Economia

Brasil vive momento importante para corrigir erros em seus portos

Aureo Emanuel Pasqualeto Figueiredo, diretor da Faculdade de Engenharia da Unisanta, PDZ precisa passar por ajustes

Correio Braziliense
postado em 06/07/2020 06:00
Aureo Emanuel Pasqualeto Figueiredo, engenheiro, doutor e diretor da Faculdade de Engenharia da Universidade Santa CecíliaMaior terminal portuário da América Latina, o Porto de Santos fica na baixada santista, cercado pela Serra do Mar, com 800m de desnível e completamente integrado à cidade de Santos. Não à toa, é um enorme desafio logístico promover a ampliação do acesso ao porto e das retroáreas para armazenagem. Por isso, está em curso o Plano de Desenvolvimento e Zoneamento (PDZ) do Porto de Santos. Mas, como vem sendo promovido e acelerado pelo Ministério da Infraestrutura, o PDZ corre o risco de endossar equívocos perigosos, alerta Aureo Emanuel Pasqualeto Figueiredo, engenheiro, doutor e diretor da Faculdade de Engenharia da Unisanta.

Segundo o especialista, o PDZ deveria ser uma oportunidade de corrigir erros do passado. "O que o PDZ quer fazer, neste momento, é colocar armazéns de fertilizantes perto da área mais habitada da cidade. Isso é uma medida discutível. A região, que era de mangue, de orla de um estuário, foi incorporada ao porto para que fossem construídos armazéns, isso também é outro objeto de questionamento jurídico", defende.

Pela lógica que existe no Porto de Santos, diz Figueiredo, entram do exterior fertilizantes, que vão para lavoura adubar o agronegócio pujante do país, e chega do interior grande quantidade de grãos. “O problema é que o Porto de Santos tem extensa área de contato com o mar, mas a cidade foi espremendo o terminal, restringindo a área de retroporto essencial para ter uma boa operação. Na extremidade, é preciso cruzar uma imensa área urbanizada.”

"Cidade e porto são mais do que gêmeos. São siameses e têm uma única coluna vertebral e um sistema de alimentação comum. Não podem brigar um com o outro", alerta. "Quando se está fazendo o PDZ é o momento de corrigir os erros do passado, e não de aumentá-los", diz. Santos é um porto de multicargas, de produtos classificados, com dois tipos de granéis: os líquidos, que são combustíveis e podem apresentar emissões, emanações de gases, explosivos e manchas órfãs; e sólidos, finos em suspensão, com facilidade de explosão. "Esse tipo de alocação causa diversos transtornos", explica.

Perigos à vista

A característica do porto é um desafio para a tecnologia, pontua Figueiredo. "Precisamos de equipamentos para buscar soluções. A lógica da prevenção é fugir dos riscos ou controlá-los", ressalta. Ele alerta que, de um lado da rua, há casas, universidades e hospital e, do outro, o porto. "Desce 1 milhão de pessoas por ano, na temporada de verão, dos navios. É uma questão de bom senso discutir isso. É uma coisa tosca o terminal de fertilizantes ficar ali. Não há o menor conforto para os turistas. É um desafio para a engenharia", reforça.

Para reiterar a necessidade de maior discussão antes da implementação do PDZ, às pressas, como quer o MInfra, Figueiredo recorda a série de incêndios que ocorreram nos armazéns em 2013, 2014 e, o maior deles, em 2015. “O que se busca é um meio ambiente sustentável, seguro, hígido, legal. Todo mundo quer o melhor”, pondera.

A localização do porto é um desafio por si só, diz o especialista. “Há 150 anos, quando foram implantadas as ferrovias, quem as construiu teve um olhar de futuro, para além de 100 anos. É a visão que precisamos adotar agora”, argumenta. No auge da safra, 15 mil caminhões chegam a Santos por dia, enquanto as ferrovias transportam menos de um terço da capacidade nominal. “Nós temos um estudo para transportar cargas para o porto por hidrovia e dutovia”, acrescenta.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags