Correio Braziliense
postado em 03/07/2020 15:17
A velocidade de recuperação da atividade econômica brasileira no pós-pandemia será fundamental para o rumo da taxa básica de juros (Selic). Foi o que indicou o diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Fábio Kanczuk, nesta sexta-feira (03/07).O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC já fez três cortes na taxa básica de juros desde o início da pandemia de covid-19. A Selic foi reduzida de 4,25% para a nova mínima histórica de 2,25% ao ano, em uma tentativa do Copom de estimular a atividade econômica no pós-coronavírus. Porém, na última reunião, no mês passado, o Copom indicou que mais um corte ainda poderia ser feito, desde que residual. Por isso, hoje os analistas debatem se a Selic continuará em 2,25% ou pode cair para 2% até o fim do ano.
Questionado sobre o assunto em live com o mercado financeiro nesta sexta-feira, Fábio Kanczuk disse que essa decisão vai levar em conta o ritmo da recuperação econômica e o seu impacto para a inflação de 2021. "Agora, o Copom está mais de olho nos dados da atividade do que esteve nos meses anteriores. Primeiro, era uma questão de liquidez que chamou atenção. E depois o tamanho da crise, com a projeção do PIB caindo de 2% para -6,4%. Se pensarmos em termos de política monetária, foi feito um ajuste grande. Agora, é uma coisa mais gradual. Deixa ver se os dados surpreendem para um lado ou para o outro", afirmou Kanczuk.
Ele disse, então, que a discussão que vai ficar cada vez mais relevante no Copom será o ritmo da retomada econômica no pós-coronavírus. Como afirmou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no Correio Talks dessa quinta-feira (01/07), os dados econômicos de junho indicam que a recuperação começou de forma acelerada, em V. Porém, o BC acredita que deve haver uma suavização dessa curva de crescimento nos próximos meses. E, por isso, quer ter certeza do ritmo dessa recuperação antes de tomar mais uma decisão sobre a Selic.
"Essa recuperação, pelo menos o início dela, será mesmo em V ou não? Para o cenário básico do Copom, a letra mais adequada não é um V, um L ou um W, mas um swatch. No início, dá uma volta firma e depois dá uma volta mais suave, como um símbolo de check", comentou Kanczuk. O diretor do BC disse, porém, que ainda há dúvidas sobre se essa recuperação vai se dar tanto pelo lado da demanda, quanto da oferta agregada. Afinal, espera-se que o desemprego continue alto no Brasil por um tempo. Por isso, a atenção do BC.
Kanczuk lembrou ainda que, mesmo com toda essa preocupação, o principal foco das decisões de política monetária do BC será a inflação. Ou seja, até que ponto essa atividade vai deixar a inflação perto da meta em 2021. Em 2021, lembrou o diretor do BC, porque as decisões de política monetária levam um tempo para surtirem efeito na economia. E para 2020, diante da crise do novo coronavírus, já há um consenso de que a inflação ficará abaixo da meta.
"O foco está na atividade agora, mas pensando na inflação de 2021. É como se tivesse um tempo de resposta da política monetária que tem que decidir apertar o botão agora, mas o efeito disso vai ser daqui a aproximadamente um ano e meio ou algo assim", lembrou Kanczuk.
Ele comentou ainda que, apesar de ter apontado uma inflação abaixo da meta em 2021 na ata da sua última reunião, o Copom acredita que ela ficará mais perto da meta. Ele explicou que o cenário básico do Copom, diante do atual nível de atividade e de estímulo econômico, é de uma inflação de 3,2% em 2021. Porém, o Comitê acredita que essa taxa pode ficar mais próxima da meta de 3,75% por conta de alguns "riscos altistas" que não podem ser medidos ainda.
Saiba Mais
Ele destacou também que nenhum desses cenários prevê uma nova onda de contágios por coronavírus no Brasil. E admitiu que, havendo uma segunda onda da pandemia, o risco seria diferente, pois puxaria a inflação e a atividade econômica para baixo novamente.
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