Economia

Queda foi interrompida, mas indústria continua no fundo do poço

A melhora do desempenho é explicada pelo afrouxamento das medidas de isolamento social em função da pandemia de covid-19

Apesar de registrar crescimento de 7% em maio, na comparação com abril, interrompendo dois meses consecutivos de queda, a produção industrial brasileira ainda não saiu do fundo do poço, na avaliação de especialistas. Em abril, o tombo foi recorde, de 18,8%, após o recuo de 9,2% em março, ambos na base de comparação com o mês anterior.

A melhora do desempenho em maio é explicada pelo afrouxamento das medidas de isolamento social em função da pandemia de covid-19, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, o resultado ainda coloca a produção industrial total 34,1% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011, destacou o órgão.

Os dados fazem parte da Pesquisa Industrial Mensal (PMI), divulgada ontem pelo IBGE. Eles ainda mostram queda forte, de 21,9%, na produção nacional em comparação com maio de 2019. Foi o segundo pior resultado da história, superando apenas o tombo no mês anterior, de 27,3%.  

“Nunca saímos do poço da recessão de 2015 e 2016, e de 2014 a 2016, no caso da indústria. Dificilmente sairemos rápido e há risco de piorarmos ainda mais o perfil da recuperação, que já era fraca desde 2017”, destacou o economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Para ele, ainda não é possível descartar retração na produção no segundo semestre.

Na avaliação de José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, o crescimento da indústria em maio refletiu a flexibilização de medidas para conter a disseminação do novo coronavírus. Ele destaca que a recuperação não é homogênea nos setores produtivos. “O dado animou, com gente até reduzindo a chance de nova queda na Selic (taxa básica da economia). De fato, há indicadores se comportando melhor do que o esperado, mas isso não significa que um ritmo mais forte seja suficiente para pressionar a demanda no horizonte visível e puxar a inflação”, destacou.

Desempenho
O resultado de maio foi o melhor para o mês de toda a série histórica e o mais elevado desde junho de 2018, quando a PMI registrou alta de 12,9%. No entanto, o desempenho não foi suficiente para reverter a queda de 26,3% entre março e abril devido ao fechamento das fábricas e ao isolamento social. De acordo com o IBGE, os dados de maio na comparação com abril ainda mostram que o crescimento foi generalizado em 20 dos 26 ramos pesquisados. Entre as atividades com resultados mais positivos, a produção de veículos automotores, reboques e carrocerias teve destaque com crescimento de 244,4%.  

Apesar de crescer 38,7% em maio na comparação com abril, a produção de bens de capital encolheu 39,4% em relação a maio de 2019. Enquanto isso, a produção de bens duráveis saltou 92,5% sobre o dado de abril, mas recuou 69,7%, na comparação com o quinto mês do ano passado, puxado pela queda de 86% na produção de automóveis.