira causada pela pandemia e pela insegurança política no cenário nacional. Investidores temem por uma segunda onda de contágios, mas acreditam que o pior já passou

Correio Braziliense
postado em 30/06/2020 20:57
Primeira metade do ano foi marcada pela grave crise financeira causada pela pandemia e pela insegurança política no cenário nacional. Investidores temem por uma segunda onda de contágios, mas acreditam que o pior já passouNo último pregão do semestre, nesta terça-feira (30), o índice Ibovespa fechou em queda de 0,71% aos 95 mil pontos. No mês de junho, as altas na bolsa somaram 8,76%. Resultado muito diferente dos 63 mil pontos em março, quando a pandemia do coronavírus de fato chegou ao Brasil e atingiu o mercado financeiro em cheio. A queda acumulada no semestre foi de 17,8%. 

Depois do tombo, a recuperação veio devagar, em linha com as bolsas internacionais, que foram impulsionadas por grande liquidez causada por incentivos fiscais de Bancos Centrais pelo mundo. O fechamento de comércios nos principais países para promover o isolamento social foi a decisão mais eficaz no combate ao vírus e é defendida por especialistas até o momento. Mas os impactos na economia mundial foram e continuam sendo gigantes. 

Nem mesmo o mais famoso circo do mundo, o Cirque du Soleil, escapou de pedir recuperação judicial, em seu país sede, o Canadá. Entre as grandes empresas, a Avianca Holdings foi outra a apelar para tentar salvar suas operações. O pedido foi aprovado pelo governo americano. Ela é um exemplo do que a pandemia fez com o setor aéreo, gravemente prejudicado.

No cenário internacional, além da crise causada pelo vírus, as tensões entre Estados Unidos e China deixaram investidores preocupados com a "saúde" do acordo comercial entre as duas potências. Após várias trocas de farpas e ameaças, o governo norte americano garantiu que ele está intacto. Mas Trump não foi o único a comprar briga com os asiáticos.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), um dos filhos do presidente da república, responsabilizou a China pela pandemia em seu Twitter, o que gerou crises diplomáticas com aquele que é o maior importador de produtos brasileiros do mundo. Essa foi apenas uma das crises políticas no governo este semestre, que teve ainda atos antidemocráticos endossados pelo presidente Jair Bolsonaro, que desrespeitou regras sanitárias e relativizou a gravidade do coronavírus – o que causou atritos que resultaram na demissão do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta na pior fase da crise até então. 

Um mês depois, a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública, após alegar tentativas de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal para proteger sua família, abalou a confiança internacional no mercado brasileiro. A tensão fez o dólar subir e perdurou até a divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, em que o presidente falou sobre interferir na PF. Mas, ao contrário do que se imaginava, a liberação do vídeo trouxe calma aos investidores, que não viram motivos a curto prazo para um eventual impeachment.

Já o dólar, que fechou esta terça-feira (30) vendido a R$ 5,44 e alta de 0,27%, chegou a encostar nos R$ 6 em maio. O câmbio teve alta volatilidade nos últimos meses. No primeiro semestre, a alta total foi de 35,6%. Quando a reabertura da economia começou em vários países do mundo, no início de junho, e a Ibovespa pegou impulso, o dólar recuou para abaixo de R$ 5. Mas acabou subindo novamente e ficando na média.

A taxa básica de juros, a Selic, sofreu quatro cortes apenas este ano, sendo que estes foram mais altos com a chegada da crise. Desta forma, a renda fixa, que já havia deixado de ser a opção de investimento preferida entre grande parte dos investidores desde o ano passado, perdeu ainda mais atratividade. Com juros baixos, muitos passaram a tomar mais risco para conseguir mais rendimento. Em maio, segundo a B3, o número de investidores pessoa física na bolsa brasileira atingiu a marca de 2,48 milhões.

O economista Álvaro Villa, da Messem Investimentos, destaca que, no último dia do mercado financeiro no semestre, houve bastante volatilidade. O dia foi marcado por dados do desemprego no Brasil divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que indicaram que a taxa de desocupação superou o de ocupação pela primeira vez.

Em sua avaliação, para o mercado financeiro, a visão é de que a pior parte da crise causada pela pandemia já passou. "Nossa visão é de que o vírus já é um problema relativamente no passado. A gente não espera que vai ter uma abertura econômica muito grande, mas também acho que que veremos lockdown, a não ser que tenha uma piora muito grande o que eu acho pouco difícil em curto prazo", disse.

Já o economista Gustavo Bertotti, vê muita apreensão no mercado por conta do aumento no número de infectados, algo que está diretamente ligado à reabertura da economia em vários lugares, especialmente nos Estados Unidos. "Tivemos um mês com uma volatilidade bem grande, muito voltado à flexibilização e retomada das grandes economias como os Estados Unidos e países da Europa. Isso vem dando o tom dos mercados, mas também foi um mês marcado por um aumento da aversão ao risco em cima da apreensão por uma segunda onda de contágios. Isso também causa apreensão de investidores mercado", pontuou.


*Estagiários sob a supervisão de

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags